A ideia de recolher e capturar os Microrganismos Eficientes de Mata ( M.E.M.) popularizou-se a partir dos ensinamentos da Korean Nature Farming criada pelo Dr. Han Kyo Cho e hoje espalhou-se pelo mundo, notadamente pelas Américas Central e do Sul onde diversos vídeos hoje podem ser acessados via You Tube mostrando inúmeras formas e receitas do seu preparo.
Nas décadas de 80 em diante ficou bastante difundido, aqui no Brasil, o uso de um preparado denominado E.M. – 4 ( Efficient Microorganisms ) introduzido pela Igreja Messiânica e pela Fundação Mokiti Okada, via os ensinamento do Dr Teruo Higa, na época, professor de Horticultura da Universidade de Okinawa, no Japão.
Ainda hoje, esse mesmo produto ainda é comercializado pela Korin Meio Ambiente sob o nome de EmBiotic e pela Ambiem, da Bahia, sob o nome de EM-1. Mas, ao que tudo indica esse consórcio não mais contempla a inclusão do Rhodopseudomonas palustris sob a alegação de que “ele existe em todos os lugares” coisa que eu acho difícil de acreditar .
A receita abaixo foi adaptada de diversas outras receitas existentes na internet. porém já foi muito testada aqui no Brasil várias vezes e durante vários anos e tem funcionado perfeitamente. Eu notei um aumento significativo no tempo de vida útil desse preparado e atribuo essa melhoria ao emprego do Pó de Carvão. Outra característica importante é que a contagem de células do preparado liquido final atingiu a casa dos 100 milhões de células ( 10 a 8 ) contra apenas centenas de células ( 10 a 3 ) dos preparados que existem no mercado, os quais nós fizemos a contagem de células em nosso laboratório próprio.
Receita para preparar 200 litros de M.E.M. sólido:
I – 50 litros de Terra de Floresta (SERRAPILHEIRA) de preferência com micélios brancos e verdes. Evitar micélios de outras cores como vermelho, laranja, cinza e preto. Pode-se estimular o aparecimento de micélios brancos e verdes na serrapilheira com o auxilio de farelo de aveia, trigo ou arroz polvilhando-os sobre a serrapilheira e esperando de 5 a 7 dias em épocas úmidas. Esse material poderá ser substituído pelo CAPTURADO de farelo de arroz + pó de carvão + Humisolve pó que se coloca também por 7 a 10 dias dentro de sacos com malha de 500 micras no meio da mata e debaixo da serrapilheira.
II – 50 litros de FARELO de ARROZ. Pode ser tentado o uso de Farelo de Trigo ou até mesmo de Aveia. Dar preferência ao Farelo de Arroz devido a sua parte oleosa que é muito apreciada pelos fungos de solo.
III – 50 litros de CARVÃO EM PÓ. Esse ingrediente, que não aparece nas outras receitas, provou ser de extremo valor pois diminui em muito a chance do preparo se estragar e observei que melhora muito a conservação do fermentado sólido. Tenho MEM sólido que duraram até 2 anos em perfeito estado de conservação.
IV – 50 litros de SERRAGEM de PAU PODRE, de madeira de floresta de galhos e troncos semi decompostos ( conhecido como Pau Podre)
V – 5 Litros de LEITE CRÚ. Sugiro reforçar com bactérias láticas tipo Lactobacillus sp., Bifidobacterium sp., ou até mesmo Yogurt natural e Yakult. Quanto mais diversidade de lactobacillus melhor.
VI – 5 litros de MELAÇO LIQUIDO ou qualquer outra fonte de carboidratos como Melaço em pó ou açúcar mascavo.
VII – 200 gramas de LEVEDURA. Usar uma dessas estirpes de levedura que se usa para alimentação animal (Levumilk) ou Leveduras para fazer pão desse tipo que se encontra nas padarias e supermercados.
VIII – ÁGUA – O objetivo final é alcançar 40% de umidade. Importante ressaltar que a água não poderá ser clorada. Se quiser substituir a agua por Soro de Leite, sem sal, é ainda melhor.
PREPARO
Misturar Levedura (fermento), Água, Leite Cru (Não pasteurizado), Lactobacillus e melaço liquido e depois umedecer homogeneamente os ingredientes secos. Querendo poderá reforçar com um pouco de Kelp liquido ou em pó (20 gramas ou 50 ml)
Caso a mistura não atinja os 50% de umidade (reconhecível quando se espreme a mistura entre os dedos e a agua chega a aparecer entre os dedos mas que não chega a pingar) deve-se acrescentar mais agua sempre com o cuidado para que não ultrapasse os 50%. Quando se aperta a mistura com o punho (mão) fechado, ela deve ficar agregada mas nenhum excesso de agua poderá escorrer por entre os dedos. Dica: Em se tratando de umidade é sempre melhor tê-la de menos do que demais.
Eu recomendo primeiro misturar o Capturado ou a Serrapilheira com o Farelo de Arroz, o Carvão em pó e a Serragem de pau podre, bem misturados e só depois, então, ir adicionando aos poucos a parte liquida composta de Melaço liquido, Água, Leite ou Soro (se for o caso ), Lactobacillus, Leveduras, Kelp e Humisolve, e testando sempre a umidade da mistura, lembrando que é sempre melhor tê-la de menos do que demais.
COLOCAR TUDO EM UM RECIPIENTE, de preferência aquelas bombonas plásticas de cor azul usadas na embalagem de azeitonas importadas e compactar bem como se estivesse fazendo uma silagem. Pode-se usar um tronco de madeira e socar a mistura para expulsar bem o ar da mistura. Após a compactação fechar para evitar a entrada de ar. As bombonas plásticas de boca larga permitem uma melhor compactação.
Um dos segredos do preparo é fazer uma boa compactação para termos um ambiente propício para a fermentação anaeróbica. Procurar não deixar nenhum espaço vazio entre o material e a tampa do recipiente.
A fermentação normalmente não forma nenhum tipo de gás e se processa em 21 dias mas pode-se deixar essa fermentação pelo tempo que se quiser. Eu já cheguei a deixar até por 2 anos.
Ao abrir o recipiente, após o mínimo de 21 dias, você deverá sentir um aroma agradável de pão, cerveja ou até mesmo de vinho. Geralmente observa-se o crescimento de mofo branco por sobre toda a mistura.
Se o cheiro for ruim significa que a mistura estragou por algum motivo (provavelmente por entrada de ar ou falta de vedação e, o mais comum, por excesso de umidade na mistura) e precisa ser descartada em uma pilha de composto ou diretamente no solo.
O produto bem fermentado poderá ser conservado por 6 meses até 1 ano, mas eu tenho preparados que duraram mais de 2 anos dentro do próprio tambor. Esse preparado, se for seco, também dura bem mais. Para isso é preciso secá-lo em camada fina revolvendo-se periodicamente. A secagem tanto pode ser no sol como na sombra.
Para produzir o M.E.M. liquido em tambores de 200 litros :
Sete quilos da parte da mistura sólida seca ( M.E.M. sólido) para 200 litros de água sem cloro e sete quilos de melaço liquido. Esperar 15 dias antes de utilizar. Usar sempre agua não clorada. Ao abrir o tambor, após os 15 dias, notará uma camada sobre-nadante de cor branca na superfície da agua.
Esse liquido equivale em potência (na verdade é sempre mais forte) aos produtos comerciais encontrados no mercado. Deve ser usado como os E.M.s comerciais, isto é ser previamente ativado com melaço e água esperando-se um período de 24 horas, sempre no esquema de 1:1:20 ou seja 1 litro de EM liquido: 1 litro de Melaço Liquido : 20 litros de agua.
FONTES
permaculturenews.org/2012/02/04/how-to-prepare-a-beneficial-microorganisms-mixture/
Fundesyram – El Salvador – Juan José Paniagua – You Tube
Clusa – El Salvador – You Tube
La Recéta de René – Cuba – You Tube
Me esqueci de mencionar no texto que caso queiram acrescentar o produto BioSimphony da ENZIMAC na preparação do MEM sólido, ele supostamente tem a bactéria Rhodopseudomonas palustris o que ajuda a construir o consórcio original, isto é, Rhodopseudomonas sp., Leveduras e Bactérias Lacticas. Nesse caso eu colocaria uns 100 ml dissolvidos na mesma agua que os demais ativadores, i.e. Levedura, Lactobacillus, Melaço Liquido, Kelp e Humisolve.
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Olá Dr. Primeiramente agradeço pela disponibilidade desse conteúdo riquíssimo.
Uma dúvida, a sigla PSB no BioSymphony quer dizer Phosphate Solubilizing Bacteria ou Photosynthetic Bacteria?
Você sabe dizer se consigo capturar essa bactéria e mante-la ao abrigo do sol por muito tempo?
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Boa Tarde
Das conversas que tive com o criador do BioSymphony, que recebeu essa formula do Prof. Kobayashi do Japão, via seu falecido pai,
ficou a impressão de que PSB significa mesmo a nossa Rodopseudomonas palustris e, nesse caso, Bactéria Fotosintetizadora e também solubilizadora de fosforo de forma que isso não faz muita diferença
Ela é a grande maestra dessa orquestra biológica e faz parte do que eu chamo de MAS ( Microrganismos Antioxidantes Sintrópicos ).
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Amigo Dr Viangre agradeço-o pela sua sempre disponibilidade e generosidade em ajudar-nos com seu precioso conhecimento.
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Realmente Dr José Garcia, este é um preparado de excelente composição biológica. Grato pelo compartilhamento. Estarei disponibilizando para o o Grupo do Curso de Agricultura Biológica em Pindamonhangaba, nos dias 12 e 13 de janeiro de 2019.
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Bom dia professor.
Estive no seu curso em Pindamonhangaba, fiquei ainda mais impressionado com a generosidade em compartilhar todo esse conhecimento conosco, muito obrigado.
Gostaria, se possível, de fazer algumas perguntas: pelo que entendi os fungos não crescem muito bem em meio líquido, no momento de transformar o EM sólido em líquido não perderemos os inóculos de fungos da madeira podre? Ou o problema do meio líquido para os fungos é quando ele passa pelo motor da bomba? Se na hora de aplicar, o EM passar pelo motor da bomba de irrigação eu vou perder os fungos ou o motor apenas atrapalha na reprodução desses?
Muito obrigado
Abraço
Fábio Ribeiro.
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OI Fábio,
Fico satisfeito que vc gostou do curso.
Os fungos são organismos aeróbicos. Precisam de oxigênio para se multiplicar.
Em meio liquido vc teria de agita-los de forma não tão vigorosa como fazemos com as bactérias.
Bactérias gostam mais de Rock Pauleira. Já os fungos curtem mais uma valsa.
Em laboratório multiplicamos em frascos do tipo Erlenmeyer com agitação.
Em escala maior eles já estão fazendo em Bioreatores com agitadores de hélices no fundo do
reator. O ” X ” do problema é o meio de cultura. O processo também é mais demorado. Leva de 5
a 7 dias.
O caso da madeira podre eu uso porque a receita original pedia serragem de madeiras de baixa densidade
mas eu achei que isso não ia contribuir em nada e só servia para manter a mistura aerada por algum tempo.
Por isso eu substitui por pau podre. Foi mais com essa intenção. Na verdade os fungos presentes na mata
já foram capturados pelo farelo de arroz que eu uso.
Quando passamos o MEM sólido para o liquido os fungos já devem estar esporulados e portanto vão ser
aproveitados. Hoje em dia algumas empresas, como a Koppert, já estão apresentando produtos comerciais como
o Trichodermil, em meio liquido e vc pode observar que o liquido é bem escuro denotando a presença de ácidos
humicos e portanto corroborando o que eu disse sobre os fungos gostarem dos acidos húmicos.
Já no caso do Compost Tea vc tem razão a bomba centrifuga vai picotar todos os micélios dos fungos e a agitação
será muito forte. No caso do rotor da bomba de irrigação já não tem tanto problema por que será apenas uma vez e
com espaços maiores já que a bomba é bem maior. Na bombinha centrifuga ela é bem pequena e serão milhares de
passagens por ali.
Pode usar o EM liquido sossegado na ferti-irrigação porque não vai ter problema algum.
Attn
José Luiz
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Dr Vinagre, para melhor aproveitar os fungos então, é melhor a receita sólida ou liquida?
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Na verdade as duas.
Na sólida você recolhe os microrganismos da mata e os multiplica dentro dos tambores de plástico.
Na segunda fase vc faz uma extração em meio liquido e os aplica no solo, nos fertilizantes ( bokashi, baiyodo, composto, etc) ou nas plantas.
Attn
Jose Luiz
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parabéns pelos materiais bem explicativo. Fiquei na dúvida de Quando se faz o EM líquido, tem a necessidade de se manter o tambor lacrado ou pode deixar aberto? Abraços
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Normalmente fazemos com o tambor fechado. O processo visa obter organismos anaeróbicos ou facultativos.
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