O que define uma praga e
Como criar pulgões, lagartas e outros insetos.
No Brasil, diz-se que quando alguém não entende uma explicação é porque estaria na hora de “desenhar a explicação “. E, via de regra, precisamos explicar também o desenho, pois o mesmo também não é entendido. O ruim é quando temos que explicar a explicação do desenho, mas creio ser esse um dos ossos do ofício que escolhi como escritor de agricultura biológica e regenerativa.
Como já faz algum tempo que venho falando de determinados assuntos e as pessoas ainda me perguntam como fazer “para substituir “ por exemplo o Nitrogênio, o Fósforo e o Potássio, demonstrando que. mesmo tempo optado por um caminho mais sustentável ou até mesmo orgânico, ainda não se livraram da chamada mentalidade NPK, bem como me perguntam “que tipo de bactéria ou fungo eu uso para controlar essa ou aquela “praga ? “, eu tomo a liberdade de escrever sobre esses assuntos para ajudar a clarear a mente dos agricultores que se encontram no meio do caminho (em transição), que é um período um tanto quanto difícil.
O período de transição é difícil porque, mesmo tendo chegado a conclusão que o caminho convencional não leva a lugar algum, em termos de rentabilidade, riscos a saúde, sustentabilidade, etc…, o volume de conhecimentos adquiridos, até aquele momento, ainda não os permitem cortar definitivamente o cordão umbilical da agricultura convencional e buscam a qualquer custo uma substituição mais barata para justificar o novo rótulo que assumiram para si próprios, o de agricultor “sustentável “.
Esse artigo, portanto, inicia uma série de outros voltados a explicar de forma bem fácil, como é que as coisas, no mundo real, funcionam.
Mais uma vez, recebo a preciosa ajuda do jovem e talentoso consultor John Kempf, oriundo das fazendas Amish americanas, que me surpreendeu com dois dos seus curtos. porém altamente provocativos, textos, que passo a comentar para que a minha audiência no Brasil e em outros países de lingua portuguesa possam se beneficiar dessas importantes informações.
Na verdade os dois textos foram condensados em um só por que estão interelacionados ( 1, 2 ).
No primeiro ele pergunta : O que define uma praga ?
Fui até o dicionário e encontrei a definição de praga como sendo uma coisa que perturba, que irrita, que causa danos, incômodos ou até como uma desgraça.
Pergunta-se :
Quando um gato do mato, ou uma onça consegue pegar uma lebre para jantar, qual dos dois seria uma praga ? Será que o coelho é somente uma praga quando ele come a sua lavoura de feijão-vagem e não quando ele se alimenta de capim nos campos ?
E quando a onça consegue pegar um bezerro ou uma ovelha ? Passa a ser uma praga ?
Será que a joaninha é uma praga quando come os pulgões ou somente quando ela infesta as nossas casas no outono ?
Ao que tudo indica esse conceito de “praga “ é um conceito totalmente centrado no ser humano ( antropocêntrico ) que rotula a tudo e todos que contrariam os seus interesses geralmente econômicos. Chamamos de praga a tudo que nos incomoda.
Da mesma maneira rotulamos essas criaturas de praga somente quando elas contrariam os nossos interesses, mas não quando elas perturbam os interesses de outros organismos, pelos quais nós não nos importamos.
Nós temos relações de interdependência profundas com bactérias, fungos, virus, nematoides, insetos, amfíbios, répteis, mamíferos e pássaros de todas as naturezas.
A maioria desses organismos são bastante benignos em eco sistemas saudáveis. Quando o Ecosistema é degradado, eles proliferam e começam a se alimentar de plantas e animais nos quais nós temos algum tipo de interesse. Nesse momento, nós começamos a rotula-los de pragas e de patógenos.
Mas e quando somos nós, os seres humanos, que degradamos os ecosistemas ? Seríamos nós, então, nesse caso, o patógeno ? Ou a praga ? Essa é uma pergunta válida para se fazer.
O ambiente/ecosistema determina a presença e a proliferação de todos esses seres vivos.
Se formos querer nos manter nesse planeta de forma indefinida, precisamos reconhecer que é a nossa maneira de manejar o meio ambiente que vai determinar se esses organismos irão se manifestar como um participante benigno ou como uma praga. Se nós quisermos aceitar a responsabilidade e fazer alguma diferença não é nada prático rotular esses organismos como sendo “pragas”.
Essa rotulagem é uma forma subliminar sutil de “ lavar-mos as mãos” e jogar a responsabilidade e a culpa em cima de organismos os quais estão programados para fazer o que a Natureza os proveu ao longo de bilhões de anos de evolução. Atitudes tais como : “Eu não sou responsável por essas pragas”. “Eles invadiram”. “Eles estão fora de controle”. “O clima foi péssimo. Esse ano foi seco/choveu demais/muito quente/muito frio”. Não ajudam muito.
Nem a onça e nem a lebre são pragas, mas sim simbiontes no ambiente, e são dependentes de um ecosistema muito maior do qual ambos são parte integrante e que os sustenta.
Dessa forma é muito importante propagar afídeos ( pulgões ) nos nossos campos para que insetos benéficos como a joaninha tenham com que se alimentar. É muito fácil propagar uma população tremenda de pulgões que possam sustentar uma grande população de insetos benéficos e não ser impactado negativamente.
Nós apenas precisamos proporcionar-lhes o devido ambiente. A seguir estão alguns passos para que vocês possam alcançar um ambiente ótimo para a proliferação de afídeos e demais insetos e larvas de insetos.
Passo No. 1 – Aplique mais Nitrogênio do que a planta possa absorver e utilizar. Para tanto é só seguir as intruções e orientações das universidades, centros de pesquisa, Embrapa e lojas de revenda de insumos agrícolas. Eles sabem o que é certo e o que é errado. Você não. Você vai estar sempre errado.
Passo No. 2 – Não aplique Magnésio em forma solúvel em hipótese alguma porque o Magnésio solúvel beneficia tremendamente a fotossíntese. Continue pensando que “o calcário me fornece todo o Magnésio que eu preciso” e que “a análise de solo demonstrou que eu tenho magnésio suficiente no meu solo”. Continue acreditando que existe correlação entre o nível de magnésio do solo e o nível de magnésio nas folhas. Não se esqueça de agradecer aos departamentos de “ciências” do solo por essas informações valiosas.
Passo No. 3 – Não aplique enxofre que as plantas precisam para sintetizar amino ácidos sulfurosos que as permitem sintetizar proteínas completas além de compostos envolvidos em reações de Resistência Sistêmica Adquirida ( SAR ) e Resistência Sistêmica Induzida ( SIR ).
Passo No. 4 – Não aplique, em hipótese alguma, Molibdênio que permitiria que a enzima Nitrato Redutase funcionasse a contendo transformando Nitratos em Amina e posteriormente em amino acidos e depois em proteínas.
Passo No. 5 – Não aplique Boro que pode aumentar e impulsionar a imunidade vegetal.
Se você seguir esses cinco passos básicos você pode ter certeza que a sua lavoura irá fornecer a comida desejada para os afídeos. Além disso, será também a fonte de alimentação ideal para vários outras formas de insetos, notadamente larvas como a larva alfinete ( Diabrotica sp.), broca do milho, lagarta falsa medideira e broca do tomateiro.
Virtualmente , para qualquer larva de insetos. Afinal de contas propagar larvas de insetos fornece alimento para todos os tipos de aves e também para insetos benéficos e você estará prestando um valioso serviço ao meio ambiente.
Obviamente se você não quiser transformar a sua lavoura em alimento para esses insetos ou propagá-los e só fazer exatamente o contrário do que foi sugerido nesses cinco passos e, dessa forma, os insetos não serão capazes de usar as suas plantas como alimento.
Nem lagartas, insetos, ácaros, pulgões, nem mesmo Fusarium são pragas ou patógenos, nem qualquer um dos nematóides, bactérias ou fungos.
Eles estão presentes no ambiente que criamos para eles. Se eles se proliferaram e se desenvolveram ao ponto de causarem perdas as lavouras foi porque nós fomos capazes de criar um ambiente favorável para eles.
Se nós quisermos que eles não estejam presentes ao ponto de poder causar perdas econômicas, nós apenas precisamos manejar o ecosistema de maneira diferente.
Referências
- Kempf, John ( 2019) What defines a pest ?, johnkempf.com/blog/
- Kempf, John ( 2019) How to Propagate Aphids, johnkempf.com/blog/
Partindo desse desenho, a biologia está diretamente ligada com a química nosso desafio é encontrar o equilíbrio e entender qual é afinal esse equilíbrio.
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Alô Denise,
Como vão os Pampas ?
Sim na base da tentativa e do erro. Mas sempre medindo a concentração de Nitratos com
o Horiba L’Acquemin que deve ser próxima de zero.
Fazer uso de bactérias fixadoras de nitrogênio de vida livre como Azospirillum brasiliense.
Colocar Cálcio e Magnésio no lugar para optimizar a utilização do Nitrogênio.
E fazendo uso da nutrição foliar que é o melhor custo x benefício da nutrição vegetal.
Entretanto, tem que saber preparar as pulverizações corretas. Qual é a Dureza da sua agua utilizada
na pulverização ?
Abs
José Luiz
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Dr. Vinagre Boa noite. Como saber exatamente a quantidade de Nitrogenio a ser aplicado num pomar de Laranjas, por exemplo.
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Boa Noite,
Vamos ter que definir alguns conceitos antes que eu te responda a essa pergunta mas em princípio é uma
excelente pergunta porque me dá a oportunidade de elaborar mais sobre essa questão do Nitrogênio.
Em primeiro lugar a pergunta que eu te faço é a seguinte: Por que você quer aplicar somente o Nitrogênio
quando sabemos que a planta precisa de vários outros nutrientes para realizar a fotossíntese ?
Em segundo lugar essa questão do Nitrogênio não é assim tão simples como “saber a quantidade de Nitrogênio a ser aplicado “.
Temos que considerar o estado do solo antes de mais nada. Está compactado ? Como está o Equilíbrio das bases ?
Quanto de Cálcio na CTC ? Quanto de Mg ? Em porcentagem da CTC ?
Queremos aplicar Nitrogênio sim mas queremos que ele seja bem utilizado. Mas lembrando também que queremos aplicar
o Fósforo, o Magnésio, o Manganês, e vários outros para ativar a fotossíntese.
Também queremos que qualquer que seja a fonte de nitrogênio escolhida Nitrato, Amônio, Ureia, Amino Ácidos, Proteínas
sejam bem aproveitadas.
Em se tratando de fontes solúveis temos que verificar tanto o Cálcio na CTC como o Magnésio. Magnésio elevado
provoca perda de Nitrogênio e baixa taxa de utilização. Cálcio no lugar ( 50 a 60% da CTC) melhora bem a utilização
do Nitrogênio.
Sempre que for raciocinar em termos de “pontos de N por hectare” lembre-se que esse é um objetivo
inalcançável e imponderável por que parte disso vc nunca vai acessar.
Exemplo: Ureia a taxa de utilização varia de 30 a 40% somente.
Os outros 60 a 70% você jamais irá utilizar ou usufruir.
Melhor seria misturar alguma fonte de ácidos humicos e elevar essa taxa para 60% a 70% de utilização
se for usar a ureia , por exemplo. A melhor forma e mais barata de prover nitrogênio seria via foliar mas
também devemos saber qual a fonte e qual a quantidade. Falo de 5 kgs de Uréia por hectare misturada
a ácidos humicos, kelp, Mg, Enxofre, Ferro, Moli, etc…
Outra regra de ouro para vc ter em mente é a seguinte: Para cada 10 a 12 partes de N que for usar
adicionar sempre uma parte de Enxofre. Isso é essencial.
Amino ácidos não provocam o enfraquecimento da planta aos insetos ou seja somente o nitrato tem essa
característica mas a ureia e amônia também se sofrerem denitrificação.
Todo o Nitrogênio que for aplicado a planta deverá ser totalmente utilizado e não deverá sobrar nada na seiva
na forma de nitrato porque senão insetos serão atraídos.
Como verificamos isso ?
Hoje em dia com um HORIBA L’ACQUAMIN com 2 a 3 gotas da seiva em um sensor que te dá a resposta
na mesma hora em ppm. O que objetivamos seria 0 ppm, mas se tiver tipo 200 a 300 ppm ainda daria para
conviver e da próxima vez aplicar um pouco menos.
Deve também fazer uso de microrganismos de vida livre multiplicados na fazenda como Azospirillum brasiliense.
As plantas precisam de um fornecimento diário de determinados nutrientes e com o uso de fertilizantes
químicos fica bastante difícil de você conseguir isso.
Alguma dúvida ?
José Luiz
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Adorei o artigo! O título também! Como posso preparar uma boa e equilibrada pulverização via foliar? Há um método simples pra saber sobre a dureza da água? Grande abraço e muito obrigada por tudo!
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Vai precisar participar de um curso meu. Muita coisa para ser transmitida por apenas essa via.
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Muito obrigado professor! O senhor me ajudou bastante.
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Na verdade a Ureia e o NH4 podem ser transformados em NO3 pelo processo de nitrificação ou simplesmente oxidação.
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Saudacões Dr. Vinagre. Quando será seu próximo curso?
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Professor como e o sei curso? Quais os temas e onde é ministrado?
Quando vai ser o próximo?
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Boa Noite
Pretendo dar um curso no més de Fevereiro mas ainda não nem data e nem local.
Abs
Jose Luiz
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Dr Vinagre, mais uma vez elucidou muito seu conteúdo. Quanto de Magnésio e Boro posso aplicar de forma foliar por ha?
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Boa Tarde Paulo,
Ontem tivemos a trágica noticia de que a Dra Ana Primavezi havia falecido aos 99 anos de idade.
Ela viveu uma vida plena e teve uma influência muito grande na adoção de inúmeras práticas
conservacionistas e foi uma das primeiras pessoas, talvez a primeira, a apresentar uma nova visão
da agricultura que não fosse a tradicional e quimicalizada, aqui no Brasil evidentemente.
Infelizmente, a uma determinada altura da sua carreira a Esquerda como que se “apoderou” das suas idéias
e das suas opiniões como fazem sempre, por pura e total incompetência. Essa corja de vigaristas
só conseguem viver a sombra de grandes personalidades, como fizeram no caso da Prof Primavezi.
Que Deus a receba de braços abertos e que conforte a sua família.
Esses são os meus mais sinceros votos.
A Dra Primavezi teve um trabalho fantástico no tocante a explicação de alguns dos fenômenos vivenciados
por nós agricultores no nosso dia-a-dia.
A causa da sua morte, dizem, foi o coração mas bem que poderia ter sido de desgosto por ter, as vezes,
que repetir determinadas coisas um número infinito de vezes. Aqui no Brasil é assim mesmo.
Uma das suas famosas máximas que ela teve quer repetir um zilhão de vezes, era a seguinte :
“Eu ensino conceitos. Eu não ensino receitas “.
Em homenagem póstuma a Dra Primavezi eu não vou responder e nem posso responder a essa sua pergunta.
Afinal de contas eu me considero um dos seus maiores admiradores e, por isso, devo fazer minhas as suas palavras.
Além do mais, o principal objetivo desse blog é exatamente tentar veicular conceitos e obrigar as pessoas
a pensarem e raciocinarem de forma diferente e não prestar consultoria técnica de forma gratuita.
Não foi para isso que eu criei esse blog. Sinto muito eu ter que descer a esse nível de detalhamento e espero
que você não se sinta ofendido pela minha franqueza mas senti que isso se fazia necessário.
Afinal de contas, não foi a primeira vez que pessoas tentaram desvirtuar o objetivo desse blog.
Atenciosamente
José Luiz
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Bom dia Dr Vinagre. O Sr produziu algum curso ” on line ” ?
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Estamos nesse momento tentando iniciar essa linha de cursos On LIne.
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