As evidências científicas devem ser sempre explicadas de modo simples e objetivo. Porém existe sempre um limite para essa simplicidade, como já foi dito anteriormente.
A máxima de que a “Biologia substitui a Química “, apesar de verdadeira para todos aqueles que se dedicam a Agricultura Biológica, precisa e deve ser devidamente explicada e esclarecida.
Outro ditado bastante conhecido por quem se dedica a Agricultura Biológica é o de que “A Química sózinha não garante que você terá uma colheita boa e de sucesso “, o que explica o fracasso de varias empreitadas hidropônicas.
As plantas, como já tive a oportunidade de expor anteriormente, são na realidade mixotróficas, ou seja se alimentam tanto de íons isoladamente quanto de moléculas mais elaboradas como amino ácidos e até mesmo de proteínas e acidos humicos ( 1 ).
Entretanto, existe um outro mecanismo de aquisição de nutrientes , por parte das plantas, que involve a “deglutição e digestão “ de bactérias inteiras, descoberto por uma equipe que envolveu a Rutgers University e o cientista líder desse projeto, Dr James F. White, bem como participantes da Banares Hindu University, localizada em Varanasi, na India e até do U.S. Geological Survey ( 2 ).
Esse processo foi brilhantemente desvendado e descrito no trabalho Rhyzophagy Cycle: An oxidative process in plants for nutrient extraction from Symbiotic MIcrobes, publicado na revista Microorganisms ( 2 ).
Anteriormente eu também já havia escrito sobre esse processo ( 3 ), logo após essa grande e importante descoberta, explicando esse importante sistema de aquisição de nutrientes pelas plantas, e também como a planta é um ser que vai muito além do nosso entendimento, na medida em que dispõe de todo um aparato para avaliar as condições do terreno no qual ela está inserida, bem como participa, junto com os microrganismos de solo, em todo um sistema de comunicação visando mitigar e corrigir essas condições para favorecer o seu desenvolvimento, tanto das plantas como desses mesmos microrganismos, num perfeito sistema de parceria desenvolvido ao longo de milhões de anos ( 4 ).
Infelizmente, alguns conceitos são por demais elaborados e, por isso, necessitam sucessivas explicações até que sejam devidamente entendidos. Em tempos de pandemia, quando a tendência é o isolamento, é preciso que estimulos externos nos tirem dessa letargia e nos forcem a lutar contra toda a entropia ocasionada por essa finada e putrefata mídia ( Descance em Paz ), noticiários e governadores tendenciosos.
Esse estímulo, veio por meio de uma entrevista com o meu amigo John Kempf ( 5 ) quando conseguiu amadurecer e expor a maioria dos atuais conhecimentos com relação a condução da agricultura de forma regenerativa e sustentável. Fiquei muito satisfeito porque vários de seus comentários corroboram o que venho dizendo desde 2003, quando pela primeira vez coloquei no papel os meus pensamentos ( 6 ).
Nessa entrevista, Kempf, mais uma vez, refaz o caminho percorrido pela brilhante equipe de pesquisadores científicos que desvendaram esse importante mecanismo de aquisição de nutrientes pelas plantas, exposto no diagrama abaixo.

Figura 1. Ciclo Rizofágico entre as Plantas e as Bactérias de solo que vivem na zona de influência da Rizosfera ( 2 ).
A rigor esse tipo de bactéria simbiótica de vida livre adentra a planta pelo espaço proporcionado pelo distanciamento intra celular presente nas pontas das radicelas.

Figura 2. Detalhe de uma extremidade apical mostrando o distanciamento intercelular que ocorre nessa região, que permite a penetração das bactérias simbióticas de vida livre.

Nessa região as células radiculares estão suficientemente separadas uma das outras, formando uma região porosa que permite, então, que esse tipo de bactéria adentre a planta. Ao ganhar o interior das plantas, elas podem se movimentar em todas as direções , isto é, de forma ascendente e/ou descendente.
A planta dispõe de um mecanismo de ataque a esse tipo de “invasor “ que requer a produção de Espécies Reativas de Oxigênio, vale dizer altamente oxidativas, conhecidas como ROS, notadamente Oxido Nitroso, que “digere “ a parede celular dessas bactérias facilitando, assim , a sua movimentação mas também e principalmente, a sua eventual e total destruição para a subsequente absorção de seus componentes celulares.
Essas bactérias são engulfadas para o interior das celulas via outro mecanismo, também anteriormente explanado nesse blog, denominado de ENDOCITOSE ( 1 ).
Ocorre, que nem todas bactérias que conseguem entrar na planta são totalmente digeridas. Algumas conseguem voltar a rizosfera através dos chamados “pelos absorventes”. Elas entram pela extremidade apical e saem pelos pelos ansorventes. Ou seja, foi determinado que a presença dessas bactérias até promovem a formação desses mesmos pelos absorventes.
E o mais curioso desse processo todo é que a plantas como que sabem que essas bactérias tem uma missão especial ao voltarem ao seu habitat natural e as suprem de todos aqueles nutrientes que as possibilitem formarem novamente a sua parede celular perdida ao adentrarem as plantas e serem atacadas pelos ROS. Esses nutrientes são formados de mucigéis, proteínas, ácidos nucleicos, amino ácidos , carboidratos, etc.
Essas bactérias , após readquirirem suas respectivas paredes celulares, tem a importante missão de transmitir as demais bactérias e outros microrganismos que compõe a rizosfera, das necesidades nutricionais específicas dessas mesmas plantas. Ou seja, como que dizendo a esses organismos simbióticos das suas necessidades específicas. Ao que tudo indica, a produção ( solubilização ) de íons não é aparentemente feita de forma aleatória pelos microrganismos rizosféricos, mas sim obedece a uma necessidade especifica da planta cuja informação foi obtida para ser posteriormente transmitida, durante essa curta convivência transitória durante a sua fase intra vegetal quando desprovida da sua membrana celular.
Em outras palavras a planta “fala” com as bactérias : “eu preciso de fósforo, nitrogênio e manganês “, por exemplo, e as bactérias “falam” com as suas congêneres essas mesmas instruções. E aí as plantas as recompensam com exudatos radiculares que, quero crer, também não ocorrem de forma aleatória mas também devem obedecer as necessidades dietárias e nutricionais desses mesmos organismos rizosféricos.
Quanto maior for essa comunicação entre as plantas, por intermédio de suas raízes, com a comunidade microbiana rizosférica maior será a nutrição proporcionada a essas mesmas plantas.
Essa rede de informação, uma verdadeira internet subterrânea, ocorre a centenas de milhares de anos, talvez até muito antes que o homem tenha adquirido a sua capacidade da fala.
Se quiserem que as plantas tenham uma elevada imunidade as doenças e as pragas e que elas produzam quantidades suficientes de metabólitos secundários, torna-se necessário que as plantas estejam absorvendo nutrientes na forma de metabólitos microbianos de preferência.
E, ao fazerem isso, isto é, liberá-las de volta ao meio ambiente e alimentá-las, para depois e futuramente consumi-las novamente, as plantas como que criam bactérias para se sejam usufruídas no futuro, da mesma forma em que nós humanos criamos os chamados animais de criação como galinhas, porcos, cabras e vacas.
Portanto, ao explicar-mos esse mecanismo de Rizofagia estamos, ao mesmo tempo, criando mais um ditado que diz “ Nem mesmo as próprias plantas são vegetarianas “.
Peço as devidas desculpas se por ventura tenha ferido quaisquer susceptibilidades, porém fatos são fatos e contra fatos não há argumentos.
José Luiz M Garcia
Instituto de Agricultura Biológica
Agosto de 2021
Referência
1. Garcia, J.L.M. ( 2020 ) Nem só de minerais vivem as plantas, Blog do Instituto de Agricultura Biológica, https://institutodeagriculturabiologica.org/2020/03/02/nem-so-de-minerais-vivem-as-plantas/
- 2. White, J.F., Kingsley, K.L., Verma S.K. & Kowalski, K.P.( 2018 ) Rhyzophagy Cycle : An Oxidative Process in Plants for Nutrient Extraction from Symbiotic Microbes, Microorganisms 2018, 6(3), 95,
- 3, Garcia, J.L.M. ( 2019 ) RIZOFAGIA, Blog do Instituto de Agricultura Biológica, https://institutodeagriculturabiologica.org/2019/01/31/rizofagia/
- 4. Garcia, J.L.M. ( 2020) Plantas são Sencientes, Blog do Instituto de Agricultura Biológica, https://institutodeagriculturabiologica.org/2020/02/22/plantas-sao-sencientes/
- 5. Kempf, John ( 2021 ) Simple and Comprehensive Fertility Management for Market Gardens, https://www.youtube.com/watch?v=1puI1JwY22Y
- 6. Garcia, J.L.M. (2003) Curso Teórico e Prático sobre AGRICULTURA BIOLÓGICA, Sitio Catavento, Itupeva – S.P., 31 de Outubro a 01 de Novembro de 2003.
Quantas saudades estava de ler suas opiniões, professor.
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Excelente post! Obrigado por compartilhar. A natureza te agradece. Gratidão!
Em sáb, 21 de ago de 2021 7:30 PM, Instituto de Agricultura Biologica escreveu:
> Dr Vinagre PhD posted: ” As evidências científicas devem ser sempre > explicadas de modo simples e objetivo. Porém existe sempre um limite para > essa simplicidade, como já foi dito anteriormente. A máxima de que a > “Biologia substitui a Química “, apesar de verdadeira para ” >
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Como sempre, conteúdo de qualidade.
Só excluo reino animal de minha alimentação; Os demais, mando pra dentro.
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Ótimas e Simples explicações, parabéns!!!
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