Já faz algum tempo que eu venho me manifestando contra a soja por ser um produto que apresenta uma série de inconvenientes para a nutrição de humanos e de animais, como alergias (proteínas P34 e várias outras), aglutininas, depressão da glândula tireoide (efeito goitrogênico), flatulência (formação de gases intestinais), inibidores da tripsina (inibidores de protease) , índice elevado de fitatos (que são fatores anti-nutricionais), além de alto nível de fitoestrógenos (pro-hormônios femininos), toxicidade por manganês, alumínio e flúor e por conter outras substancias anti-nutricionais como lectinas, saponinas e oxalatos.
É quase impossível ter-se outro tipo de opinião sobre a soja após a leitura do excelente livro de Kaayla T.Daniel, PhD, CCN, THE WHOLE SOY STORY, New Trends Publishing, Inc., 2007. Nesse livro a Dra Daniel desbanca, de uma vez por todas, o mito de que a soja seria um alimento “saudável” como ela tem sido vendida, pela própria indústria da soja, nas últimas 5 décadas.
De fato, a minha experiência com a nutrição de ruminantes sempre me mostrou que o aumento do nível de soja na dieta desses animais correspondia a um aumento da letargia (hipotireoidismo), acidez (que se traduz no aumento de mastites, laminites, queda no índice de fertilidade do rebanho, diminuição da vida útil das fêmeas, etc), muito embora o aporte desse tipo de ingrediente na ração animal aumente sensivelmente a produção leiteira.
Como o sistema vigente privilegia sempre o capital ou ganho financeiro, em detrimento que qualquer outro parâmetro, a soja continua sendo recomendada pelo status-quo acadêmico-científico como a solução para a produção barata de proteínas. Nos cálculos de ração nunca são levados em conta aspectos como diminuição da fertilidade do rebanho, aumento da incidência de laminite, mastite, diminuição da expectativa de vida do animal (menor número de parições), etc. Somente o aumento da produção momentânea de carne ou leite são levados em consideração.
Entretanto, um trabalho de uma década efetuado pela Universidade do Arizona e seus cientistas Monica Schmidt, Eliot Herman e Theodore Hymowitz, produziu uma variedade convencional de soja com níveis reduzidos de três proteínas-chave responsáveis por efeitos alergênicos e anti-nutricionais. O trabalho foi publicado na revista Plant Breeding. Como foi dito acima, a soja contém várias proteínas alergênicas incluindo a P34, uma proteína alergênica imunodominante descoberta no próprio laboratório do Dr Herman na Universidade do Texas em 1990, além de várias outras que limitariam o uso desse grão na alimentação animal de humana.
“ Nós criamos uma soja com baixos teores de alergênicos e de fatores anti-nutricionais usando métodos convencionais de melhoramento genético” declara Herman. Após selecionar 16.000 linhagens diferentes de soja, até descobrirem as que possuíam uma quantidade reduzida dos fatores desejados, eles encontraram uma que praticamente era isenta do alergênico P34. As linhagens foram obtidas da Coleção de Germoplasma de Soja em Urbana, Illinois.
Após 10 anos de cruzamentos genéticos de cada linhagem contra o genoma original denominado Williams 82, a equipe produziu uma soja quase isenta da proteína P34 e de proteína inibidora de tripsina (um inibidor de proteases), além de ser totalmente isenta da aglutinina da soja. Eles batizaram a nova variedade de Triple Null .
O Instituto de Agricultura Biológica não poderia deixar de parabenizar essa equipe de pesquisadores por terem criado uma variedade de soja menos alergênica usando métodos tradicionais de melhoramento genético ao invés dos seus colegas cientistas dedicados a produção de variedades de soja mais alergênicas como as variedades geneticamente modificadas (transgênicas).
Eu recomendaria o cultivo e o uso dessa variedade de soja a todos aqueles criadores interessados na melhoria da nutrição e do bem estar dos seus rebanhos.
Referências e Fontes
1. Acres Usa – The Voice of Eco-Agriculture Magazine, July 2015, Issue # 529, Page 6 – Eco Up-Date.
2. Daniel, Kaayla, T. The Whole Soy Story, New Trens Publishing, Inc.,Washington, D.C., 2007
Jose Luiz M Garcia – Julho de 2015