É interessante observar como funciona a mente humana. A maioria das pessoas vivem presas a idéias pré-concebidas e a conceitos pré- estabelecidos. Entretanto, se quisermos mudar a realidade na qual vivemos teremos que fazer exatamente alguma coisa diferente do que já foi pré estabelecido e não insistir em conceitos e métodos já cristalizados.
Em plena Nova Revolução Verde, a nível mundial, na qual a Saúde do Solo, proporcionada pela inoculação de uma multiplicidade de microrganismos de solo contidos em compostos de alta qualidade, as chamadas Comunidades de Microrganismos de Solo (CMS), começa a ser reconhecida como o principal fator determinante para o restabelecimento e a regeneração da fertilidade perdida dos solos e como o principal objetivo para se atingir a produção sustentável de alimentos ( 6 ), a maioria das pessoas ainda tem a idéia de que o composto orgânico seria um “adubo natural”, um “adubo completo e natural” ou um “condicionador de solos”.
À propósito, Condicionador de Solos é a visão oficial do MAPA para o Composto Orgânico e é assim que a sua comercialização é permitida e regulamentada. Sob essa ótica míope oficial e ministerial, um composto orgânico deve ser, nada mais e nada menos que um mero condicionador de solos.
Essa visão equivocada deque o Composto Orgânico seria um “adubo natural e completo” ou, em outras palavras, um NPK Orgânico, como notou Primavezi, que a maioria dos agricultores orgânicos costumam utilizá-lo, é a que mais prevalece ( 4 ). Como bem observou essa pioneira das práticas agrícolas sustentáveis no Brasil, a maioria dos agricultores orgânicos querem substituir o NPK químico por esse preparado que usam a título de NPK orgânico e frequentemente os resultados são sempre aquém dos desejados, como relatou diversas vezes ( 4 ).
Aliás, o termo “Condicionador de Solos”, é uma das maiores demonstrações de falta de rigor técnico e cientifico que se conhece. Sob uma mesma denominação, são colocados produtos tão díspares como Compostos Orgânicos, Calcários e agora, mais recentemente, até Pós de Rocha. Coisas de uma agricultura onde impera a falta de rigor científico conforme já abordado anteriormente ( 8 ).
E, esses conceitos equivocados, chegam até as Universidades e Empresas de Pesquisas Agropecuárias Estaduais e Federais não só no Brasil como também no exterior. E para fazer essa constatação, basta pesquisar no Youtube e irão aparecer vários vídeos desses mesmos órgãos oficiais reafirmando o que acabo de dizer.
Essa visão distorcida do que vem a ser um Composto Orgânico, ou seja, a do “adubo completo e orgânico” ou um “NPK Orgânico”, nas palavras de Primavezi, , se reflete nas diversas “fórmulas” apresentadas na internet onde com frequência se vê a inclusão de calcário, cinzas de madeira, cascas de ovos moídas, ossos calcinados em pó, Pós de rocha, etc… que frequentemente retardam a queda do pH, fazendo com que a pilha de composto (que também é outra unanimidade quando se trata de fazer compostagem) seja colonizada por bactérias metanogênicas, geradoras de gás metano, que é 25 vezes mais poluente de o CO2 ( 1 ), e que elas dominem todo o processo aumentando inclusive a perda de Nitrogênio e Enxofre, por também promover a formação de compostos voláteis de mau cheiro. A adição de cinzas a pilhas de composto é erroneamente preconizada desde que o sistematizador desse processo,Sir Albert Howard, escreveu sobre seu Método Indore de produção de composto em 1940 ( 2 ).
Aliás, Sir Albert Howard é tido, até mesmo pelos acadêmicos da área de Agricultura Orgânica, como o “pai“ do composto orgânico quando é sabido que esse processo já era descrito por King em 1911, como sendo uma prática corriqueira em países asiáticos ( 3 ).
Entretanto, eu não vejo até o presente momento, pelo menos aqui no Brasil, ninguém preconizar o uso do Composto Orgânico como inoculante de Solos. Existem poucas e honrosas exceções nos Estados Unidos. Edwin J. Blosser, por exemplo, é conhecido por ter desenvolvido um método que consistentemente produz Composto Humificado rico em micro vida ( 10 ).
De acordo com a Dra Elaine Ingham (criadora do Laboratório Soil Food Web e a maior proponente da utilização do Compost Tea), para que um Composto mereça ser usado como inoculante de solos e possa receber o nome de Composto pelo menos dois aspectos deveriam ser observados:
- Apresentar de 50% a 60% de massa microbiológica, para ter atividade inoculante e para que tenha efeito como regenerador e ativador de solos, pela adição de microvida, quando usado até em quantidades pequenas de 400 kg/ha, por exemplo.
- O material que deu origem ao composto não poderia ser reconhecido e identificado no final do processo de compostagem ou não teria sido suficientemente transformado e humificado, assim como suficientemente colonizado pela microflora benéfica do solo.
Não é nem preciso dizer que, se esses critérios fossem observados, quase nenhum dos produtos vendidos aqui no Brasil como “Composto Orgânico” poderiam ser, de fato, assim chamados, exceto os Vermicompostos, mas esses não são chamados de compostos mas sim de “Humus de Minhoca”, o que aumenta ainda mais a confusão desses conceitos entre os agricultores.
É evidente que a maioria dos compostos orgânicos comercializados hoje em dia funcionam 100% das vezes, desde que usados em quantidades ponderáveis de várias toneladas/hectare. Isso se deve ao baixo teor de Carbono dos nossos solos, seja na forma de carbono orgânico simplesmente ou seja na forma de ácidos húmicos e fúlvicos, mas não é esse o ponto aonde estamos queremos chegar.
O principal papel de um verdadeiro composto conforme as especificações do Quadro 1. abaixo seria trazer de volta a microbiologia aos solos degradados, e com isso, o poder de regenera-los e torna-los produtivos e sustentáveis novamente, agregando CMS com a adequada relação Fungos : Bactérias.
PADRÕES DE QUALIDADE PARA COMPOSTO AERÓBICO
Níveis desejáveis de organismos em Compostos e Vermicompostos Compostos Aeróbicos e Microscopia Direta
(Medidos em peso fresco mas expressos em gr de peso seco)
- Bactérias Ativas – 15 a 30 ou mais microgramas de bactérias ativas/g de peso seco.
- Bactérias Totais – 150 a 300 ou mais microgramas de bactérias totais/g de peso seco.
- Diversidade – 15.000 a 25.000 espécies de bactérias ( usando métodos moleculares).
- Fungos Ativos – 2 a 10 microgramas de fungos ativos/gde peso seco.
- Fungos Totais – 150 a 500 microgramas de biomassa fúngica/g de peso seco.
- Diâmetro das Hifas – De 2.5 ou mesmo acima de 2.5 micrômetros.
- Diversidade – 5.000 a 8.000 espécies de fungos (usando métodos moleculares )
- Protozoários – 50.000 protozoários por grama de peso seco.
Flagelados– 25.000 ou mais
Amebas -25,000 ou mais.
Ciliados – 25.000 ou mais.
- Nematóides – 20 a 100 nematóides BENÉFICOS por gr de peso seco.
Bacteriófagos– 10 a 15 nematóides.
Micófagos– 5 a 10 nematóides.
Predadores– 1 a 5 nematóides.
Nenhum nematóide patogênico.
- ATIVIDADE BACTERIANA ABAIXO DE 10% É INDICATIVA DE COMPOSTO MADURO.
Quadro 1. Padrões de Qualidade para COMPOSTO AERÓBICO Fonte : Elaine Ingham, ECO-AGUniversity 2002, Improving Soil & Foliar Food Webs, Dec., 2002
Um composto realmente maduro e rico em substancias húmicas e com a necessária micro vida para ser usado como inoculante e regenerador de solos deveria ter um aspecto semelhante ao da foto abaixo, ser de cor marrom escuro ou preto e ter um aroma agradável. Ao ser pressionado entre os dedos formaria uma massa escorregadia que tingiria os dedos de preto devido a presença de maciça de ácidos húmicos e fúlvicos.

Observe que já não se pode mais identificar a matéria orgânica que lhe deu origem.
Ao ser pressionado entre os dedos, exibirá uma massa escura maleável rica em ácidos Húmicos e Fúlvicos, aos quais os antigos agricultores se referiam como a “Gordura da Terra”.
O verdadeiro papel de um composto rico em Comunidades Microbianas de Solo (CMS) e ácidos Húmicos e Fúlvicos seria o de aumentar a taxa de F:B (Fungos : Bactérias) que caracterizam solos férteis de florestas de clima temperado como as tropicais, aumentar o sequestro de Carbono e com isso o teor de Matéria Orgânica do Solo (MOS) que permitiria aos vegetais uma melhor aquisição de nutrientes ( 6 ).
Por esse motivo novas formas e novos modelos de Compostagem Estática tem sido propostos. A primeira proposta para compostagem estática, que mimetiza exatamente o que acontece na Natureza, foi proposto por Maye E. Bruce já em 1946. Na Natureza não existe nem pilha de composto, nem a periódica reviragem dessas mesmas pilhas. Não existe fase termófila, e no entanto, a compostagem ocorre de forma constante por sobre o solo das florestas e de baixo da serrapilheira e sob a copa das arvores em um processo contínuo .
A qualidade microbiológica desses compostos estáticos é excelente, como por exemplo no composto obtido a partir da proposta do pesquisador David Johnson ou o Johnson-Su BioReactor ( 7 ) . Esse tipo de compostagem também mimetiza o que acontece na Natureza. O pequeno aumento de temperatura que ocorre dentro do bioreator não chega a comprometer a qualidade do composto e não requer reviragem do material. A umidade adequada é mantida por meio de irrigação automática todos os dias.
Na Fazenda São Lourenço, em Elói Mendes, no Sul de Minas, já praticamos essa modalidade de compostagem há 4 anos e confesso que é bem mais fácil e rápida do que as tradicionais pilhas de compostagem, para as quais temos que prestar bastante atenção a temperatura, aeração e a umidade, o que demandaria trabalho e energia adicionais. É bem verdade que sempre inoculamos as nossas matérias primas com o consórcio microbiano conhecido como E.M. ou Efficient Microorganisms que é composto predominantemente de Rhodopseudomonas palustris, Bactérias Láticas (Lactobacillus sp.) e Leveduras ( Saccharomyces sp.) e acrescentamos de 10 a 20% de pó de carvão para garantir um melhor estabelecimento de comunidades fúngicas e, com isso, uma melhor relação Fungo : Bactéria ( Relação F:B ) ao composto no final do processo.
As grandes vantagens observadas são sempre uma menor perda de CO2 , melhor processo de humificação, ausência de maus odores e moscas, e (teoricamente ) uma maior riqueza em CMS bem como uma melhor relação Fungo : Bactéria, garantida pelas fontes de matérias primas utilizadas e a presença do carvão vegetal (Biochar).
Um composto assim preparado, sob a sombras das arvores ou até mesmo dentro de uma mata ou capão de mato, após 6 meses, irá apresentar uma riqueza microbiológica tal que permitirá a sua utilização não só como fonte de inóculo para a regeneração do solo, como também para a fabricação de Compost Tea. Um bom indicativo para o estado de maturação de um composto é o aparecimento de minhocas.
Pode-se também, efetuar esse tipo de compostagem estática pelo processo Biodinâmico porém, apesar da altíssima qualidade que ele proporciona, ficamos um pouco restritos a quantidade que quase inviabiliza o seu emprego em grandes propriedades.
Em se tratando de composto humificado a qualidade é muito mais importante do que a quantidade, portanto podemos esperar sempre melhores resultados com o uso de quantidades menores desse tipo de composto. Outra vantagem muito importante é a possibilidade do seu emprego na produção de Compost Teas ou Extrato Aerado e Ativado de Humus, que sabemos ser uma poderosa ferramenta para a regeneração dos solos degradados por décadas de emprego de fertilizantes de elevado Índice de Salinidade e produtos químicos tóxicos a micro vida do solo.
José Luiz M Garcia
Instituto de Agricultura Biológica
Dezembro de 2018
Referências
- Garcia, J.L.M. (2016) Composto Orgânico- Uma Abordagem Crítica, https://institutodeagriculturabiologica.org/2016/06/16/composto-organico/
- Hershey, David R.(1992) Sir Albert Howard and The Indore Process, HortTechnology, 2 (2): 267-269.
- King, F.H. D.Sc. (1911) Farmers of Forty Centuries or Permanent Agriculture in China, Korea and Japan, reeditado por Rodale Press, Emmaus, Penn., 441 pgs.
- Primavezi, Ana ( 2003) Revisão do Conceito de Agricultura Orgânica: Conservação do Solo e seu efeito sobre a água, Biológico, São Paulo, v. 65,n.1/2, p.69 -73.
- Johnson, D ( 2018 ) Regenerating the Diversity of Life in Soils : Hope for Farming, Ranching and Climate, https://media.csuchico.edu/media/0_ysqa9svw
- Johnson D, Ellington J, Eaton W ( 2015 ) Development of Soil Microbial Communities for promoting sustainability in agriculture and a global carbon fix, PeerPrePrints 3:e789v1 https://doi.org/10.7287/peerj.preprints.789v1
- Johnson, D (2018 ) Compost for Soil Regeneration – Johnson-Su Composting Bioreactor, Regeneration International, https://regenerationinternational.org/bioreactor/
- Garcia, J.L.M. ( 2017 ) Mais Ciência e MenosPseudo-Ciência na Agricultura, https://institutodeagriculturabiologica.org/2017/08/04/mais-ciencia-e-menos-pseudo-ciencia-na-agricultura/
- Bruce, Maye E (1946) Common-Sense Compost Making, Faberand Faber Ltd, London, Great Britain.
- Blosser, Edwin ( 2018) Mid-West Bio Systems, Humus Compost, http://midwestbiosystems.com/about
Excelente artigo. Onde fica este Instituto Biologico? Falta info neste aspecto. Mas parabens pela informacao muito necessitada na Fazenda Ambiental Fortaleza
http://Www.fagbrasil.com
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Muito Obrigado pelas suas palavras de incentivo.
Cumpre-me esclarecer que não somos o “Instituto Biológico” mas sim o “INSTITUTO DE AGRICULTURA BIOLÓGICA.
O Instituto de Agricultura Biológica, desde 2015 quando foi iniciado, é um Instituto virtual que tem cumprido muito bem com todas as suas finalidades para as quais foi criado, isto é, prover informação de qualidade sobre Agricultura Biológica, uma nova modalidade de produzir alimentos com qualidade e com densidade nutricional, para o publico de lingua portuguesa.
O fato de não termos um endereço fisico em nada dificulta o nosso trabalho, pois estamos em contato direto com o nosso publico
leitor quase que todos os meses por meio de cursos que efetuamos em vários locais do Brasil.
Por exemplo, em Outubro fizemos um curso em Santa Maria no RS e em Novembro em Três Pontas, MG. Em Janeiro teremos um outro curso em Pindamonhangaba em São Paulo.
Hoje temos milhares de leitores não só no Brasil, como também, em outros países de lingua portuguesa como Portugal, Cabo Verde, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, bem como em alguns países de lingua espanhola como o Paraguai, Espanha, Chile, Colombia, etc..
Temos leitores até nos Estados Unidos, Israel e em países nórdicos.
Se fossemos um Instituto físico não teríamos tantos leitores como temos atualmente.
Só para que vc tenha uma idéia, o “Instituto Biológico”, órgão da administração direta da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo,
tem menos acessos na internet do que esse nosso blog. Basta vc acessar o nosso blog, via Google, para verificar que o site do Instituto Biológico vem logo abaixo após o site do nosso blog. O Google lista os sites em função da acessabilidade.
Permita-me recomendar a sua Fazenda Ambiental não só esse mas também os demais artigos do nosso blog.
Caso queira me contatar via e mail : drvinagrephd@gmail.com
Atenciosamente
José Luiz M Garcia
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Muito bom o texto. Por isso gosto muito dos sistemas agroflorestais, que através das podas constante de árvores, arbustos, herbáceas e capins permitem a constante incorporação de matéria orgânica no solo e , além disso, imitam as condições de temperatura, luminosidade e ventilação das florestas. Um abraço e obrigado por compartilhar seu conhecimento.
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Sim.
O sistema agroflorestal permite que material RAMIAL seja disponibilizado para ser transformado em humus pelo próprio sistema, o que por si só já seria muito bom.
Talvez esse união da compostagem estática em big bags feita dentro das matas nos permita a produção de composto humificado para ser usado como inoculante em outras areas fora do sistema agroflorestal.
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Boa tarde, como me informo a respeito desse curso de Janeiro em Pindamonhangaba?
Muito obrigado
Fábio
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Boa Tarde
Esse curso está sendo organizado por um grupo de agricultores de Pindamonhangaba. Assim que eu tiver a data eu divulgo aqui no blog.
Atenciosamente
Jose Luiz
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Muito bom, bem esclarecido, vejo muitas empresas divulgando condicionador de solo com microorganismos eficientes, e outros, já usei não tive resultado, vejo agora que voltar a ter os microorganismos natural em solos degradados vai muito além.
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Boa Tarde
Exato.
Por isso eu recomendo sempre o Humus de Minhoca porque se for autêntico terá uma excelente microbiologia.
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Boa tarde
Aplico Compos-Tea, MEM e outros nos meus plantios e vejo claros resultados positivos. Mas recentemente relendo o Manejo Ecológico do Solo, da Primavesi, ( que é um ótimo livro na minha opinião) ela cita dois motivos para não aumentar o atividade microbiológica do solo:
1- o aumento da atividade microbiologica aumenta o consumo de oxigênio no solo, sobrando menos oxigenio para as raizes das plantas.
2- o humus é, segundo o livro, produto da decomposição incompleta da M.O., dessa forma, quando os microorganismos terminarem de decompor a M.O., vão decompor o húmus.
Essas duas situações podem ocorrer? O húmus realmente é fruto da decomposição incompleta ou hoje é tido como certo que resulta da respiração microbiológica?
Muito obrigado desde já
Abraço.
Fabio
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Caro Fábio,
Eu sabia que uma hora, mais cedo ou mais tarde, isso haveria de acontecer e Deus sabe o quanto eu rezei para que isso não acontecesse.
Um dia, alguém iria pedir a minha opinião sobre a Primavezi e eu fatalmente teria que expor esse lado, digamos assim, menos conhecido e menos comentado e, com isso, eu poderia ser até taxado de iconoclasta.
Entenda, eu não gosto de apontar os defeitos nas outras pessoas, mas se eles existem e estão interferindo no processo de esclarecimento dos ensinamentos dessa nova agricultura eu não exitaria em fazê-lo em momento algum.
Por outro lado, brasileiros são seres temperamentais e reagem emotivamente, e não racionalmente, dando margem a reações de ordem
até politico-ideológicas muitas das vezes.
Talvez eu pudesse até ser mal interpretado porque, queiram ou não, ela é um ícone da agro ecologia, não só no Brasil como também em diversos outros países da America Latina ( as vezes também chamada mais apropriadamente de America Latrina).
A Ana Primavezi foi alçada a categoria de ícone por quem entende muito pouco de ciências, ou seja, a esquerda brasileira e suas ramificações
internacionais. Algum dia alguém, e não serei eu, irá escrever a injustiça que a esquerda fez com o seu falecido marido, o Prof Arthur Primavezi, esse sim o grande teórico da Microbiologia do Solo. O que eu tenho observado nessa senhora é que os seus conceitos de
Matéria Orgânica do Solo datam da década de 30 onde ainda se conhecia muito pouco sobre esse assunto.
Ela não se atualizou, por assim dizer. Prefiro chamá-la de desatualizada do que de qualquer outra coisa.
Isso o que você acabou de relatar sobre a Ana Primavesi, essas barbaridades, são uma constante em toda a sua obra.
Por exemplo, nesse mesmo livro na pagina 111 ela declara : “as substancias chamadas de ácidos húmicos não são solúveis na agua (sic), mas de decomposição relativamente fácil (sic) “. Ou seja, ela conseguiu errar duas vezes em uma única frase.
Eu não teria essa capacidade toda, admito.
Ora, qualquer criança sabe que os ácidos humicos são solúveis em agua desde que o pH seja alcalino e por isso mesmo são uma excelente
ferramenta usada na Agricultura Biológica. Solubiliza-se ácidos húmicos em agua todos os dias por esse mundo afora.
Da mesma forma qualquer garoto de ginásio sabe que uma das estruturas mais complicadas que existem na Natureza são as moléculas de humatos ( que englobam ácidos fúlvicos, húmicos e huminas ) e que, e por isso mesmo, até o presente momento não foram sintetizadas artificialmente. São macro moléculas de peso molecular entre 2.000 até 300.000, ou mais, Daltons .
Por serem tão complexas, por definição, não podem ser decompostas com facilidade.
Aquela afirmação de que o aumento da atividade microbiológica do solo aumenta o consumo de oxigênio no solo e que “sobraria menos
oxigênio para as raízes” é de um primitivismo tão rasteiro, cientificamente falando, que tem até a capacidade de me provocar nauseas.
Quem afirma tal disparate, nunca estudou Fisico-Química, como a maioria dos agrônomos. Nem na pós graduação. Não é o meu caso,
obviamente, que estudei, Graças a Deus, em uma verdadeira Universidade onde o conceito de Universalidade era mantido, respeitado
e exigido, e por isso tive a chance de estudar essa e outras matérias fora do universo agrícola.
Quem afirma tal coisa não faz a menor idéia de como o oxigênio se difunde em meio gasoso que é a condição em que se encontra o
solo normalmente, a menos que esteja encharcado. Nem que ela quisesse, isso não ocorreria. Ponto. Irá faltar oxigênio, somente se houver
impedimento físico causado por compactação do solo ou por encharcamento.
A outra afirmação de que “o humus é produto da decomposição incompleta da Matéria Orgânica” é outra barbaridade que se houvesse
um rigor na nossa profissão, como existe na Medicina, isso já seria motivo para uma cassação de diploma por charlatanismo.
O humus, que ninguém até hoje sabe como é sintetizado, NÃO É O PRODUTO DA DECOMPOSIÇÃO INCOMPLETA DA MATÉRIA ORGÂNICA. Ponto.
O que sabemos, é que a matéria orgânica vai se decompondo ATÉ UM DETERMINADO PONTO, mas a partir desse ponto ela passa a ser
reconstruída novamente. OK ? E esse é o grande mistério da Natureza, ou de Deus, como queiram. Ninguém, até hoje descobriu o porque de,
a um determinado momento, as moléculas deixarem de ser reduzidas a unidades menores e passarem a ser reconstruídas a unidades maiores formando, então, os ácidos humicos e huminas.
Isso é o que acontece. E essa reconstrução é feita exatamente PELOS PRÓPRIOS MICRORGANISMOS do solo. PONTO.
Dessa forma, não existe o tal de “quando acabar de decompor a M.O., vão decompor o Humus”. Esse processo, decomposição de M.O., por um lado, e construção do Humus pelos microrganismos, por outro lado, são processos que acontecem ao mesmo tempo. São feitos por grupos distintos de microrganismos.
Vou tentar aqui nesse pouco espaço te dar uma idéia de como as coisas se processam:
A coisa toda se processa como uma Cascata Biológica.
Todo o processo se dá a partir da Fotossíntese, que produz o chamado “Carbono Liquido” e o envia para as raízes.
Açucares são liberados como exudatos radiculares. As populações de bactérias de desenvolvem rapidamente e utilizam esses
açucares. A medida que as populações bacterianas se desenvolvem elas extraem minerais da matriz do solo e constroem suas
próprias células e protoplasmas.
As plantas absorvem os metabólitos microbianos e se tornam excepcionalmente eficientes em termos energéticos, o que
resultam em níveis elevados de lipídeos.
O processo de exudação de lipídeos se inicia e são digeridos pelas comunidades fúngicas que, então, começam a se expandir
rapidamente.
É dessa digestão fúngica de lipídeos que resulta na formação de substancias húmicas estáveis com meia vida de centenas de anos.
A humificação é o final do processo que começa na fotossíntese e eu desconfio que é totalmente ditado pelos microrganismos de solo,
a.k.a., bactérias, já que as plantas enviam até 97% , em alguns casos, de todo o seu fotosintetizado para o solo nos dando a impressão
que não são elas que, de fato, “dão as cartas”.
Todo o sistema vegetal está montado em cima do trabalho de captar o CO2 da atmosfera e lavá-lo ao solo que é, no final das contas, o lugar dele sob a forma de HUMUS ESTÁVEL.
A falta de entendimento de como se processa a Natureza não contribui em absolutamente nada para que possamos tomar as devidas
providências sobre como manejar a cobertura vegetal.
Espero ter respondido as suas perguntas.
José Luiz
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Respondeu sim, muito obrigado. Espaços como esse, em que podemos discutir ciência sem se preocupar com o “ego ideológico” dos envolvidos e/ou citados são raros. Afinal de contas, resolver problemas é mais importante do que massagear a vaidade de quem quer que seja. Muito obrigado pela sinceridade intelectual.
Fábio
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Bom dia,
Você teria um bom autor/livro pra recomendar sobre materia organica e humus? Essas informações que citou acima por exemplo, aonde posso encontrá-las além daqui?
Muito obrigado
Fábio
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Veja, eu venho organizando uma biblioteca sobre Agricultura Sustentável com ênfase em Agricultura Biológica desde 1998.
Hoje devo ter mais de 300 livros sobre esse assunto além de assuntos correlatos, a maioria dos quais nenhum desses chamados “agro ecologistas” brasileiros sequer suspeitam que possam existir.
Como todo mundo comecei com o “Manejo” da Primavesi e com o livro do Chaboussou. E também com as indefectíveis cartilhas agroecológicas que misturam agricultura com política. Eu pude logo perceber que “desse mato não iria sair nenhum coelho “.
Aqui no Brasil, infelizmente ainda estão muito em cima do livro da Primavesi que está cheio de incorreções e do tal de Chaboussou que igualmente está cheio de meias verdades e de falsas informações. O mantra da “proteólise X proteosíntese” é simplesmente risível.
E a prova do que eu digo, é que essa agricultura que se originou desses ensinamentos conseguem apenas cultivar no máximo 1% de toda a área agricultável do Brasil e com produtos com qualidade e densidade nutricionais de baixa qualidade.
Esse tipo de agricultura não vai decolar e não vai dar em nada.
Além do mais, e ai eu sinto muito em dizer isso mas, Sorry Periferia, tive o prazer e a honra de conviver com Charles Walter fundador da ACRES USA e autor de vários livros sobre Eco-Agriculture, Dr Dan Skow, DVM, aluno direto de Carey Reams, Bruce Tainio, esses infelizmente já falecidos e com Dr Phil Callahan, Dra Elaine Ingham, Neal Kinsey, aluno direto do Prof William Albrecht, Phill Wheller, amigo pessoal e aluno direto de Carey Reams, Dr Arden Ardensen, aluno de Carey Reams,, Hugh Lovel, Graeme Sait, todos meus amigos pessoais e agora com John Kempf, jovem brilhante e herdeiro de toda essa tradição, com quem aprendi bastante também.
Posso ter esquecido alguém e desde já me desculpo.
Vc me pergunta de onde saiu o que eu citei “acima” ( agora abaixo).
Obviamente, da minha própria cabeça é que não foi. Não sou Auto-Didata. Aliás, nem existe tal coisa. Ninguém consegue educar a si próprio. Todo mundo é educado e influenciado por alguém. Eu fui muito influenciado por todos esses mestres e mentores. Foi de algum deles que saíram as minhas ideias. Na verdade de todos eles.
No Brasil, quem lê muito é discriminado. Principalmente, se as coisas que são lidas não fazem parte daquele “cardápio” previamente estabelecido pelo status- quo politico ideológico esquerdizante que domina a academia, imprensa, governo e Ongs.
Portanto, eu lhe passo essa lista já com essa devida advertência.
Mas vc esteja a vontade p/ consultar os seguintes livros que vão lhe dar uma idéia muito clara sobre o que eu disse, sobre Humus para início de conversa. A Cascata Biológica, ainda não pois fiquei sabendo dela nesse ultimo evento da Acres USA de Dezembro de 2018 no qual o Kempf comentou mas ainda não publicou, mas existem evidências de sobra para corroborar o que ele disse e que eu coloquei aqui.
Mas, se o seu interesse não for acadêmico, eu simplesmente não vejo nenhuma razão na sua pergunta.
Eu já trabalhei, construi, palestrei, ministrei cursos e publiquei o suficiente para que A MINHA PALAVRA simplesmente seja o suficiente.
Será que eu preciso ficar citando as fontes o tempo todo ?
Eu devo te alertar que em outros países isso realmente não é visto com bons olhos.
Aqui no Brasil eu já me acostumei porque essa figura de linguagem, ou seja, o “Argumentum ad Ignorantia” é bastante usado sem o devido cuidado se isso irá ferir ou não a susceptibilidade do interlocutor.
Ou não ?
Mesmo assim te faço a gentileza de listar as obras abaixo:
1. Krasil’Nikov, N.A. (1958) Soil Microorganisms and Higher Plantas, Academy of Sciences of the USSR, Institute of Microbiology, Published for The National Science Foundation and The Department of Agriculture USDA by the Israel Program for Scientific Translation em 1961.
Dois Volumes. Esse livro é fundamental. Toda essa informação da antiga URSS ficou “represada” devido a Guerra Fria.
Esse é o pai dos burros. Esse eu te garanto que a Primavesi não leu. Centenas de pgs. IMPORTANTÍSSIMO.
2. Rateaver, B and G (1993) The Organic Method Primer, The Rateavers, Ca., 596 pgs. Também não deve ter lido.
3. Garcia, J.L.M. ( 2003) Curso Teórico e Prático sobre AGRICULTURA BIOLÓGICA, Instituto de Agricultura Biológica, 200+ pgs. Não leu mas me pediu cópia de todas as ilustrações contidas nessa apostila-livro, em 2003, em um evento do Instituto Biológico de SP.
4. Albrecht, W.A. ( Varias datas ) The Albrecht Papers, Coleção de 7 volumes, Acres USA., mais de 1.500 pgs.
Com relação a Compostagem e Humus, já que os dois estariam relacionados, temos:
I . Walters, Charles. (1993) Fletcher’s Sims Compost, Acres USA, 247 pgs.
II. Walters, C. & Fenzau, C.J. (1996) ECO-FARM, Acres USA, 447 pgs.
III. Beck, Malcolm ( 1997) The Secret Life of Compost, Acres USA, 150 pgs.
IV. Zimmer, Garry ( 2000) The Biological Farmer, Acres USA, 351 pgs.
V. Lovel, Hugh (2016) Quantum Agriculture, publicação própria, Australia.
VI. Erhard, Henning (1995) Secret of Fertile Soils, Acres USA, tradução da versãp alemã publicada em 2015, 188 pgs. – MUITO IMPORTANTE
VII. Brunetti, Jerry ( 2014) The Farm as Ecosystem, Acres USA, 335 pgs.
VIII. Ohlson, Kristin ( 2014) The Soil Will Save Us, RODALE, 242 pgs.
IX. Montgomery, D.R. ( 2016) The Hidden Half of Nature, W W Norton & Co., 309 pgs.
X. Ridzon, Leonard ( 1994) The Carbon Cycle, Acres USA, 150 pgs.
Eu me orgulho muito de ter leitores em todas as partes do mundo. O tradutor do Google hoje permite que isso ocorra.
Vejam vocês que depois do Brasil, por motivos óbvios, os maiores leitores que eu tenho estão localizados nos EUA e depois no Paraguai.
Portugal, por exemplo, pais de língua portuguesa, lê muito pouco os meus textos. Isso nos dá uma idéia indireta de quão provincianos e
atrasados eles são. Devem sofrer justamente daquelas amarras politico-ideológicas que eu citei acima. Mas posso estar enganado.
O Paraguai, mesmo sendo um país de língua hispânica, é um país dinâmico que cresceu 7% no ano passado, progressista, de mente aberta
e tenho certeza que está colhendo os devidos frutos dos meus ensinamentos.
Nos meus cursos eu procuro sempre veicular esses ensinamentos que foram boicotados e suprimidos de todos vocês por décadas devido
a essa intolerância politico-ideológica dos chamados ícones da agro ecologia.
De toda maneira eu te agradeço, porque a sua pergunta demonstra simplesmente que é preciso escrever mais sobre o que vem a ser o Humus. O seu papel no solo, os dois tipo que existem – o lábil e o resistente, o processo formador, o porque no Brasil , as vezes fica mais difícil esse processo de acumulação e que gerou a falsa idéia do “solo tropical” outra falácia das teorias esquerdizantes, e assim por diante.
Quem sabe HUMUS não seja o titulo do meu próximo artigo ?
Atenciosamente
Jose Luiz M Garcia
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Bom dia
Muito obrigado pelas fontes citadas. Bom, não sou acadêmico, sou produtor, tenho 33 anos e estou no começo da minha caminhada, mas tenho uma curiosidade científica enorme e estudo diariamente. Foi só por isso que perguntei, na verdade esse blog tem sido uma das minhas principais fontes de informação nos últimos meses. Entro aqui diariamente.
Tomo ele como um norte, e perguntei sobre as fontes pois acreditei no que você disse, e quis me aprofundar no assunto, longe de duvidar da sua palavra, eu a levei a serio e quis seguir o caminho que o seu texto indicou.
Tenho uma lista de livros a comprar e ler, quase todos saídos daqui.
Muitíssimo obrigado pelas referências, pode ter certeza que serão lidas.
Estarei no curso em Pindamonhangaba.
Um abraço
Fábio Ribeiro.
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O curso é um bom local para se dirimir algum tipo de dúvida.
Fico feliz em saber que estarás participando.
Abs
José Luiz
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