Quando a adubação limita os seus lucros
Em Agricultura, e isso é ensinado até hoje em todas as escolas de Agronomia, fala-se muito na chamada “Lei do Mínimo “. Essa lei teria sido enunciada por Carl Sprengel em 1840, mas ela é geralmente atribuída ao criador da Teoria Mineral da Nutrição Vegetal, o alemão Justus von Liebig ( 1 ).
Todas as vezes em que a industria de fertilizantes químicos solúveis iônicos quer enfatizar a importância desses insumos na produção agrícola, o indefectível barrilzinho, com algumas das suas aduelas de tamanho menor jorrando o conteúdo, é mostrado como exemplo ilustrativo dessa lei, e isso é feito “ ad nauseam “. Ninguém contesta esse fato.

Fig. 1 – Desenho ilustrativo da Lei do Mínimo
As pessoas engolem esse desenho como se fosse a coisa mais óbvia e verdadeira desse mundo. Afinal existe uma lei, que é ensinada pela academia, e existe até um desenho que a ilustra. Nada mais fácil de entender.
Esse é o arcabouço no qual toda a ciência da nutrição de plantas está baseada : O nutriente que estiver em menor quantidade no solo será aquele que irá determinar a produtividade máxima de uma lavoura. Essa é a famosa Lei do Mínimo.
Em termos práticos, os níveis dos nutrientes existentes quer seja no solo ou nas folhas são determinados e adiciona-se o que estaria faltando ou em níveis baixos.
Entretanto, a Natureza nunca foi tão simples assim e como bem colocou Kempf ( 2 ) ocorre, na maioria das vezes, dois tremendos “furos” de conceituação com respeito a aplicação da Lei do Mínimo.
A Lei do Mínimo é usada seletivamente para a utilização de Nitrogênio, Fósforo e Potássio, mas é pouco ou quase nunca usada no que diz respeito a utilização de zinco, cobre, manganês, cobalto e molibdênio ( e eu diria que também o ferro ).
Outro fato a ser considerado é que esse paradigma é comumente aplicado sem nenhuma consideração a sua perspectiva oposta, ou seja a chamada Lei do Máximo.
A Lei do Máximo enuncia que : os nutrientes que estão presentes em excesso limitariam a produtividade ao nível mais alto daqueles nutrientes que estiverem sendo antagonizados por esse mesmo excesso.
Um dos primeiros estudos e tentativas de se visualizar o que ocorre realmente no solo e nas folhas nos foi apresentado por D. Mulder com o seu “Gráfico de Mulder “. Em 1953, D. Mulder publicou o seu trabalho “ Les elements mineurs en culture fruitière” e criou o seu, hoje famoso, gráfico que explica de que forma os diferentes nutrientes interagem.

Fig. 2 – Gráfico de Mulder que tenta explicar os antagonismos e os sinergismos que ocorrem entre os diversos elementos do solo.
Kempf ( 2 ) lembra que depois que começou a usar a Sap Analysis em larga escala foi que rapidamente tornou-se muito evidente que a Lei do Máximo é frequentemente negligenciada.
Frequentemente o excesso de nutrientes que o produtor aplica é que causa deficiências de outros elementos. Aliás, Albrecht já dizia nos idos das décadas de 40 e 50 que “a melhor forma de se corrigir as deficiências é corrigindo os excessos “ ( 3 ) .
São essas deficiências, provocadas pelo excesso geralmente de NPK, que frequentemente exercem um fator limitante a saúde das plantas e ao potencial das suas safras.
Excessos de Nitrogênio e de Potássio, em estágios de desenvolvimento errados irão lhes custar produtividade em várias lavouras, devido a deficiências que são criadas por esses mesmos elementos quando em excesso.
Dessa forma, e a título de exemplo, a produção de Milho baseada nas recomendações normalmente preconizadas pelo status-quo do Agronegócio, na base de 1 unidade de N para cada saca de milho produzida, irá forçosamente induzir deficiência de Molibdênio e, com isso, gerar plantas com excesso de nitratos que fatalmente irão atrair insetos, obrigando os produtores a intervir quimicamente nas suas lavouras aumentando os seus custos e reduzindo dessa forma a sua lucratividade.
Esse fato exemplifica bem como e onde a chamada agricultura convencional erra e explica o porque dessa agricultura ecocida levar parte dos seus lucros e, por isso, estar fadada a ser descontinuada na medida em que cada vez mais e mais agricultores se tornem cientes desses fatos.
José Luiz M Garcia
Instituto de Agricultura Biológica
Janeiro de 2020.
Referências
- Pommeresche, Herwig ( 2019 ) HUMUSPHERE – Humus: A Substance or a Living System ?, originalmente publicado como Humussphäre : Humus – ein Stoff oder ein System, por OLV Organisher Landbau Verlag, Kevelaer, Germany, Tradução Paul Lehmann, ACRES USA, Greely, Colorado, USA, 263 pgs.
- Kempf, John ( 2020 ) When Nutrient Application Cost Yield, Johnkempf.com, https://johnkempf.com/when-nutrient-applications-cost-yield/
- Albrecht, William A. ( 1975 ) THE ALBRECHT PAPERS, Volume I – Foundation Concepts, Acres USA, Metairie, Louisiana, 515 pgs.
come sempre , perfeito nas colocacoes
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A gente tenta.
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