Rir para não chorar
Inicio esse artigo pedindo desculpas aos meus milhares de leitores em outros países que diariamente consultam esse blog, por estar abordando um assunto exclusivamente e estritamente brasileiro.
Talvez a maioria dos srs. não saibam mas temos muitos leitores nos EUA, Portugal, Paraguai, na maioria dos países da Europa, Africa e América Central, que se valem desses programas de tradução instantânea para lerem os meus textos e se manterem informados sobre essa nova agricultura verdadeiramente regenerativa, revolucionária e verdadeiramente verde.
Essa semana me enviaram um vídeo, de uma série denominada “Lendas da Nutrição de Plantas “, patrocinado por uma empresa norueguesa de fertilizantes instalada aqui no Brasil e que ficou com um pequeno market share que os russos permitiram que ela ficasse, do mercado de fertilizantes brasileiro, e que, talvez por isso mesmo, esteja desesperadamente querendo aumentar as suas vendas.
Para melhor entender o que a empresa de fertilizantes queria dizer com “Lenda “, procurei o significado no dicionário e encontrei algumas explicações.
Por ex.: “narrativa fantasiosa transmitida pela tradição oral através dos tempos”. Concordei.
Outros sinônimos: lenga-lenga, quimera, mentira e cantilena. Sou obrigado também a concordar. Aparentemente é isso mesmo o que significa o tal vídeo.
Caso alguém ainda não saiba, o mercado de fertilizantes no Brasil é dominado pelo capital estrangeiro em cerca de 90 % , notadamente pelas empresas russas.
Esse fato, por si só, já mostra como o Brasil se encontra fragilizado em termos de soberania nacional. O que esses números demonstram claramente ?
Demonstram simplesmente que os brasileiros já não são mais donos do seu destino em se tratando da produção de alimentos baseada no falso paradigma convencional da produção de alimentos alicerçada em fertilizantes químicos solúveis iônicos.
Hoje em dia, fala-se muito em termos de “agronegócio”, em “sustentabilidade” e de que esse setor carregaria o Brasil nas costas, que é exemplo de profissionalismo para o mundo, já que não depende de nenhum subsídio, etc e coisa e tal.
Entretanto esses mesmos srs. que ficam repetindo esse mantra ad infinitum se esquecem de dizer que nós dependemos da boa vontade do Sr. Vladimir Putin para produzir alimentos no Brasil. Não creio que isso seja exemplo de sustentabilidade para ninguém.
Nesse momento, em que vários representantes das forças armadas ocupam cargos de destaque e estratégicos no governo brasileiro, essa aparente ignorância por parte de quem deveria estar interessado verdadeiramente na nossa soberania demonstra mais uma vez que o Prof. Olavo de Carvalho tem toda a razão quando diz que os militares não passam de um bando de “bunda-moles”. Não há como não dar razão a ele.
O que o governo brasileiro, que se diz nacionalista, deveria estar fazendo no presente momento é exatamente o que os governos militares pós 1964 fizeram, isto é, investir recursos em pesquisas na área de microbiologia do solo no sentido de gerar tecnologias que nos permitam sermos livres de Putin, como fizeram a Dra Johanna Dobereinner com a descoberta, o isolamento e a classificação do gênero Azospirillum, naquela época.
Graças as suas pesquisas hoje o Brasil economiza mais que 2 bilhões de dólares por ano na importação de fertilizantes nitrogenados.
Que outras bactérias estariam esperando pacientemente no solo para serem descobertas, classificadas, multiplicadas e utilizadas no tocante a disponibilização do Fósforo e do Potássio, e com isso serem transformadas em mais uma tecnologia limpa para a produção de alimentos a baixo custo e sem exercer pressões desnecessárias sobre o meio ambiente como fazem os fertilizantes químicos solúveis iônicos que vão acabar se depositando nos lençóis freáticos, aquíferos e no mar ?
Deveriam estar investindo em estudos sobre a matéria orgânica e sobre a formação de humus em terras tropicais, que durante décadas se acreditou ser uma tarefa impossível, atrasando todo o movimento de agricultura regenerativa por décadas no nosso país.
Mas, o que me motivou a escrever esse texto foi o conteúdo daquele vídeo que focalizava um verdadeiro fóssil vivo em se tratando de nutrição vegetal. Temos naquele vídeo a chance e a oportunidade de efetuar uma viagem ao passado em termos de nutrição vegetal. De volta a década de 80. De volta ao passado.
O abdominoso técnico carece de um perfeito entendimento até mesmo sobre a química do solo, disciplina a qual ele aparentemente idolatra, em detrimento da biologia e da física, outras duas disciplinas que explicam toda a realidade existente não só no solo, mas também em todos os demais aspectos da vida, ao afirmar que “precisamos aplicar o calcário para combater a acidez do solo” e um outro absurdo ( pasmem ) “a acidez do solo é um item da maior importância para a agricultura brasileira “ ( sic ).
Esqueceu que o excesso de acidez nada mais é que um sinônimo de falta de Cálcio ( principalmente) ou de Magnésio ( menos frequentemente), ou de Potássio ( também na maioria das vezes ) e até mesmo de Sódio ( em alguns poucos casos ). Realmente uma lástima. São esses os “doutores” da agricultura brasileira que só conseguem enxergar a realidade vista apenas por um dos seus vários ângulos.
O copo está meio cheio ou o copo está meio vazio ? Se o copo estiver vazio, precisamos adicionar água e não “combater o excesso de ar “. O excesso de ar não é o problema. O problema é a falta de água no copo.
Demonstrou uma opinião ambígua quando enfatiza que a agricultura brasileira “caminha com suas próprias pernas sem precisar de subsídios” ao mesmo tempo em que defende o paternalismo da extensão rural para os “pequenos agricultores”.
Manifestou também uma ignorância abissal ao declarar que “a mata, ao ser queimada, provia nutrientes por três anos e depois decaía “ sem se perguntar, em primeiro lugar, como é que aquela mata havia se formado, sendo que nunca foram usados nenhum tipo de fertilizantes na sua formação ? Em nenhum momento passou pela cabeça desse bojudo senhor que o melhor teria sido tentar descobrir como as plantas realmente se nutrem e se desenvolvem e tentar imitar justamente a mata e assim fazendo mimetizar a Natureza.
A falta de entendimento de como funciona a Natureza colocou o beselga em uma posição ridícula para quem se considera o papa da fertilidade do solo. Hoje em dia falar que “as plantas não “comem” fertilizantes orgânicos” significa apenas uma única coisa, e isto é, o total desconhecimento do funcionamento das plantas. Desabona quem faz esse tipo de declaração desinformada. Submete-o ao ridículo e, esse total desconhecimento técnico-científico, acaba respingando sobre a empresa que o contratou e o remunerou para dizer esse amontoado de asneiras.
Sabemos, hoje em dia, que as plantas são capazes de absorver tanto amino ácidos por via foliar e radicular, como proteínas inteiras (pelo processo de endocitose) e que tem na rizofagia, a sua principal forma natural de se nutrir por meio da internalização de inúmeras espécies de bactérias de vida livre, que fixam nitrogênio e produzem substâncias promotoras de crescimento ( PGPRs ), pelas extremidades dos pêlos absorventes conforme demonstrado pela pesquisa.
Sabemos que as micorrizas fazem um trabalho admirável ampliando o raio de ação das raízes de 10 a 100 vezes e que toda aquela entourage microbiológica que vive próxima as raízes trabalha ativamente cedendo moléculas diferenciadas que são exatamente as substâncias para a qual a Natureza dotou as plantas, depois de bilhões de anos de evolução, ou seja, os metabólitos microbianos e que essas substâncias são sim absorvidas e conferem as plantas justamente a nutrição necessárias para que elas tenham saúde e resistência as doenças e não, obviamente ions químicos solúveis.
Não são os ions químicos solúveis que conferem as plantas imunidade as doenças e as pragas mas sim os metabólitos microbianos.
Para desabonar a nutrição vegetal foliar, que hoje sabemos ser a forma mais econômica de se nutrir as plantas em termos de custo X benefício, proferiu verdadeiros impropérios sobre o Greening sem mencionar que no Brasil, é uma propriedade orgânica que apresenta os menores índices de infestação pelo psilideo.
Sem mencionar que na Flórida várias fazendas conseguiram reverter o problema com um manejo biológico usando produtos sobre os quais esse ventripotente senhor nem sequer conhece ou jamais ouviu falar.
Surpreendeu-se com o efeito do fertilizante nas terras do seu avô justamente porque mesmo naquela época ele já não tinha mais “solo”, isto é o que hoje é considerado solo.
Um solo com humus, teor adequado de matéria orgânica, micro vida, muito provavelmente pelo manejo inadequado que, à época, incluía aração, solo descoberto, falta de biodiversidade, falta de rotação de culturas, condições oxidantes, etc… Seu avô tinha tão e simplesmente um amontoado de terra ou “dirt” ( sujeira como dizem os americanos ). Não mais um solo vivo.
A analise de terra ( e não de solo como ele afirma ) está com os seus dias contados.
Hoje sabemos que não existe nenhuma relação entre o nível de Magnésio no solo e o nível de Magnésio na folha e assim sucessivamente. Então, analisar terra para que ?
Como ele próprio afirmou analisamos a terra e “colocamos o que está faltando” usando sempre a famigerada Lei do Mínimo sem nunca considerar a Lei do Máximo.
Jamais os excessos são considerados nessas recomendações.
Se como ele mesmo diz que a pulverização foliar não funciona, porque será então que as plantas respondem tão bem a pulverização foliar com Sulfato de Magnésio ? Não deveriam, de acordo com esse palaiudo senhor.
Ponto negativo para a empresa que o contratou. Fertilizantes químicos ainda tem o seu lugar até que novas tecnologias sejam adotadas e que substituam o seu uso. Não precisavam “apelar” desse jeito. Doze toneladas de calcário por hectare pode fazer algum sentido com relação a Saturação de Bases porém não fazem nenhum sentido com relação a micro vida do solo que será totalmente destruída por esse absurdo e por esse devaneio agronômico.
O que as empresas de fertilizantes precisam entender é que os tempos desses senhores defecarem suas regras doutorais para uma população de ignorantes já acabou e que os nossos olhos e ouvidos não são penicos.
Existem milhares de propriedades que são capazes de produzir alimentos saudáveis, de forma lucrativa, com maior densidade nutricional, contrariando tudo o que foi dito por esse senhor.
Iniciativas como essa dessa empresa, que ainda por cima escalou uma jornalista que não tem a minima intimidade com o tema agrícola, não contribuem em nada para o desenvolvimento de uma agricultura mais lucrativa, ecologicamente correta, não poluente ambiental e sustentável.
E nem irá alavancar as suas vendas com certeza absoluta.
Os tempos mudaram e eles não se deram conta.
José Luiz M Garcia
25 de Janeiro de 2020.
Instituto de Agricultura Biológica
Atualmente agricultores, técnicos, utilizam varias formas de fazer agricultura.
Plantio convencional, plantio direto na palha, plantio na laje…solo compactado desprovido de palha, água, ar, MO, vida…mas gastando milhões em máquinas extremamente pesadas, outro tanto em sais, gesso, cloreto de potássio, calcários…. fontes altamente solúveis de fertilizantes… minha experiência em milho safrinha no no MT, sem fósforo solúvel na linha de plantio, comparado com 800 gramas de P2O5 fósforo natural grudado em 65.000 sementes de milho/ha, elevou a produção em 18 sacas/ha do mesmo!
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Correto !
E se você adotasse o sistema de CPI ( Pontos Críticos de Influência) pulverizando com o que a planta requer nas janelas de
1. Diferenciação do numero de Espigas
2. Diferenciação do números de carreiras por espiga
3, Diferenciação do numero de grãos por carreira
4. Enchimento dos grãos
Iria ver que o aumento de produção seria bem maior. ainda.
A mesma pulverização feita dentro da janela provocou aumento de 30 sacos de milho quando
comparada com aumento de apenas 5 sacas de milho/ha dessa mesma pulverização feita fora
da janela.
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Boa noite José Luís Garcia.
Sou agricultor e gostaria de fazer seus cursos.
Interesso muito pelos assuntos que aborda e da maneira que explica.
Uma visão diferente e que acredito que é o caminho correto que temos que seguir.
Obrigado.
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Oi Mario,
Eu ainda não comecei a minha jornada de curso desse ano.
Quando eu tiver algum curso programado eu coloco aqui no blog e se o local for próximo a sua região
você poderá se inscrever.
Eu divulgo todos os cursos aqui nesse blog.
Abs
Jose Luiz
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Ótimo conteúdo!
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olá, Ivo. Pretendo fazer isso nessa safrinha. Do nosso fosfato 800 b de p2O5 dariam 4 kg de fosfato natural. Como o sr faz para que toda essa massa agarre nas 65 mil sementes? Pergunto porque gostei da ideia, mas no nosso tratador acho que ficaria no fundo (aquele tratador de rosca da Trevisan). Abraço
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Embora não tenha sido o destinatário dessa mensagem me sinto na obrigação de informar o que sei sobre
o tratamento de sementes por essa via.
O Termofosfato, que é uma rocha derretida a 1.800 graus C e depois impedida de se recristalizar, sem sombra de
dúvidas faria um efeito bem superior que simplesmente usar os fosfatos naturais, ainda que moídos a nano partículas.
Aliás, os experimentos feitos pela Yoorin deram um excelente resultado. Eu não sei porque eles pararam de seguir
essa senda. Talvez seja porque o consumo do produto seja o minimo.
Mas para grudar eu usaria simplesmente um pouco de melaço. E obviamente não deixaria de usar extrato de composto.
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No caso senhor vinagre
A pulverizacao foliar pode ser uma auxílio importante na adubação ?
Como selecionar tipo e produtos na hora de adubar foliar ?
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Oi Everlando
O meu nome é José Luiz M Garcia
O apelido é que é Dr Vinagre PhD.
A origem desse apelido é porque a maioria dos “doutores” brasileiros já
foram para o vinagre há muito tempo, como esse rotundo entrevistado, e por isso
eu não tenho o mínimo respeito pela maioria deles. Existem honrosas exceções.
Esse assunto da pulverização foliar é um dos tópicos do meu curso.
Não faz sentido eu te ensinar como fazer pulverização sem discutir todos os demais
aspectos envolvidos na produção agrícola regenerativa.
Quando você pergunta: “A pulverização foliar pode ser um auxílio importante na adubação ?”
já demonstra que vc tem uma idéia equivocada de como as plantas se nutrem e de como devem ser
conduzidas. Na sua mente a adubação vem sempre em primeiro lugar, logo a pulverização seria
sempre um “auxílio”.
Primeiro é preciso desmistificar a crença de que as plantas não podem ser cultivadas sem adubo.
Isso é um mito. Se vc acredita nesse mito fica difícil prosseguir e eu te ensinar.
Lendo os meus textos vc irá perceber que são as plantas que fazem o solo e não o solo que faz as plantas.
A prova disso é a floresta amazônica. Quem aduba a floresta amazônica ?
Abs
José Luiz, a.k.a. Dr Vinagre Phd.
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Concordo com tudo, perdemos décadas fazendo errado, mas a agricultura familiar sofre duas vezes por não saber e não ter a quem recorrer, não há mais tempo para se aprender errando!
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Concordo com você, entretanto hoje em dia já existem milhares de propriedades pequenas, médias e grandes
que são a prova viva de que podemos fazer a coisa certa produzindo alimentos de qualidade, limpos e ao mesmo
tempo fixando carbono no solo que é o lugar onde ele pertence.
A Agricultura Familiar perdeu muito tempo dando ouvidos a figuras de proa de esquerda. Simplesmente não dá para misturar
agricultura com política . Concentre-se nesses novos ensinamentos da agricultura biológica e regenerativa, dê uma banana
para a esquerda e comçe um sistema de cultivo e de venda direta, de preferência na sua própria localidade.
Não é tempo de aprender errado. O tempo é de desaprender o que você aprendeu de errado. E preencher esse vácuo
com novos ensinamentos.
A agricultura é um sistema dinâmico portanto terá que se manter atualizado constantemente.
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Li seu artigo e concordo, a agricultura é dinâmica, é vida. Precisamos divulgar mais esta, que eu chamo de lei da natureza.
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Grande reflexão, as praticas da grande industria e interesses Sempre dominaram e dominam a atual agricultura. Criam dependentes… É importante observar a natureza e perceber a vida. Parabéns mais uma vez pelo artigo
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Agradeço
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