Uma evolução natural do tradicional E.M. ( Efficient Microrganisms )
Talvez essa nova geração de agricultores ecológicos e sustentáveis não conheça a história por detrás de vários dos consórcios de microorganismos que existem no mercado como Bacsol, Fertibokashi Premium, BioSymphony, etc… assim como pode ser que também não conheçam a história por detrás do mais famoso deles todos, ou seja, o E.M.-1® produzido pela EMRO e o Embiotic produzido pela Korin Meio Ambiente. O popular E.M.
A fermentação natural é um aspecto da cultura oriental e ocidental. No Japão, Coréia e demais países asiaticos são consumidos inúmeros alimentos fermentados, como por exemplo, o Nattô ( soja fermentada pelo Bacillus subtilis var. natto ), Kimchi, missô e tempeh. No ocidente temos também o Chucrute, uma fermentação a base de lactobacillus e leveduras do meio ambiente, Yogurt , Kefir, alguns queijos, pão de fermentação natural, cervejas e vinhos entre outros( 1, 2 ). Fermentar faz parte da cultura humana. Sempre foi assim.
Na Agricultura, existem referências sobre a utilização desses consórcios de microrganismos antioxidantes sintrópicos pelo menos desde 1940. Um dos principais exemplos desses consórcios seriam as preparações biodinâmicas que comprovadamente contém Bactérias Acidófilas Lacticas ( BAL t.c.c. Lactobacillus) como também uma quantidade significativa de Bactérias Purpuras Não Sulfurosas( t.c.c. PNSB e BPNS ) geralmente em consórcio com leveduras e vários outros microrganismos de solo, vale dizer que também são frequentemente classificadas como enterobactérias.
Muito antes do Prof. Teruo Higa , da Universidade de Ryukyus, em Okinawa no Japão ter criado o mais famoso de todos consórcios de microrganismos antioxidantes sintrópicos ( t.c.c. MAS e SAM ), entre as décadas de 70 e 80, o popular E.M., que foi difundido no Brasil e no mundo por intermédio da Igreja Messiânica que propaga os ensinamentos de Mokiti Okada, o Prof. M. Kobayashi já vinha pesquisando o uso agrícola das Bactérias Purpuras Não Sulfurosas (BPNS t.c.c. PNSB ) no tratamento de resíduos agrícolas como lagoas de decantação de operações pecuárias.
Porém, o Dr Higa sabia que essa classe de bactérias, apesar de ter propriedades excepcionais, pois dispõe de cinco tipos de metabolismo ( três anaeróbicos e dois aeróbicos ) tinha um efeito muito limitado e frágil quando usadas isoladamente ( monocultura ) ou mesmo em associação com várias espécies desse mesmo gênero ( monocultura de gênero ) e não funcionavam adequadamente numa faixa maior de pH, temperatura e outras condições ambientais e que esse fato, bastante evidente e radical, limitava a sua utilização em várias situações no mundo real.
Levou alguns anos para que o Prof. Higa conseguisse fazer com que esse grupo de microrganismos ( BPNS ) funcionassem adequadamente com outros grupos de microrganismos, a saber, leveduras benéficas, bactérias lácticas e Bacillus, trabalhando em seu laboratório na Universidade de Ryukyus.
Aparentemente em 1983 ele conseguiu “convencer” as Bactérias Purpuras Não Sulfurosas ( BPNS ou PNSB ) a trabalhar em consórcio com leveduras benéficas ( Saccharomyces sp.), bactérias lácticas ( Lactobacillus sp ) e Bacillus ( B. subtilis ), formando assim, o primeiro EM-4 já que era composto de quatro grupamentos de microrganismos benéficos, funcionando em concerto, conforme o diagrama abaixo ( 3 ).

Fig.1 -Mecanismo de ação de um consórcio de SAM modificado do mecanismo proposto por Higa e citado por Pinto e Footer ( 3 ).
Por que motivo os consórcios microbiológicos japoneses do tipo E.M. tiveram tanto sucesso no Brasil e no mundo ?
Em primeiro lugar porque são realmente eficientes como o seu próprio nome indica.
Em segundo lugar, porque são compostos. na sua grande maioria, de organismos anaeróbicos ou aeróbicos facultativos. Uma vez que a maioria dos solos estão degradados, é de se esperar que condições anaeróbicas ou de baixo teor de oxigênio disponível prevaleçam nesses mesmos solos, razão pela qual consórcios feitos de organismos anaeróbicos ou facultativos tenham mais facilidade de se estabelecerem nos solos degradados do que os usados pela atual “febre” de microrganismos aeróbicos extraídos dos compostos ditos aeróbicos nos chamados “ Compost Teas “.
Terceiro, porque o Dr Teruo Higa foi quem descobriu e chamou a atenção para as propriedades anti-oxidantes desses grupos de microrganismos, notadamente das BPNS. A maioria dos solos estão oxidados, quer seja por excesso de cultivo, arações sucessivas, gradeações, adubações químicas, produtos químicos usados para o controle de mato, nematóides, doenças e pragas, secas prolongadas e devido as próprias condições do solo naquele momento. Grande parte dos nutrientes minerais, quando estão na forma oxidada, não podem ser absorvidos pelas plantas, razão pela qual os consórcios de microrganismos anaeróbicos aumentam a disponibilidade de vários deles como Ferro, Manganês, etc…
As leveduras, por serem mais ativas e virulentas, junto com os Bacillus, formariam a primeira linha de ataque, que ao morrerem deixariam substrato para o crescimento e desenvolvimento da segunda linha de ataque, quanto então, todas iriam alimentar as BPNS.
Quase que ao mesmo tempo, o Mestre Cho, do movimento que criou a Korean Nature Farming ( KNF ) foi estudar no Japão com basicamente três professores japoneses, a saber Miyozo Yamagashi, Kimshi Shibata e Yasushi Inoue, que lhe transmitiram os ensinamentos da KNF que ele vem ensinando desde 1979 ( 4 ).
Han-Kyo Cho, desenvolveu também o seu próprio consórcio de microrganismos ao buscá-los diretamente na Natureza, geralmente em matas nativas, mas também em bambuzais e em bosques de outras espécies vegetais, capturando-os com arroz cozido.
A partir desse consórcio inicial, obtido diretamente na Natureza, ele desenvolveu diversas outras receitas fermentativas usando ervas medicinais, pescado marinho, cascas de ovos, etc… É preciso que fique bem claro que esse método foi desenvolvido na Coréia do Sul e não no Japão como muitos imaginam.
Hoje em dia, existem outros métodos de captura desenvolvidos por mim aqui no Brasil, que são tão ou mais eficientes, menos trabalhosos e onerantes do que o entediante método de “arroz cozido dentro de bambu ou dentro de caixinha de madeira” usado quase que de forma religiosa pela maioria das pessoas que se dedicam a multiplicar os chamados Micro Organismos Indígenas ( t.c.c. IMO ou MOI ).
Para desenvolver e galgar patamares superiores de conhecimento é preciso ter imaginação, ousadia e coragem e não ficar eternamente preso a receitas que visam engessar, e até certo ponto controlar, quem as seguem. Foi com esse espírito ( e não seguindo receitas previamente estabelecidas ) que o Brasil conseguiu produzir mais soja que os Estados Unidos e hoje leva pânico às industrias de produtos químicos agrícolas obrigando-as a investir em tecnologias biológicas ( 5 ).
Por isso é que, após mais de 20 anos de contacto com a agricultura biológica e orgânica, foi que decidimos produzir nosso próprio consórcio de microrganismos embasado na tradição coreana de capturar consórcios nativos em diversos ambientes sintrópicos e na tradição japonesa de usar culturas puras produzidas em laboratório conceituados, combinados com todo o conhecimento laboratorial de nutrição microbiológica utilizado a décadas para multiplicar todos esses grupos de microrganismos benéficos, obtendo assim, um consórcio único e de terceira geração que colocamos a disposição de todos os interessados na via biológica.
José Luiz M Garcia
Maio de 2021
Glossário de termos usados
Anti-oxidante –
Molécula capaz de inibir a oxidação de outras moléculas. Os anti-oxidantes são agentes redutores. É um doador de elétrons. Ex: Acido ascórbico.
Bactérias também doam elétrons . Rhodopseudomonas palustris , uma BPNS, é uma importante doadora de elétrons.
Elas são anti-oxidantes por produzirem quantidades significativas de diversas substâncias com efeito anti-oxidante na forma de metabólitos, quando digerem a matéria orgânica, que pode variar desde partes vegetais a até esgotos ou material tóxico.
Por essa razão MAS são usados em bio-remediação por exibirem pronunciadas propriedades desodorizantes e desntoxicantes.
Sintrópico –
É tudo o que se opõe a entropia, ou perda natural de energia em um sistema. Tudo que contribua para a manutenção organizacional de um sistema.
Também conhecido por entalpia ou negentropia. Bactérias sintrópicas são todas aquelas que se ajudam mutuamente e cujo resultado final dessa cooperação é sempre o ganho de energia em um sistema biológico.
Se opõem a destruição, ao caos, a desordem, ao apodrecimento, e a degradação de varias moléculas. Ao contrário, contribuem para que compostos altamente estruturados e de elevada ordem sejam criados.
Literatura Citada
- Katz, S. Ellix ( 2003 ) Wild Fermentation – The Flavor, Nutrition and Craft of Live-Culture Foods, Chelsea Green Publishing Co., White River Junction, Vermont, USA, 187 pgs.
- Katz, S. Ellix ( 2012 ) The Art of Fermentation, Chelsea Green Publishing Co., White River Junction, Vermont, USA, 498 pgs.
- Footer, Adam ( 2014 ) Bokashi Composting, New Society Publishers, Gabriola Islands, BC, Canada, 163 pgs.
- Keliikuli, A et all. ( 2019 ) Natural Farming: The Development of Indigenous Microorganisms Using Korea Natural Farming Methods, Sustainable Agriculture, Feb. 2019, College of Tropical Agriculture and Human Resources, University ofHawaii at Mãnoa, SA-19, pgs 1 -9.
- Harris, Bryan ( 2021 ) Biological Controls in Brazil Threatens Crop Pests – and Chemical Companies, Financial Times, https://www.ft.com/content/d3e387a8-6350-4216-9121-98724a1059a6
Olá José Luiz, boa noite…bom dia!!! Gratidão por compartilhar competências!!! Quando e se possível compartilhar artigos relacionados com Rochagem, pó de Rocha, Remineralizador, microbioma do solo e rizosfera. Gratidão Abraço
CurtirCurtir
Dr. Luiz Garcia, parabéns pelo texto e as informações são de grande aplicabilidade prática. Para fomentar a discussão e ajudar ainda mais ao leitor, seria possível exemplificar quais insumos usados na agricultura são oxidativos e redutivos?
CurtirCurtir
A lista é infindável. Não é uma tarefa fácil.
Em linhas gerais :
A maioria dos fertilizantes químicos são oxidantes.
Fungicidas, herbicidas e inseticidas são todos oxidantes.
Aração é altamente oxidante. Gradagem pesada também.
Alias já foi dito que “o arado já causou mais destruição as civilizações do que a espada ”
Hillet ( 1991 )
Solo descoberto é oxidante.
Nitratos são oxidantes . Já a amônia é redutora.
Calcário é oxidante.
Seca é oxidante. Inundação é redutora. Fe e Mn em solos encharcados
tornam-se tão disponíveis, devido as condições redutoras, ao ponto de intoxicar certas plantas.
Nesse caso o remédio é entrar com calcário, para complexar esses dois minerais.
Soja é uma cultura oxidante. Milho varietal e híbrido são redutores. Transgênicos são oxidantes.
Aveia é altamente redutora . Trigo sarraceno também.
Manganês, Ferro, Cobre e Cobalto são absorvidos ou estão ativos quando na forma reduzida.
AMBIENTES REDUTORES :
Silagem de Milho
Vinagre de Maça
Yogurt
Chucrute
Culturas inundadas ( Arroz )
Bokashi Verdadeiro ( Fermentado anaerobicamente )
MAS ( antigo EM )
A microbiologia do solo tem um efeito altamente redutor.
RAÍZES REDUTORAS
Milho ( Não transgênico )
Alfafa
Aveia
Trigo Sarraceno
Brassicas
RAÍZES OXIDANTES
Trigo
Variedades transgênicas
Soja
As variedades transgênicas tem um perfil diferente de Amino Ácidos e de carboidratos
em comparação com as variedades não transgênicas ( cisgênicas ) nos exudatos radiculares.
Em solos redutores a disponibilidade de Fe, Mn e P serão sempre maiores.
Plantas de cobertura são necessárias até que a biologia do solo se estabeleça. Depois disso
não faz muita diferença.
Aos poucos iremos perceber que o Potencial de Redox é tão importante quanto o pH do solo.
Por isso, a Agronomia apenas engatinha em questão de ciência pois só considera um único aspecto,
ou seja, o pH. Sabendo que o calcário é oxidante, imaginem o efeito da aplicação de quantidades absurdas de
calcário como aquelas preconizadas pelos técnicos do IAC e alguns consultores que estão à solta por aí ?
Imaginem o impacto de uma mega calcariação na micro vida do solo ? Na disponibilidade dos micronutrientes ?
Na disponibilidade do íon Fosfato ?
Espero ter dado pelo menos uma idéia geral sobre o potencial Redox na agricultura.
CurtirCurtir
Gostaria de receber nomes de empresas que fabricam esses produtos orgânicos para comprar.
CurtirCurtir
Boa Tarde
Infelizmente esse não é o objetivo desse Instituto.
E por ” esses produtos orgânicos”
existe uma infinidade de produtos e de empresas que os comercializam.
A Emater de Brasilia uma vez publicou um catalogo com o nome de todas essas empresas mas já fazem pelo
menos uns dois anos e eu já não tenho mais essa informação em mãos.
CurtirCurtir
Boa noite, tenho interesse em adquirir esse consórcio de micro-organismos. Como procedo? Att.
CurtirCurtir
Por favor me mande uma mensagem no whatsapp 11 973641716
CurtirCurtir
Olá sou agricultor e adpto a essa nova modalidade de agricultura voltada para o uso de microorganismos, gostaria de saber mais sobre isso e ter mais informações sobre esses consórcios de microorganismos.
CurtirCurtir