A Agricultura Biológica busca transmitir e disseminar conhecimentos técnicos sobre práticas agrícolas que permitam aos agricultores, sejam pequenos, médios ou grandes, reduzir a sua dependência de insumos agrícolas, principalmente àqueles químicos e tóxicos, enquanto se enriquecem e se aprimoram-se nos últimos avanços das tecnologias agrícolas sustentáveis visando o aumento da produtividade, da qualidade, do valor nutricional e a redução do custo de produção, que resultam no melhoramento sistemático do solo, o nosso bem mais precioso e que precisa ser transmitido as gerações futuras em melhores condições que o recebemos. Um sábio nigeriano tribal nos disse que “a terra pertence a uma vasta família da qual vários membros já faleceram, alguns estão vivos e uma quantidade sem numero de membros ainda está por nascer “ .
O novo paradigma envolve essencialmente trabalhar com a Natureza e não contra ela. Obedecer a Natureza para poder controla-la. Trata-se de responder corretamente a grande questão sobre : Será que a Natureza aprova ?
Os alimentos tem a sagrada finalidade de nutrir as pessoas, e não serem trocados por numerário, distorção essa criada ao longo do último século e ultimamente enfatizada pelo chamado Agronegócio, aberração que eventualmente irá tornar a vida no planeta Terra insuportável, caso insistam na produção de alimentos vazios de nutrientes a qualquer custo e sob qualquer pretexto, baseados principalmente no cultivo de milho e soja transgênicos contaminados de Glifosato e 2,4-D, e no uso indiscriminado do Glifosato que quelatiza todos os minerais utilizados pela planta e os torna inacessíveis às próprias plantas, animais e seres humanos, além de destruir a micro-flora intestinal que é responsável pela síntese, entre outras, se serotonina, um importante neuro-transmissor responsável pela nossa sensação de bem estar. A carência de serotonina provoca a depressão, que já atinge níveis epidêmicos.
Da mesma forma, demonstrar a importância de se enfatizar a nutrição e a qualidade dos alimentos, como por exemplo o aroma e o sabor como ocorre com o Café, as frutas e até mesmo hortaliças, ao invés de simplesmente a isenção de contaminantes químicos, como no caso da agricultura orgânica, modelo esse que consideramos esgotado por ter se perdido em um emaranhado excessivo de exigências absurdas e desprovidas de senso técnico-científico e muitas vezes, como no Brasil, eivadas até de um conteúdo politico ideológico muitas vezes questionável.
A forma com que a Agricultura Orgânica é praticada e/ou regida, hoje em dia, nos remete ao Puritanismo dos séculos 17 e 18, e, por conseguinte, não serve mais como paradigma para substituir a agricultura convencional suicida, razão pela qual ela caiu tanto no agrado das camadas mais retrógradas e radicais da nossa sociedade, obviamente, sem querer generalizar, pois existem boas e honrosas exceções dentro do movimento orgânico.
Portanto, torna-se necessário que outros paradigmas surjam para que seja possível alimentarmos uma população cada vez maior onde a nutrição humana seja sempre levada em consideração ao invés de simplesmente uma simples isenção de contaminantes químicos. E esses novos sistemas de agricultura sustentável devem ter a capacidade de poder garantir a produção de alimentos igualmente limpos mas que tenham um nível de nutrientes maior do que os que hoje nos são fornecidos tanto pela agricultura convencional suicida, quanto pela agricultura orgânica puritana, sectária e muitas vezes ilógica.
Procura-se enfatizar a importância de se praticar uma Agricultura voltada para a Natureza trabalhando com toda uma plêiade de organismos que evoluiu com as plantas ao longo de 3,5 milhões de anos começando com aqueles mais microscópicos como bactérias, fungos, micorrizas, actinomicetos , protozoários, nematoides benéficos de solo, e indo até os macroscópicos como colêmbolos, minhocas e vários outros.
Na Agricultura Biológica não perguntamos a nenhum burocrata se tal prática é boa ou má, mas sim a esses mesmos microrganismos de solo e até mesmo as minhocas, e se eles aprovam, por não terem sido afetados negativamente, então a pratica fica validada não interessando se tem origem química, física ou biológica. Na AB perguntamos: Será que a Natureza aprovaria essa técnica ou essa prática ? Essa continuará sendo a grande questão.
Na Agricultura Biológica levamos sempre em consideração a Natureza procurando sempre respeitá-la e imitá-la para que, então, possamos conquista-la. Trata-se de saber usar a fotossíntese atual ao máximo e não somente a fotossíntese pré-histórica representada pelos combustíveis fósseis. Trata-se de praticar um outro tipo de agricultura menos dependente de fertilizantes derivados de petróleo que obrigatoriamente geram lavouras altamente dependentes de agrotóxicos também derivados de petróleo.
Nesse novo paradigma estamos interessados em quilos de proteína e outros nutrientes por hectare ao invés de sacos por hectare. Em alimentos que possam fazer o mesmo efeito nutricional com quantidades menores de peso, como demonstrado centenas de vezes em campos manejados biologicamente. Os vegetais e frutas produzidos biologicamente apresentam maiores quantidades de minerais, proteínas, e demais nutrientes principalmente de sólidos solúveis (Brix) que irão gerar plantas mais resistentes ao ataque de insetos e de doenças.
Também não proclamamos, como em alguns sistemas de produção agrícolas baseados em conceitos filosóficos e até mesmo religiosos alienígenas, sermos melhor do que quaisquer outros e/ou donos da verdade. Muito pelo contrário.
Acreditamos que somente um esforço conjunto de um verdadeiro sincretismo tecnológico, possa resolver o atual impasse que o status-quo acadêmico científico nos colocou com a produção de alimentos vazios, sob o ponto de vista nutricional, e eivados de contaminantes químicos de toda natureza que coloca a própria sobrevivência do ser humano nesse planeta em cheque. Apenas propomos um novo paradigma de produção de alimentos como mais uma alternativa saudável, limpa, ecológica e sustentável.
A Agricultura Biológica se apresenta como uma outra maneira de se produzir alimentos para quem não quer mais seguir os ensinamentos emanados do aparato acadêmico-científico oficial cooptado pelas mega empresas do setor agrícola, que levaram à falência, não só milhares de produtores e criadores, mas também o meio ambiente por contaminar rios, lagos , aquíferos subterrâneos, solos e até mesmo o ar que respiramos.
Não é novidade para ninguém que plantas com alto potencial de produção também carregam em seus genes uma grande dependência e exigência por quantidades ponderáveis de fertilizantes o que sempre gera a necessidade do resgate químico das lavouras, perpetuando o ciclo de contaminação ambiental.
Felizmente existe uma outra maneira de se fazer agricultura que nos permita a produção de alimentos limpos, com maior densidade nutricional, respeitando a Natureza e sobretudo o Solo, por meio de uma maior ênfase no aspecto biológico que foi relegado a um segundo plano pelas instituições de ensino e pesquisa no ultimo século. Felizmente esse quadro está mudando, e hoje o que se vê é uma verdadeira revolução no campo e até mesmo as grandes corporações, que sempre ganharam dinheiro às custas de produtos químicos tóxicos, estão investindo em trazer ao mercado produtos biológicos eficientes que possam solucionar problemas existentes da atualidade. Esse esforço, venha de onde vier, será sempre bem vindo e a Natureza agradece desde já.
É preciso que se use a ciência em toda a sua totalidade e plenitude, como sugerido pelo Dr. Arden Ardensen em seu livro “Science in Agriculture” e isso significa dizer que devemos usar não somente a Química, como nos últimos 90 anos, mas também a Física e sobretudo a Biologia na construção de práticas agrícolas sustentáveis e limpas.
Não entendemos completamente como funcionam as plantas e nem outros organismos vivos na sua totalidade, sob o ponto de vista físico e mesmo assim tomamos a decisão de modificar o seu DNA por acreditarmos que o Criador não tenha feito um bom serviço. Já estamos descobrindo, a duras penas, o elevado preço que essa heresia científica custará a raça humana e a todo o meio ambiente.
As mega empresas do setor agrícola, na sua sanha mercantilista, engajaram-se nessa aventura genética que a prática demonstrou, mais uma vez, não ter sido um decisão muito inteligente uma vez que lagartas Spodoptera frugiperda e Helicoverpa zea tem se banqueteado em lavouras de milho transgênicos “engenheiradas” para que fossem imunes a essas mesmas pragas.
Me fazem lembrar o trecho de um poema, em inglês, frequentemente citado pelo Prof. William Albrecht que dizia:
“ Next bold philosopher and sage
A settled plan decree,
and prove by thought or sacred page
What Nature ought to be”
“But Nature smiles –A Sphinx –like-smile-
Watching their little day
She waits in patience for a while
Their plans to dissolve away “
Lavouras “engenheiradas” geneticamente para serem resistentes ao Glifosato apresentam menores teores de todos os nutrientes notadamente os oligo elementos tão necessários a nutrição humana e animal. Isso significa mais “fome oculta” e desnutrição para animais e seres humanos.
Aproveito a oportunidade para introduzir ao grande público brasileiro os conceitos dos mentores que me permitiram chegar as conclusões expostas nesse livro começando pelo Prof. William Albrecht, Ph.D., Chefe do Departamento de Solos da Universidade do Missouri , Dr Arden Andersen, Ph.D.; Dr. Carey Reams e seu discípulo Dr Dan Skow, D.V.M. com os conceitos da Ionização Biológica; Bruce Tainio; Dr Phil Wheeler; Profa. Elaine Ingham, Ph.D. idealizadora do Compost Tea e grande divulgadora de seus benefícios, Dr. Phil Callahan, Ph.D.; e seu conceito de Paramagnetismo dos Solos; Hugh Lovel, amigo pessoal e um dos maiores agricultores e pesquisadores biodinâmicos que eu tive o prazer de conhecer, Neal Kinsey discípulo direto do Prof Albrecht, Garry Zimmer, Joel Salatin, Charles Walters, criador e fundador da Acres USA, a maior organização de Eco-Agricultura dos EUA que abrigou e abriga todos os autores acima mencionados, Jerry Brunetti , além dos grandes pensadores e idealisadores do passado a começar pelo pioneiro Dr Rudolf Steiner, a primeira pessoa a manifestar sua preocupação com a redução do valor nutricional dos alimentos, passando por Lady Eve Balfour da Soil Association, Albert Howard e seu método de compostagem Indore, Han Kyu Cho da Korean Nature Farming que nos apresentou os I.M.O. (Indigenous Micro Organisms) de forma livre e democrática, e de como fazer agricultura com os mesmos sem qualquer interesse econômico, sectário ou até mesmo, e supostamente, religioso diferentemente do que ocorre com outros movimentos de Agricultura da Natureza orientais.
Tive a oportunidade e a honra de ter podido estudar, conviver e trocar ideias com a grande maioria dessas pessoas acima mencionadas, o que me torna uma pessoa extremamente privilegiada e por isso mesmo sou extremamente grato a essas mesmas pessoas e ao destino que me proporcionou essas grandes oportunidades. Infelizmente vários deles já não se encontram mais entre nós.
“A Terra não foi feita para os homens, o homem é que foi feito pra a Terra” conforme disse certa vez o grande chefe indígena, Seattle, e os inquilinos da Terra mais importantes são aqueles que a conseguem cultiva-la em harmonia com a Natureza.
Jose Luiz M Garcia