O professor William A. Albrecht, Ph.D. Chefe do Departamento de Solos da Universidade do Missouri nas décadas de 50 a 60, inspirou várias gerações de consultores e agricultores ecológicos em todo o mundo. Obteve todos os seus graus universitários na Universidade do Illinois e encerrou a sua carreira como Professor Emérito na Universidade de Missouri.
Foi um dos primeiros pesquisadores a estabelecer uma relação direta entre a fertilidade do solo e a saúde das pessoas e dos animais.
Suas ideias, muito além do seu próprio tempo, perduram até hoje e servem de base para qualquer trabalho de correção da fertilidade do solo de forma inteligente, equilibrada e ecológica.
Está entre os pioneiros na pesquisa sobre a Capacidade de Troca de Cátions do solo, inoculantes para a soja (Rhyzobium) e sobre o papel do Cálcio para fertilidade do solo, para a nutrição das plantas e como auxiliar na nodulação das leguminosas.
Sendo oriundo do meio rural americano, tendo sido criado em uma fazenda, Albrecht tinha uma maneira simples e direta de se comunicar com as pessoas, principalmente com os agricultores para os quais, sempre que podia, dava palestras sobre Fertilidade do Solo e sobre a importância do Cálcio para o solo, para as plantas e para os animais e seres humanos.
Algumas das suas frases ficaram conhecidas como “Albrechtchismos” e são repetidas até hoje entre os agricultores ecológicos, orgânicos e biológicos. Talvez a mais conhecida delas seja “ALIMENTE O SOLO E DEIXE QUE O SOLO ALIMENTE AS PLANTAS”. Esse é um dos pensamentos que servem de alicerce para essa nova forma de se fazer agricultura, a Agricultura Biológica.
Entretanto, várias outras frases do Prof Albrecht são igualmente conhecidas e servem de inspiração aos agricultores ecológicos até os dias de hoje. Por isso, tomo a liberdade de selecionar algumas e coloca-las à disposição dos leitores desse blog.
- “O excesso de qualquer elemento significa obrigatoriamente a carência de outro elemento”. Em função da CTC , sempre que algum elemento estiver em excesso, ele estará ocupando o espaço que deveria estar sendo ocupado por qualquer outro elemento. E a reciproca também é verdadeira, ou seja, qualquer carência significaria obrigatoriamente o excesso de algum outro elemento.
- “A melhor forma de corrigir uma carência é eliminando os excessos”. É a reciproca do pensamento anterior, também baseado no fato de que que a CTC funciona como um “gráfico tipo torta” e se em um espaço limitado algum elemento está em deficiência, o seu espaço esta sendo ocupado por algum outro que vai estar em excesso.
- “ Insetos e doenças são sintomas de uma lavoura em decadência e não a sua causa” . Hoje em dia é sabido que plantas desnutridas favorecem o ataque de pragas e doenças. Isso hoje é um fato. Na época se acreditava que o ataque de insetos era algum tipo de fatalidade e de que esse evento seria inevitável..
- “Aqueles que ensinam precisam manter sempre o desafio de estudar a Natureza e não os livros”. Sábio conselho que infelizmente não é seguido pela grande maioria dos nossos acadêmicos que se comportam, em grande parte, como semi Deuses arrogantes .
- “Nós estamos exaurindo a qualidade dos nossos solos. Quando fazemos isso, a qualidade das nossas plantas diminui e o pior é que estamos aceitando esse fato”. A analise da qualidade das plantas, como a que é feita pelo International Ag Labs, nos dá conta de que plantas produzidas pelo sistema convencional contem de 50 a 60% menos nutrientes de que plantas originárias de cultivo biológico.
- “O uso de pulverizações com produtos químicos tóxicos é um ato de desespero de um modelo agrícola moribundo. Não são os poderes dos insetos invasores que devemos temer , mas sim as condições frágeis das vítimas”. Já naquele tempo chamava a atenção para a relação da nutrição vegetal com a resistência a doenças e pragas.
- “ Não aplique calcário para combater a acidez do solo. Use o calcário para alimentar a planta”. Essa tem sido a minha luta nos últimos 16 anos. Ensinar aos agricultores brasileiros o verdadeiro valor das diferentes fontes de Cálcio. Infelizmente até os dias de hoje, professores de solo míopes, ainda insistem em “combater a acidez” dos solos ao invés de restabelecer a fertilidade perdida pela adequada correção das bases.
- “Os demais elementos “cavalgam” para dentro das plantas nas “costas” do Cálcio “. Com isso Albrecht queria enfatizar a importância de se ter uma determinada quantidade disponível de Cálcio no solo para que a absorção dos outros elementos fosse facilitada.
- “A matéria orgânica forma um escudo orgânico ao redor dos sais. Funciona como um tampão contra os danos causados pelos sais. Na medida em que os solos se tornam escassos em matéria orgânica nós não poderemos mais usar os sais de forma tão direta”. Seria essa a receita original dos fertilizantes ditos organo-minerais que tão bem tem funcionado na agricultura convencional ? Estaria Albrecht sinalizando para uma possível norma ou diretriz para a utilização desses tipos de fertilizantes ? Eu arriscaria um limite mínimo de matéria-orgânica como 2% , abaixo do qual o uso de fertilizantes químicos solúveis seria contra indicado.
- “ Quantidade máxima de calcário que se deve aplicar a um solo por ano é a de 2.400 kilos por hectare”. Evidentemente que essa é uma regra geral para se ter em mente, porque solos arenosos deveriam receber não mais que 2 tons/ha, enquanto solos mais pesados poderiam receber a quantidade de 2.4 tons/ha ou até um pouco mais. É interessante observar que essa mesma recomendação me foi dada pela Dra Ana Primavezzi e também pela Dra Elaine Ingham, que acredita que mesmo o calcário sendo originário de rochas e de pouca solubilidade, ele teria um efeito deletério sobre a micro vida do solo quando usado em quantidades superiores a essas.
- “O uso excessivo de sais químicos nos fertilizantes está atrapalhando a nutrição vegetal”. Essa realidade é valida não somente para fertilizantes químicos mas também para alguns orgânicos, como esterco de galinha, ricos em nitratos solúveis.
- “ Insolúvel porém disponível”. Nunca uma frase tão curta e simples disse tanto sobre a nutrição vegetal. O que nós precisamos é de fertilizantes que sejam “insolúveis porém disponíveis”. Sais químicos 100% solúveis em agua, que o status-quo acadêmico-científico preconiza como fertilizantes ideais a serem usados na agricultura, se perdem na sua grande maioria e vão ocasionar lençóis freáticos, rios, lagos e até oceanos poluídos. Na primeira chuva se perdem por completo. Por isso é que precisamos de fertilizantes que não se dissolvam com a primeira chuva e que se mantenham no solo durante todo o ciclo da planta. Esse também é o título de um dos seus artigos mais famosos, Insoluble yet Available.
- “Alimento é a fertilidade do solo fabricada”. Essa verdade bioquímica deveria estar na entrada de todas as escolas de Nutrição do mundo. De fato, alimento é a nutrição fabricada pela fertilidade dos solos. E como os nossos solos tem mudado e perdido a sua fertilidade original nos últimos 80 anos, dá para se ter uma ideia da redução da qualidade dos alimentos.
- Fórmulas de N-P-K como as que são registradas e recomendadas pelos Ministérios de Agricultura do mundo todo, significam má nutrição (humana e animal), ataque de insetos, bactérias e fungos, maior incidência de mato, perdas de lavouras em épocas de seca, bem como perda da acuidade mental da população que leva a doenças degenerativas metabólicas e morte prematura”. Hoje essa afirmação fica bem mais clara do que quando foi feita , há 70 anos atrás.
- “Você precisa ter uma visão. A menos que você a tenha, a Natureza jamais irá se revelar a você “. Deixei essa frase para o final de propósito porque embora Albrecht fosse um acadêmico típico da sua época, ele tinha a firme convicção de que a Agricultura era antes de tudo uma arte não apenas uma ciência, tanto que ele também dizia frequentemente aos seus alunos que “você não se torna um agrônomo até que vá a campo e aplique seus conhecimentos adquiridos” indicando que o conhecimento teórico apenas não se constituía fator de sucesso na profissão agrícola. Era favorável que a prática andasse pari passo com o conhecimento teórico.
Os ensinamentos de William A. Albrecht continuam a motivar, estimular e a inspirar milhares de professores e alunos da eco agricultura por todo o mundo, através de décadas e espero que continue a fazê-lo por muito mais tempo ainda.
José Luiz M Garcia
Setembro de 2015-09-07
Referências
- Albrecht, William A. The Albrecht Papers, Volumes I ao VIII, Acres USA.
- Garcia, José Luiz M. – Curso Teórico e Prático sobre Agricultura Biológica, Sitio Catavento, Itupeva, SP, 31/10 a 01/11 de 2003.
- Kinsey, Neal. Comunicação Pessoal. Acres USA Conferences de 2000 a 2006.
Albrecht, pensou na possibilidade de haver uma adaptação aos erros de manejo do solo tanto das plantas como de outras espécies? Ou essa adaptação simplesmente não existe?
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Denise,
Eu creio que não tenha entendido corretamente a sua pergunta. Poderia refaze-la de novo ou de outra maneira ?
Allbrecht trabalhou com espécies animais como por exemplo coelhos, bovinos e carneiros que alimentava com o produto de vários talhões cujo solo era corrigido de diversas maneiras e depois do abate examinava ossatura, órgãos internos, peso da carne, da lã no caso de carneiros, etc…
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Desculpa, vi só agora.
Refazendo:
Quando interferimos no ambiente, errando na forma de adubar e/ou manejar existe a possibilidade de adaptação das espécies a esse novo ambiente?
Parece que meu raciocínio não serve muito para plantas cultivadas.
Talvez numa área que simplesmente deixássemos de influenciar a natureza se encarrega de povoar com espécies adaptadas. Lembrei-me agora dos cultivos nômades onde se dá um tempo para a “terra respirar”.
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Com relação as plantas e até certo ponto os animais existe sim.
Veja por exemplo o caso da BUVA (Conyza bonariensis/ C. canadensis) que se adaptou a uma tremenda agressão que é
a aplicação sucessiva de glifosato.
Na verdade as chamadas “plantas daninhas” nada mais são que uma resposta da Natureza a desequilíbrios temporários.
O tempo para a Natureza é muito relativo. O que pode ser muito tempo para nós seres humanos para ela seriam apenas
minutos ou segundos. Ervas (mato) servem para restabelecer o equilíbrio perdido.
Certas plantas são melhores extratoras de determinado tipo de mineral e algumas até servem como acumuladoras desse ou daquele mineral.
O plano (projeto) Divino é sempre recuperar e re-equilibrar o sistema, principalmente no solo que é essa casquinha fina
que recobre o planeta Terra e que é a responsável pela existência de homens e animais.
Tudo o que existe na Terra é um reflexo da qualidade do solo.
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