Estimulado por algumas perguntas que recebi em virtude do artigo anterior sobre o Glifosato é que eu me propus a escrever esse artigo sobre como reduzir o seu uso. O ideal seria não usar nenhum glifosato, mas as vezes essa façanha é impossível, de início, e tem que ser implementada aos poucos.
Na verdade as pessoas estão tão acostumadas ao seu uso e são tão doutrinadas pelas empresas de agrotóxicos sobre a impossibilidade de se viver sem o uso desse herbicida que não conseguem imaginar um mundo sem glifosato, portanto qualquer esforço no sentido de reduzir o seu uso será sempre bem vindo.
Portanto, antes de que alguém me critique pelo fato de estar escrevendo sobre como usar glifosato, eu quero deixar claro que esse esforço sobre a redução do seu uso deve ser feito de forma conjunta e sempre com a mente aberta e não de forma político partidária tipo ser à favor ou contra.
Não se trata de ser à favor ou contra. Trata-se de eliminar o seu uso e na impossibilidade disso acontecer, de reduzir ao máximo a sua utilização, e nunca iremos conseguir isso sendo radicais.
Vejam, por exemplo, o trabalho que está sendo desenvolvido junto aos produtores convencionais no sentido de reduzir o uso de inseticidas e fungicidas com o uso de agentes biológicos. Hoje centenas de agricultores em areas agrícolas, que chegam a atingir mais de 2 1/2 vezes a área de agricultura orgânica no Brasil, não usam mais, ou usam muito pouco, inseticidas e/ou fungicidas.
Não temos o monopólio da virtude na Agricultura Biológica, como creem alguns praticantes da agricultura orgânica, mas é evidente que o impacto dessas tecnologias superam em muito o impacto benéfico ao meio ambiente causado por toda a agricultura orgânica, e isso tudo é obtido sem ter que custear dezenas de empregos públicos de indivíduos com filiação partidária e sem custear todo um sistema de certificação caríssimo e ineficiente, já que fraudes ao sistema ocorrem a todo o tempo uma vez que que nenhum tipo de amostragem e análise de resíduos de pesticidas é praticado aqui no Brasil.
As mega empresas do agronegócio incutiram na mente do produtor que não existem outras alternativas a não ser o uso indiscriminado de fertilizantes químicos, de agrotóxicos e de sementes transgênicas. Nessa tarefa eles foram muito ajudados pelo o que eu chamo de Ditadura Científica, que hoje impera nas chamadas Ciências Biológicas.
Ao cooptar a Academia, as grandes empresas instituiram o reinado da mentira ou da meia verdade. Vivemos em uma época onde a verdade é vilipendiada e a mentira é glorificada.
Como introdutor da verdadeira Agricultura Biológica no Brasil, aquela preconizada por William A. Albrecht, Carey Reams, Dan Skow, Bruce Tainio, Gary Zimmer, Neal Kinsey, Arden Andersen, Phill Whealer, e tantos outros, eu sou avesso as chamadas “receitas” porque elas simplesmente “emburrecem” as pessoas. Receitas suprimem a sua capacidade de raciocinar.
No momento em que eu te dou uma receita você para de raciocinar sobre tudo que está a sua volta e se rende a facilidade do uso da mesma. Isso acontece tanto na agricultura convencional quanto na agricultura orgânica.
Com relação as plantas que comumente são chamadas de “mato “, ervas “daninhas” ou até mesmo de “invasoras “, é preciso que se entenda que elas são vegetais, que evoluíram ao longo de milhões de anos, com o objetivo precípuo de resolver problemas de solo e não para criar problemas para quem cultiva e é produtor agrícola. Criar problemas não foi o projeto da Natureza quando evoluiu as plantas chamadas de daninhas.
Antes de mais nada é preciso que o agricultor entenda que, se essas plantas simplesmente existem, é porque o solo onde elas crescem está muito aquém do ideal e é para isso que elas “aparecem”. A ilustre agrônoma teuto-brasileira, Prof. Ana Primavesi, já disse inúmeras vezes que “mato são mensageiros”. Com isso ela queria dizer que os matos, na verdade, estão nos fazendo um favor em nos mostrar quais deficiências (ou quais excessos ) estariam presentes naquele solo, e nós, ao invés de agradecê-las pelos avisos e pela informação, as matamos e nos esquecemos do problema que as causaram.
É preciso refletir profundamente sobre as sábias palavras da Prof. Primavesi..
Esse é um dos motivos porque eu preconizo a analise de solo e a correção da fertilidade desse mesmo solo ao invés da solução burra do status-quo acadêmico-científico de simplesmente “combater a acidez” do solo.
No livreto “Weeds and Why they Grow”, Jay L. McCaman relaciona centenas de plantas com relação ao que as torna mais frequentes indicando os teores de Cálcio, Fósforo, Potássio, Magnésio, Manganês, Ferro, Enxofre, Cobre, Zinco, Boro, Cloro, Selênio, Humus, Porosidade,Quantidade de Fungos e de Bactérias de solo, Umidade, Salinização, Compactação, Resíduos de Agrotóxicos, Aluminio, Crosta Superficial, Drenagem e presença de pedras e areia que as favorecem ( 4 ).
Somente pela exposição dos fatores acima já nos dá uma idéia do que favorece ou inibe o crescimento de mato. Porém, dois fatores estão sempre presentes em quase todos as plantas e isso é baixo teor de Fósforo e baixo teor de Cálcio. Se o solo tem Cálcio baixo e Fósforo baixo podemos esperar todos os tipos de invasoras, só para ilustrar a questão.
Há casos em que outros minerais também poderão estar faltando (ou sobrando) mas Cálcio e Fósforo são sempre os principais. Coincidentemente, são esses mesmos elementos os responsáveis pela construção do Brix das plantas. Se nós quisermos ter Brix elevado e com isso imunidade ao ataque de insetos e doenças, bem como mais sabor e maior vida de prateleira nos produtos é necessário termos teores adequados de Cálcio e de Fósforo e não esse ou aquele pH. O pH apenas lhe dá uma única informação, que é o nível de acidez de um solo. Ele não lhe diz quanto de Cálcio, Magnésio ou de Potássio você dispõe ou precisa.
Na Agricultura Biológica nós sabemos que o excesso de potássio favorece o crescimento de gramíneas (de capim, de Brachiaria). Porém, na Agricultura Orgânica existe uma idéia errada de que “o-esterco-de-gado-favorece-crescimento-de-mato-por-que-tem-sementes-de-capim”. Isso não é verdade. Isso é apenas mais um mantra. Um meme, dentre outros que existem na agricultura orgânica.
O esterco de gado propicia o surgimento de capim justamente por que é uma excelente fonte de potássio. Composto também faz a mesma coisa e não tem sementes de capim algum.
Ou seja, a questão não é simples. Pelo contrário, ela é muito complexa. Porém, ela jamais será resolvida com apenas o uso deste ou daquele herbicida. Por exemplo, se uma determinada planta for favorecida pela compactação do solo, de nada irá adiantar elimina-la usando-se glifosato sem que nós tenhamos tentado resolver o problema subjacente que as causou, isto é a compactação desse solo.
Nesse caso a compactação pode estar sendo causada pela falta de Cálcio (que flocula o solo) ou pelo excesso de Magnésio (que agrega o solo) , ou pela falta de humus e atividade microbiana (que são os responsáveis pela agregação e consequentemente pela porosidade do solo), etc…. Então, o glifosato não vai ajudar nem um pouco. Muito pelo contrário.
Analises anuais ou bi-anuais de solo feita por laboratório de primeira linha ( IBRA, ICASA, Wood Ends, Perry Agri Labs, etc…) irá ajudar muito a entender o motivo da pressão de mato. Exija analise de Fósforo Total, além de Fósforo disponível, de Enxofre e de Sódio, além de todos os Macros e de todos os Micros. Exija a expressão dos resultados das Bases Trocáveis em % da C.T.C. para que você possa tentar coloca-las nas proporções mais adequadas pelo Método Albrecht como indicadas no artigo ( 1 ) encontrado aqui nesse Blog e finalmente peça a algum agrônomo que seja versado no Método Albrecht para fazer as recomendações. Esse método não é ensinado em nenhuma escola ou faculdade de agronomia no Brasil.
Trabalhe em cima do melhor conhecimento dos problemas que seu solo tem e nas soluções desses mesmos problemas ao invés de simplesmente tentar resolve-los com o uso de um herbicida quelatizante, antibiótico e que acumula no solo causando doenças em crianças e adultos.
Uma receita que está se tornando bem popular nos Estados Unidos para diminuir a pressão de mato, já que nós sabemos que que a razão principal para sua ocorrência seria a falta de Cálcio e de Fósforo, é exatamente uma aplicação pré plantio, ou imediatamento pós plantio, de Cálcio liquido ( 8 litros por hectare) mais melaço (8 litros/ha). O Cálcio liquido bem como o melaço visam suprir basicamente alimento aos organismos de solo que, por sua vez, irão disponibilizar o Fósforo e com isso diminuir a necessidade daquelas plantas de cumprir esse papel. A combinação Cálcio liquido, Fósforo liquido e melaço liquido também vão ter um bom resultado na ativação da micro vida do solo.
Eu usei e notei até um melhor desenvolvimento da lavoura além da diminuição do mato.
Entretanto, se não for possível evitar o uso do Glifosato, existem maneiras de aumentar a sua eficiência e com isso diminuir a dose empregada.
Maneiras de aumentar a eficiência e diminuir a dose do Glifosato.
1. Humatos solúveis. Acidos humicos e acidos fulvicos aumentam sobremaneira a absorção do glifosato. Produtos como o Hum-I-Solve usados na dose de 1 a 2 litros por hectare (ou 80 a 160 gramas/ha do produto em pó) melhoram sensivelmente a eficiência. Nesse caso reduzir a dose de glifosato para 50% ou até menos.
- Acidificar a calda. O Glifosato funciona bem melhor em meio ácido. Isso os fabricantes nunca vão te informar porque querem que vocês comprem sempre mais. O melhor e mais barato que eu conheço é o vinagre de alcool.
1 a 2 litros de vinagre por 100 litros de calda já seriam suficientes para conseguir essa façanha. O vinagre por ser orgânico atua melhor do que qualquer outro ácido inorgânico. Seu custo também é muito baixo. Reduzir a dose de glifosato para 50%.
Adicionalmente, todas as vezes em que for usar o glifosato voce pode usar também melaço na dose de 3 a 4 litros por hectare para tentar reduzir o impacto ambiental já que esse produto agrega carboidratos ao solo e com isso favorece a micro vida bem como o microbioma radicular e com isso contra-balança o impacto negativo do herbicida.
Estimular a micro vida do solo é uma das melhores maneiras de diminuir o mato que eu conheço. Nos EUA, alguns produtores biológicos estão conseguindo controlar até a Tiririca ( Cyperus rotundus ) com o uso de até 100 kgs de Melaço em pó por hectare, em terrenos menores é obvio. Já existem fungos específicos que devoram a tiririca e a controlam em até 92% com duas aplicações ( 2 , 3).
Enfim, alternativas ao uso do glifosato virão de um esforço comum de toda a sociedade técnica e científica que não estejam cooptados pelas grandes empresas.
Referências
- Garcia, J.L.M.(2015) Equilíbrio de Bases adequado e Fertilidade do Solo, Blog do Instituto de Agricultura Biológica, https://institutodeagriculturabiologica.org/2015/05/16/equilibrio-de-bases-adequado-e-fertilidade-do-solo/
- Phatak,S.C., M.B. Callaway & C.S Vavrina, (1987) Biological Control and Its Integration in Weed Management Systems for Purple and Yellow Nutsedge (Cyperus rotundus and C. esculentus),Weed Technology, 1, No. 1, pp. 84-91.
- Biological Control of Cyperus species.
Clique para acessar o 54e267ba0cf2edaea092e957.pdf
4. McCaman, Jay L. (1994) Weeds and Why They Grow, Mc Caman, Sand Lake, MI, 116 pgs.
Estimado José,
Excelente matéria.
Atte
Victor Rivera
>
CurtirCurtir
Sou estudante de Eng. Agronomica da FUNEC, Santa Fé do sul sp e muito tem me interessado o assunto da AGRICULTURA BIOLOGICA, pretendo fazer minha Monografia nessa aréa, disponho de uma pequena aréa agricultavel de 1,5 ha, estou cursando o 5º semestre, preciso de ajuda, ou seja contribuição de Tecnicos comprometidos at. João Faria. e-mail. joaor.faria@yahoo.com.br
CurtirCurtir