Já foi dito anteriormente que o brasileiro não é um povo associativo e que reconheça o valôr do seu conterrâneo muito facilmente. Existem raras exceções no futebol e em algumas outras áreas mas quando se trata de tecnologia e ciência a coisa muda de figura.
Carlos Chagas (1879-1934), iminente cientista brasileiro, descobridor do Tripanosoma cruzi, assim batizado em homenagem ao seu amigo Oswaldo Cruz, foi 4 vezes indicado ao Prêmio Nobel mas nunca conseguiu ser agraciado com esse prestigioso título.
Segundo o historiador, Sierra Iglesias, a academia sueca consultou na época os seus pares brasileiros que supostamente teriam desaconselhado a premiação ( 1 ).
Ou seja, para dar o aval a premiação, os seus colegas da época, teriam que automaticamente reconhecer o seu valor científico e os seus respectivos egos mesquinhos os impediram de fazê-lo. Só essa história já daria uma tese, um livro ou até mesmo, e tão ao gosto dos brasileiros, uma novela.
Porém, existem outras, como o caso da cientista teuto-brasileira Joanna Döbereinner, que foi a segunda pesquisadora mais citada na literatura científica mundial e que é raramente reconhecida aqui no Brasil. O próprio Agronegócio, que hoje tanto estardalhaço faz com relação aos seus feitos econômicos, é o primeiro a não reconhecer publicamente o valor dessa cientista que anualmente proporciona ao Brasil uma economia de mais de 2 bilhões de dolares em fertilizantes nitrogenados graças ao seu trabalho com organismos simbióticos formadores de nódulos em leguminosas, os chamados ‘inoculantes’ fixadores de nitrogênio.
Nessa mesma categoria de pesquisadores e cientistas pouco reconhecidos pelos brasileiros eu tomo a liberdade de incluir o nome do Dr Ademir Calegari.
Quando eu digo ‘pouco reconhecido’ seria em proporção ao volume de conhecimentos gerados e a divulgação e reconhecimento do seu trabalho no Brasil em comparação ao reconhecimento ao seu trabalho pelo resto do mundo.
O Dr Calegari dedicou a sua carreira ao estudo dos efeitos melhoradores que determinadas plantas proporcionam ao solo quando cultivadas isoladamente e/ou em associação e com isso praticamente reformulou o conceito antigo de “adubo verde”.
Hoje, aposentado, mas ainda muito atuante, dedica-se a divulgação desses resultados e experiências angariados ao longo de décadas de trabalho de pesquisa junto ao IAPAR de Londrina no Paraná, não só no Brasil mas também, e principalmente no exterior.
Constatou o efeito benéfico de se ter várias plantas cultivadas ao mesmo tempo e, creio, ajudou muito a popularizar o conceito do chamado ‘coquetel’ de sementes para Culturas de Cobertura tanto no Brasil quanto no mundo todo.
Em dezembro de 2016, estive em Omaha, Nebraska, como faço todos os anos, na Conferência da ACRES USA uma instituição fundada pelo saudoso Charles Walters e que reúne a maioria da ‘inteligentzia’ da agricultura alternativa, e pude constatar que esses nomes, ou seja ‘Dr Calegari’ e ‘Cover Crops Cocktail’ eram expressões muito usadas e conhecidas. Todo e qualquer agricultor americano que se propõe a fazer uma agricultura sustentável, ecológica, biológia e orgânica conhece muito bem o que vem a ser Cover Crops e o Dr Calegari.
Poder-se-ia, até ironicamente, dizer que foi o Dr. Calegari quem ensinou aos ‘gringos’ o verdadeiro significado de uma palavra da lingua inglêsa, ou seja “cocktail” que antes designava uma mistura de bebidas alcoólicas, mas que hoje significa uma mistura de sementes geradora de vida no solo.
Portanto, irei sugerir a inclusão do seu nome no rol de futuros convidados a palestrantes nesse importante evento que reune agricultores e técnicos não só dos EUA mas tambem da Australia, Inglaterra, Alemanha, Holanda, México e vários outros países.
Essa semana tive o prazer de assistir uma das suas apresentações e de ver com que entusiasmo ainda viaja e divulga as suas pesquisas e realizações que ocorrem hoje em diversos países.
Fiquei particularmente satisfeito em saber da exclamação entusiasmada de um grande produtor agrícola americano após constatar os efeitos das ‘Cover Crops’ nas suas terras onde, devido ao retumbante sucesso dessas Cultura de Cobertura, nunca mais ira usar nenhum tipo de herbicida e muito menos o mais conhecido e usado, o famigerado Glifosato. “No more Glyphosate ! “ exclamou o produtor .
Calegari ensinou a esse agricultor que Culturas de Cobertura promovem a vida do solo desde a acumulação do Carbono até o aumento das micorrizas e organismos associativos nas raízes e que, o Glifosato, por outro lado, destrói esses mesmos grupos de microrganismos e favorecem o desenvolvimento de Fusarium e Rizhoctonia, corroborando a informação de um conhecido professor de Microbiologia de Solo americano ( 2 )
Também, se manejadas adequadamente podem servir de ‘mulching’ ou cobertura morta possibilitando o plantio direto de diversas lavouras como a soja e o milho e com isso reduzir o uso de herbicidas a zero.
Eu creio que não só esse produtor americano deveria ser o portador dessa bandeira mas todos os agricultores no mundo que se propõe a fazer uma agricultura mais limpa, sustentável e ecológica privilegiando os microrganismos de solo e a acumulação de Carbono.
Digo isso porque, aqui mesmo nesse Blog, após a publicação do artigo “GLIFOSATO”, um leitor havia me perguntado: “Mais como iremos viver sem o Glifosato?”, e eu lhe respondi : “A pergunta não é essa. A pergunta é: Como iremos viver com o Glifosato ?, depois de conhecer todos os malefícios que ele causa a vida”.
Eu creio que parte daquela resposta, hoje poderia ter sido substituida pelas Culturas de Cobertura e pelos microrganismos de solo.
Aos que me perguntassem hoje: Mas como iremos viver sem o Glifosato ?, eu simplesmente responderia: Começe a conhecer melhor as Culturas de Cobertura e o que elas podem fazer por você e pelo meio ambiente.
Já está passando da hora de nós todos dizermos:
Chega de Glifosato ! No More Glyphosate !
Jose Luiz M. Garcia
Instituto de Agricultura Biológica
Junho de 2017
Referências
- Coutinho, Marília (1999) O Nobel Perdido. http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe07029901.htm
- Kremer, Robert. (2016) Glyphosate and Transgenic Crops, ACRES USA 2016 Conference, Omaha, Nebraska.
Parabéns à merecida homenagem ao Dr. Calegari
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Comovo- me com o reconhecimento do trabalho do dr callegari
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Bom dia tenho a experiência diária de conviver com o Dr Calegari e sem duvida através de seus conhecimentos, estamos mudando a maneira de fazer Agricultura neste país e certamente o Agricultor e a Mãe natureza Agradecem !!
ATT . LS
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O Dr Calegari merece todo o nosso apoio, respeito e admiração.
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Como é maravilhoso saber que o Dr. Calegari é reconhecido pelo seu estupendo trabalho. Parabéns meu amigo Ademir, Deus te abençoe, ilumine e proteja sempre. Você é um homem abençoado e de bem.
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Eu até já sugeri a ACRES USA para convida-lo para ser palestrante e agora em Dezembro vou falar sobre ele para um grupo australiano que faz tudo certo mas não usam a Cover Crops como deveriam
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