A história da Microbiologia, como ciência, esteve sempre ligada a solução dos problemas de patógenos inicialmente causadores de doenças em seres humanos e a problemas gerados aos alimentos.
Os historiadores não sabem dizer ao certo quem teria sido o primeiro a visualizar os microrganismos, mas o microscópio apareceu na metade do século XVII, e já em 1670 um cientista inglês, Robert Hooke fez observações sobre filamentos de fungos crescendo ao redor de amostras de células as quais ele observava ( 1 ).
Depois dele, e nessa mesma época, um mercador holandês, chamado Anton van Leewenhoek, fez cuidadosas observações sobre organismos microscópicos, os quais ele denominou animálculos (pequenos animais). Até a sua morte em 1723, Leewenhoek revelou o mundo microscópico, aos cientístas da época, e é mencionado como sendo um dos primeiros a gerar descrições de protozoários, fungos e bactérias ( 1 ).
Portanto, se fossemos ter que escolher alguem como o pioneiro desse ramo do conhecimento, ele teria que ser forçosamente o eleito, embora Pasteur seja sempre apontado com o pai dessa ciência.
Entretanto, já em 30 A.C. , um escritor romano, Marcus Varro, autor de Rerum Rusticarum, entendeu o conceito de microrganismos quando escreveu que “ precauções devem ser tomados com relação a locais pantanosos pelas mesmas razões e principalmente porque, conforme eles secam, produzem certos animalculae que não podem ser vistos com os olhos e os quais respiramos pelo nariz e boca e que adentram o corpo causando graves enfermidades” ( 2 ).
Até o aparecimento do microscópio todos os acadêmicos da época acreditavam em “geração expontânea” de microrganismos e coube a Pasteur provar o contrário.
Na explicação do Instituto de Microbiologia da UFRJ, onde Pasteur é devidamente louvado como “muito importante para o desenvolvimento da Microbiologia”, sobre o seu célebre experimento onde colocou caldo de carne em frascos de vidros e observou o crescimento de microrganismos, a palavra “contaminação” foi usada várias vezes ( 3 ).
Só por esse pequeno detalhe já dá para ver que os microbiologistas consideram “contaminação” todo e qualquer organismo que não seja alvo do seu interêsse imediato, não importando se o organismo é benéfico ou não.
Ao nomina-los como “contaminação “, eles simplesmente os rotulam como sendo indesejáveis e, portanto, maus ou ruins. Desde os primórdios da Microbiologia que esse pensamento maniqueísta impera nesse meio.
É inadmissível que até hoje tentem reduzir a realidade e principalmente o solo, a um simples filme de faroeste onde existiriam somente mocinhos e bandidos.
Esse conceito higienista se reforça ainda mais com os experimentos do médico Joseph Lister em 1860 com ácido fênico (um microbiocida) e com Robert Koch que definiu o que vem a ser patógeno ou não, com seus famosos postulados.
Sem querer entrar no mérito da discussão entre Pasteur e Antoine Béchamp sobre a chamada Teoria do Germe X “Terrain Biológico”, de que seria o Terroir Biologique o que realmente iria determinar o aparecimento da doença, e não simplesmente a existência ou não de um determinado patógeno, pela própria história da Microbiologia verifica-se que os microbiologistas se preocuparam, preferencialmente, sempre com o isolamento dos microrganismos e qualquer coisa que pudesse ameaçar a integridade do seu isolado seria visto forçosamente como contaminação.
Essa visão míope e deformada da realidade imperou dentro dos laboratórios de microbiologia pelo mundo afora. Afinal de contas o estudo desses organismos tão diversos tem sido sempre feito entre quatro paredes, placas de Petri, estufas e microscópios e totalmente isolados do mundo real.
A bem da verdade é preciso que se diga que somente recentemente é que se começou a ter uma idéia aproximada de como os microrganismos se interrelacionam entre sí.
Outra realidade desconhecida da maioria das pessoas é a de que é no solo que vivem a maioria dos microrganismos existentes na face da Terra.
Mas como reproduzir em um laboratório os intrincados meios em que vivem aqueles organismos de solo ?
É lá que vivem 10 milhões de microrganismos por grama de solo. A nova tecnologia de identificação desses organismos pelo método de PCR, deu a alguns microbiologistas de solo, uma falsa sensação de poder e de conhecimento. Por meio dessa técnica detecta-se grupos de organismos com exatidão, mas isso não nos dá nenhuma informação nem sobre o que eles fazem e nem de como eles se relacionam entre sí.
Figura 1. Grão de areia revestido por bactérias.
Quem desses ai é o mocinho e quem seria o bandido? Fonte USDA-ARS
Diante desse numero, isto é 10 (7) microrganismos por grama de solo, o conceito de contaminante cai totalmente por terra e mostra o quão ridículos seriam alguns acadêmicos tupiniquins por insistirem nesse conceito de laboratório que não se aplica mais no mundo real.
E o que dizer de um Composto Orgânico Aeróbico ou Anaeróbico ? Quem é quem ali dentro ? Dá para falar em contaminação em um composto orgânico ?
Talvez seja devido a isso que os microbiologistas sejam tão aversos, até hoje, ao estudo de consórcios de microrganismos como por exemplo o Kombucha ( 4 ), e o famoso E.M.- 1 ( Efficient Microorganisms ) ( 5 ) introduzido no Brasil décadas atrás, pela Igreja Messiânica, difusora dos ensinamentos de Mokiti Okada.
No produto E.M.-1 composto basicamente de tres grupos de microrganismos, a saber, Rhodopseudomonas sp., Bactérias láticas e Leveduras, eles se complementam e trabalham em sintonia e é um dos produtos sustentáveis mais usados até hoje em todo o mundo. Alguém, em sã conciência, saberia me dizer quem é o contaminante nesse consórcio ? Alguém, em sã consciência, poderia dizer que o E.M. é um produto ruim ?
O seu criador, Teruo Higa, não foi certamente nenhum microbiologista, mas um professor de Horticultura da Ryukyus University de Okinawa, no Japão ( 5 ). Fosse ele um microbiologista estaria até hoje preocupado com contaminações e certamente não teria inventado esse magnifico produto.
Se a nivel de fazenda eu consigo multiplicar bactérias que irão controlar insetos, doenças fungicas foliares e de solo, solubilizar fósforo, produzir nitrogênio simbioticamente ou de qualquer outra forma, e com isso reduzir o custo de produção, porque me preocupar se naquele meio existem essas ou aquelas outras formas de vida que só teriam interesse acadêmico e mais nada ?
Da mesma forma, se é proposta uma maneira de se multiplicar fungos controladores de doenças foliares e de solo, em meio liquido, de forma mais barata, mais rápida, utilizando menos espaço físico, o que me importa se essa forma só me dará 10 vezes mais esporos, ao invés de 100 vezes, se isso já significaria uma redução de custos desse insumo significativa ?
A academia tem que entender de forma definitiva que ela já não mais dita o que nós mortais temos que fazer ou deixar de fazer. A academia já não mais dita o que é certo e o que é errado.
Fosse isso verdade e estaríamos evitando até hoje o ovo, estaríamos evitando as gorduras saturadas como óleo de Côco e a manteiga, estaríamos tomando Vioxx, estaríamos contando calorias, estaríamos usando cada vez mais agrotóxicos e adubos químicos, assim como estaríamos restabelecendo a fertilidade perdida do solo pela simples correção do pH sem levarmos em conta a correta proporção entre as Bases Trocáveis do solo.
A época da Ditadura Científica já chegou ao fim com o advento da informática e acho bom eles irem se conscientizando disso o quanto antes para evitar passar por vexames cada vez mais frequentes.
Em pleno século 21 já não mais se justifica essa forma de eugenia microbiológica.
Figura 2. Quadro “A redenção da Cam” com forte inspiração eugenista.
Avó negra, mãe mulata e filho e neto fenotipicamente brancos. Nessa época a genética da raça negra era considerada “contaminação “ e castigo divino.
Fonte Wikipedia
José Luiz M. Garcia
Instituto de Agricultura Biológica
Referências
- A Brief History of Microbiology. https://www.cliffsnotes.com/study-guides/biology/microbiology/introduction-to-microbiology/a-brief-history-of-microbiology
- Wikipedia. https://en.wikipedia.org/wiki/Animalcule
- Dias, Ingrid S. (s/Data) A História do surgimento da Microbiologia: Fatos Marcantes. http://www.microbiologia.ufrj.br/portal/index.php/pt/destaques/novidades-sobre-a-micro/384-a-historia-do-surgimento-da-microbiologia-fatos-marcante
- Wikipedia. https://pt.wikipedia.org/wiki/Kombucha
- Teruo Higa. EM. http://www.em-la.com/dr__teruo_higa_pt.php?idioma=3
- A Redenção de Cam. Wikipedia https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Redenção_de_Cam
Zé, rico o texto, muito e obrigado e parabéns.
Grande abraço. Rodrigo
Em 11/07/2017, Instituto de Agricultura
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