O Brasil continua pródigo em fazer os seus habitantes passarem cada vez mais vergonha por terem nascido aqui. Como se não bastasse o famoso 7 x 1 que nos impôs o futebol europeu, reconhecidamente o melhor do mundo, agora temos um outro grande motivo para sentirmos vergonha de sermos brasileiros.
Quando no mundo todo, paises e pessoas se mobilizam para se livrar dos agrotóxicos, reconhecidamente prejudiciais à saúde das pessoas, eis que um jornalista totalmente desconhecido e com aquele ar de sabe-tudo de professorzinho de ginásio, se arvora a escrever sobre um assunto que não é nem um pouco da sua alçada e afirma que, se estamos vivos, deveríamos dar graça aos agrotóxicos.
Até aí nada de novo. Afinal nasce um imbecil a cada minuto. O mais preocupante é toda a cobertura que esse “Zé Ruela” jornalistico está recebendo por parte das agencias de notícias e agremiações ligadas ao setor do Agronegócio.
Pouca gente, hoje em dia, se dá conta de que a profissão de jornalista é uma profissão em extinção. Está cada vez mais dificil ser jornalista hoje em dia.
Várias “faculdades” de jornalismo estão cerrando as portas e eu (e outros especialistas nesse assunto também) antevejo que em 10 anos não mais haverá nenhuma faculdade de jornalismo. Isso porque, atualmente, qualquer pessoa é na verdade um jornalista.
Com o advento das redes sociais e a facilidade de se estar conectado com o mundo, a imprensa deixou de exercer o seu papel histórico de informar a população e agora, quando o fazem, via de regra, são um verdadeiro desastre. Esse livro desastrado é um exemplo típico dessa incompetência por parte dessa imprensa tendenciosa, incompetente e venal.
Vejam, por exemplo, o caso das eleições americanas. Nunca na história da imprensa ficou mais patente o tamanho da sua incompetência quando davam a vitória a Hillary Clinton. Esse fiasco da imprensa, e dos jornalistas, deu origem a uma expressão muito usada atualmente que é Fake News.
Como em tudo na vida, acho até desnecessário mas bom que se diga que, em toda regra existem exceções e nesse caso até bastante honrosas. Existe muita gente boa na imprensa, mas a regra ultimamente, seria aquela mesma, a grande maioria dos jornalistas tem produzido mesmo é Fake News.
As multinacionais do veneno, já há bastante tempo organizadas em torno de empresas de Relações Publicas, que não passam de agências de notícias à soldo de quem quer que seja, atuam não mais isoladamente , mas sim em conjunto, via essas empresas de RP, e com isso reduzem os seus custos e maximizam seus objetivos.
Essas empresas de RP estão ativamente empenhadas em divulgar noticias, promover congressos, simpósios e reuniões e até publicar todo o tipo de material para promover os interêsses econômicos dos seus clientes. Assim, conseguem a façanha de lançar um livro como esse e com todo esse estardalhaço.
Isso não chega a ser novidade para ninguém. Há muito que conhecemos esse modus operandi dessas empresas. As outras formas que essas empresas atuam também são bastante conhecidas. Cooptação de institutos de pesquisas e Universidades carentes de verbas também é outra forma de atuação.
Os pesquisadores e cientistas que, muitas vezes, se consideram melhor que todas as demais pessoas, gostam de quem reconhece essa sua suposta superioridade e nenhum reconhecimento é melhor do que o financeiro. Com isso essas empresas, com seus objetivos escusos, vão conseguindo manter a sua hegemonia nos meios científicos que, em ultima analise, são os que irão ditar o que é certo e o que é errado e balizar as politicas publicas.
É isso o que as multinacionais fazem em todo o mundo. Essa atividade tem até um nome especifico. Chama-se Pampering . O verdadeiro nome, entretanto, deveria ser mesmo propina ou suborno.
Em todo o mundo as pessoas-chave que influem na opinião pública são de uma forma ou de outra “apascentadas” pelas multinacionais, em todos os niveis mas principalmente naqueles com poder decisório como politicos, pesquisadores e é claro jornalistas de segunda categoria e venais.
A opinião publica será tão mais influenciada por essas pessoas quanto maior for a fé que nelas depositam e nas informações dessas mesmas pessoas e instituições. Senão, qual outro objetivo teriam os chamados “institutos” de pesquisa de opinião pública senão o de, na maioria das vezes, desinformar as pessoas mediante a venda de pesquisas encomendadas ?
Um deles, o Datafolha, já virou até motivo de escárnio e chacota pública.
Quem não se lembra da gravação : “Amanhã vai sair um estudo no Datafolha dizendo que eu fui o melhor presidente que já existiu nesse pais “.
Assim, é evidente que quando vemos um livro louvando os agrotóxicos por ainda estarmos vivos, é o momento de pararmos para pensar um pouco. Qualquer criança de primeiro grau sabe que isso é mentira, então porque a imprensa, organizações do Agronegócio e outros estariam dando cobertura exagerada a esse tipo de notícia totalmente absurda ?
Acreditar nessa gente, ainda que por breves instantes, é desmantelar o próprio cérebro, é destruir em nossas almas a capacidade para as distinções mais elementares e autoevidentes.
Para nós, trata-se evidentemente de um jogo. Eu o chamaria de Jogo dos Sete Erros.
Cabe a nós descobrir e apontar aonde estariam esses erros.
Erro Número 1. Jornalista tupiniquim mequetrefe e desconhecido passa a ter uma cobertura desproporcional a sua fama (nenhuma) e ao seu talento (nenhum).
Temos que nos perguntar como é que essa pessoa totalmente desconhecida passa a ter cobertura nacional da noite para o dia ? Uma simples pesquisa no Google usando o nome do autor do livro irá produzir mais do que toda uma pagina devotada ao lançamento do mesmo.
Quem paga pela divulgação de todas aquelas agências de notícias ?
Erro Número 2. O Agronegócio encampou e encabeçou essa campanha de divulgação do livro.
A rigor, o chamado Agronegócio deveria estar interessado não só em faturar, mas também, e principalmente, em salvaguardar o meio ambiente e a saúde dessas mesmas pessoas que são as responsáveis pelo seu sucesso financeiro. Ambientalmente, ele é um fracasso mas financeiramente é um sucesso.
Entretanto, somos todos nós que teremos que pagar essa conta após algumas décadas. Porque estariam encabeçando então essa inciativa mentirosa e, até certo ponto, suicida ?
Erro Número 3. Autores de renome internacional já publicaram centenas de trabalhos científicos e livros mostrando exatamente o contrário.
A OMS já teve a oportunidade de se manifestar inúmeras vezes sobre a carcinogenicidade de alguns agrotóxicos como o GLIFOSATO e não vai ser jornalista tupiniquim mequetrefe nenhum que terá o poder de desmentir dezenas de cientistas representando 13 países reunidos nessa organização internacional.
Erro Número 4. O verdadeiro mito é o de que os agrotóxicos não causam problemas.
André Leu , presidente da IFOAM reconhecida e respeitada associação internacional e autor do livro conhecido internacionalmente, The Myth of Safe Pesticides ( 2 ) teve a oportunidade de demonstrar amplamente essa falácia produzida pelas multinacionais do veneno e seus asseclas cooptados, espalhados pelos governos e centros de pesquisa, universidades e agencias reguladoras pelo mundo afora.
Figura 1. O mito de que os pesticidas seriam seguros já foi devidamente desmascarado por esse e outros livros reconhecidos internacionalmente.
Para quem ainda não sabe como funcionam as coisas existem também outras publicações igualmente de peso com por exemplo o excelente trabalho de Steven Druker ( 3 ), onde ele, um advogado de renome, desmascarou integralmente todo o esquema montado pelas multinacionais do veneno, que sistematicamente subverteram a ciência, corromperam governos e enganaram a opinião publica.
Erro Número 5 . Autor do livro diz que não recebeu nem um centavo para escrever essa peça ridícula e por todo aquele desperdício de papel e tinta.
Como é que um simples jornalista sem nenhuma experiência no ramos dos agrotóxicos conseguiu reunir 38 paginas de citações bibliográficas da noite para o dia ? Muito cientista de renome nem teria toda essa capacidade porque também tem outras tarefas a cumprir e então como é que um jornalistazinho consegue todo o tempo do mundo para fazer todo esse trabalho. Quem executou esse trabalho ? Quem irá comprar esse lixo senão as mesmas empresas que o financiaram ?
Esse livro só serviu e só servirá para provocar o que já provocou, isto é, entrevistas bancadas pelo agronegócio e dezenas de notícias geradas por agencias de notícia compradas.
Dessa forma o jornalista das multinacionais do veneno inaugurou uma nova classe dentro do jornalismo. Nós já sabiamos da existência do Ghost Writter, mas essa é a primeira vez que escutamos falar em um Orange Writter, ou seja um escritor laranja.
Erro Número 6. Bate sempre na mesma tecla de que a Nova Agricultura, que ele erradamente chama de orgânica, não será capaz de alimentar o mundo.
Se isso fosse realmente verdade porque eles teriam todo esse trabalho em publicar um livro para informar o publico sobre isso ? Uma coisa eu aprendi na vida. Geralmente, quem ataca determinado grupo é porque tem mêdo daquele mesmo grupo ( 1 ).
Hoje em dia, grupos de agricultores sustentáveis no Brasil Central estão demonstrando ser possivel ter colheitas excelentes usando Culturas de Cobertura, Pós de Rocha e muita microbiologia e é exatamente o uso dessas tecnologias inovadoras é que está apavorando essas mega empresas da poluição. Afinal de contas esses agricultores inovadores estão provando que a academia nem sempre esteve correta e isso não é bom para os negócios deles.
Erro Número 7. Demonstrou não saber fazer contas e tentou encobrir o fato de que cada brasileiro está exposto a 5 litros/kilos agrotóxicos/ ano, muitas vezes proibidos em outros países.
Usando uma comparação tôsca com o tabaco tenta encobrir essa verdade inconveniente de que cada brasileiro estaria sujeito a 5 litros por ano dizendo que parte desses agrotóxicos são usados em atividades florestais, e culpando o uso indevido (off label) de alguns agrotóxicos, o que não justifica a exposição dos brasileiros a toda essa carga indesejável de substancias quimicas.
O nivel de argumentação chega a ser realmente infantil. Usam exageradamente o que Carvalho denominou de “Lógica da Canalhice” ( 1 ).
- Uma coisa porém é certa. A tese deles é tão indefensável que não encontraram nenhum medalhão canalha o suficiente para ser o escritor laranja desse livro e tiveram que se valer de um simples jornalista mesmo.
Só esse fato já demonstra o nível de desespero dessa gente que devem estar vendo os seus lucros se esvairem enquanto observam o crescimento da agricultura sustentável, biológica e até mesmo orgânica livres da sua influência nefasta.
José Luiz M. Garcia
Julho de 2017
Referências
- Carvalho, Olavo (2015) O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota, Ed. Record, 16a. Ed., 613 pgs.
- Leu, André ( 2014) The Myth of Safe Pesticides, Acres USA, Austin, TX, 214 pgs.
- Druker, Steven M (2015) Altered Genes, Twisted Truth. How the Venture to Genetically Engineer Our Food Has Subverted Science, Corrupted Government, and Sistematically Deceived the Public, Clear River Press, 511pgs.
Seria esse livro: “Agradeça aos agrotóxicos por estar vivo”, de Nicholas Vital, na sua indignação não pude saber. Achei uma entrevista com o autor, no mínimo tendencioso ele, se interessar: http://www.blogdaeditorarecord.com.br/2017/07/05/agradeca-aos-agrotoxicos-por-estar-vivo-nicholas-vital/
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Eu não quero “encher a bola”de ninguém muito menos de pessoas vendidas ao sistema.
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