Vinte anos de Acres USA
É muito difícil participar de uma Acres USA Conference sem relembrar de todos aqueles gigantes que nas décadas de 80 e 90 ajudaram a lançar as bases de um novo modelo de Agricultura destinado ao século 21 que produza alimentos realmente saudáveis, com elevada densidade nutricional, não só em proteínas, minerais, carboidratos complexos, mas também e sobretudo, em PSM ( Metabólitos Vegetais Secundários ) que incluem fitoalexinas, flavonóides e diversos outros compostos que hoje são usados pela Nutracêutica como alimentos funcionais ou suplementos alimentares capazes de auxiliar e remediar diversas condições de saúde e, finalmente, sem resíduos de substâncias tóxicas, e não somente alimentos certificados para esse último único e determinado aspecto.
Nomes como os do Prof. William A. Albrecht, Charles Walters, C.J. Fenzau e principalmente do Doc Carey Reams aparecem frequentemente em nossas mentes. E mais recentemente outros igualmente importantes, e que pegaram os seus respectivos bastões e os entregaram mais adiante, como fizeram Jerry Brunetti, Bruce Tainio, Don Schriefer, Dr. Dan Skow e tantos outros que já deixaram a nossa companhia mas que cumpriram o seu papel de levar adiante aquele sonho inicial. Há que fazer menção, igualmente aos que estão entre nós e que ativamente executam essa tarefa diariamente e com brilhantismo e competência nos dias de hoje como Dr. Arden Andersen, Dr. Philip Wheeler, Hugh Lovel, Gary Zimmer, Graeme Sait, e mais recentemente Jon Frank e John Kempf, dois jovens promissores e brilhantes que, tenho certeza, possuem o conhecimento e as ferramentas necessárias para levar essa nova agricultura a um novo e superior patamar.
Esse ano eu compareci a minha Acres USA Conference 20 anos depois que começei a frequentá-la na década de 90, mais precisamente em 1999, e depois no início dos anos 2000 em companhia do meu filho Rafael Garcia e do veterinário Alberto Machado. Compareci a muito mais da metade desses encontros durante todo esse tempo.
Esse ano, na volta, a empresa aérea cancelou o voô que faria escala em Toronto, no Canadá, e nos recolocou em um voô que seguia para o Brasil a partir da cidade de Atlanta na Georgia que é a terra natal do Dr Martin Luther King, Jr., o qual tem me inspirado em diversas ocasiões, e então, pude me lembrar de como tudo realmente começa com um sonho, ao casualmente cruzar com essa exposição de posters no aeroporto.

Assim como o Dr Luther King tinha um sonho, todas essas pessoas mencionadas acima também tinham ou tem um sonho. Esse sonho era/é o de que a agricultura fosse praticada de forma mais racional, inteligente, mesnos dogmática, científica, sustentável, lucrativa e menos poluente, menos degradante tanto para o meio ambiente quanto para saúde das pessoas e principalmente das nossas crianças.
Sonhavam que um dia essa experiência macabra de tentar dobrar os ditames da evolução, conhecida por Natureza, com o uso de substancias tóxicas e venenosas fosse chegar ao fim e para tanto trabalharam arduamente nesse sentido.
Sonhavam com o dia em que as pessoas descobrissem que nenhum desses chamados “defensivos agrícolas “ são na verdade testados nem para a sua toxicidade crônica e nem para a toxicidade dos seus metabólitos, que as vezes chegam a ser até 100 vezes mais tóxicos do que o próprio princípio ativo, como é o caso do Glifosato e do AMPA. Também iriam descobrir que a maioria desses produtos fazem uso de “coadjuvantes” muitas das vezes mais tóxicos do que o próprio principio ativo testado e registrado ( aprovado ) como é o caso da tecnologia Transorb no Round-Up.
Sonhavam que o bom senso iria prevalecer e mostrar aos legisladores e burocratas da regulação do comércio desses produtos que, em se tratando de agrotóxicos, 2 + 2 nunca são iguais a 4, isto é, todos esses produtos são testados de forma isolada e nunca de forma conjunta e o que nós observamos é que a associação de dois ou mais agrotóxicos, conforme eles vem sendo usados rotineiramente na nossa agricultura nos dias de hoje, é sempre muito mais tóxica do que aqueles mesmos produtos usados de forma isolada.
Da mesma forma eu também tenho o direito de sonhar. Sonho com o dia em que os agricultores convencionais e até mesmo aqueles de todas as vertentes alternativas sejam elas biodinâmicas, orgânicas, sintrópicas , agroecológicas deixem de ser dogmaticos e passem a fazer a coisa da forma correta sem se importarem com o rótulo. Existe sempre mais de uma maneira de fazer a coisa certa e um número infindável de maneiras de fazer as coisas erradas.
O dogma está arraigado em todos nós e é muito fácil de ser observado nas pessoas quando assumem determinadas posições. Os biodinâmicos, por exemplo, com o seu elitismo, acham que as coisas só podem ser feitas de uma única e exclusiva maneira, que invariavelmente foi a maneira que Steiner disse que teria que ser.
Da mesma forma os orgânicos, ao demonizarem toda e qualquer substância que não seja totalmente natural. Por isso estão até hoje discutindo se o uso dos ácidos humicos extraídos por extratores alcalinos podem ser usados na agricultura orgânica quando o processo de extração desses produtos é bem menos danoso e agressivo ao meio ambiente do que, por exemplo, a fabricação do sabão caseiro, o qual não só é permitido como também louvado. Dogmas injustificáveis e infindáveis e, por isso mesmo, esse sistema restritivo e proibitivo está fadado ao fracasso a médio e longo prazo.
Outro dogma recente é o do plantio direto que demoniza definitivamente o uso do arado. Mas existem situações em que o arado é indispensável, principalmente em países de clima frio. Esse dogma faz com que a maioria dos agricultores de plantio direto tenham camadas endurecidas nos seus solos como eu tenho podido observar repetidas vezes.
Ví uma senhora que possui títulos acadêmicos e que eu conhecí em 2002, e que hoje em dia ( brasileiro é meio atrasado) conta com considerável numeros de fãs e adeptos por aqui, afirmar que “ fertilizantes salinos iônicos tem sempre um impacto negativo na microbiologia do solo ”. Isso definitivamente não é verdade. Tudo vai depender do tipo de fertilizante, do seu índice de salinidade e da quantidade usada.
“Não existe nenhuma regra em eco agricultura que não tenha sido quebrada por alguem e em algum lugar “ ( Kempf )
“ O grande obstáculo para a descoberta não é a ignorância – é a ilusão do conhecimento” ( Daniel J. Boorstin )
“Leia os livros e estude a Natureza. Quando os dois não concordarem, jogue fora os livros “ ( Dr William A Albrecht )
John Kempf, em um recente texto, pequeno mas altamente provocativo, declarou que “ Não é o que você não sabe que é o perigoso. O perigo é justamente o que você acha que sabe “. Confesso que nunca tinha visto uma definição tão precisa do atual estado da nossa agricultura bem como da academia que lhe dá o suporte e a credibilidade atuais.
O Dr Martin Luther King não hesitou em chamar as autoridades competentes da época as suas responsabilidades de implementar o voto do eleitor negro e a atender as suas demandas e necessidades. Da mesma forma devemos exigir das autoridades que respeitem a saúde das nossas crianças pelo fato de elas terem um metabolismo diferente dos adultos e de não metabolizarem determinadas substancias tóxicas de forma eficiente.
Faço minha as suas palavras quando disse : “When evil men plot, good men must plan”. Quando essas mentes malígnas de Brasília tramam, as pessoas de bem devem planejar. “Todo mundo pode ser grandioso. Você apenas precisa de um coração cheio de graças e uma alma gerada pelo amor “.
Boas Festas e Feliz Ano Novo a Todos !
Um ano de 2020 com menos dogmas. Esse é o meu sonho.
Jose Luiz M Garcia
Instituto de Agricultura Biológica