Essa prática de dessecar ( matar ) as lavouras com glifosato ( Gly ) se popularizou e se disseminou nas ultimas duas décadas. Hoje em dia ela é usada até para “acelerar a maturação” da cana de açúcar, uniformizar a secagem de cereais como feijão, arroz, trigo, plantas de cobertura ( adubos verdes ) isoladamente ( como gramíneas para fazer palhada para soja e o milho ) como também os chamados “coquetéis“ e até mesmo para conter a dominância apical de plantas, controlando assim a sua altura e tamanho, além é claro do seu já tradicional uso com herbicida principalmente em aplicações que antecedem lavouras de plantio direto.
Esse produto deve sempre ser olhado sob várias perspectivas importantes.
A primeira delas diz respeito ao seu efeito como herbicida, que até mesmo os pesquisadores brasileiros ainda “compram” por ser a versão oficial ( 1 ). Essa versão é a que garantiu a segunda patente e o seu registro original como herbicida, que é a de que o glifosato bloqueia um rota bioquímica conhecida como “Rota do Shikimato”, no qual o Gly bloquearia uma enzima ou seja a EPSPS ( 2 ) devido a sua alta afinidade pelo átomo de Manganês que faz parte do núcleo dessa enzima.
Ocorre, também, que autores como Huber ( 3 ) e Kraemer ( 4 ) já tiveram a oportunidade de demonstrar que o Gly interfere negativamente sobre a microbiota do solo e hoje isso já não é mais surpresa para ninguém, tanto assim que uma terceira patente foi concedida com “biocida” para essa molécula em um adendo a segunda patente ( US 7,771,736 B2) ( 2 ). O Glifosato é um biocida. Ponto final. Existe uma patente que corrobora essa informação. Não sou eu dizendo isso. É o US Patent and Trade Office.
Agora um novo estudo confirma mais uma vez essa característica biocida ( 5 ) e um outro sua característica quelatizante muito embora os pesquisadores não tenham se dado conta desse aspecto específico em particular ( 1 ).
Acontece que a patente original do Gly concedida a Stauffer Chemical Co. ( US 3.160,632 ) foi como agente desencrustante devido a sua forte característica quelatizante e, de fato, autores como Samsel, que já tiveram oportunidade de estudar bem esse assunto apresentam dados que demonstram ser o Gly tão eficiente quanto. ou até mais, que agentes quelatizantes como EDTA e EDDA ( 2 ).
Além desse triplice efeito, ou seja, herbicida, quelatizante e biocida, há que se levar em conta igualmente o fato que provocou a condenação da Monsanto pela Suprema Corte da França por haver mentido com relação ao seu efeito cancerígeno, haja visto os bilhões de dolares aos quais essa empresa foi condenada a pagar somente nos Estados Unidos, ou seja os efeitos deletérios do seu coadjuvante conhecido como tecnologia Transorb componente do produto comercial Round-Up. Trocado em miúdos, poder-se-ia dizer que Glifosato é uma coisa e Round-Up é outra. O produto Round-Up, com a tecnologia Transorb, é várias vezes mais tóxico do que o Glifosato que foi registrado na década de 70 ( 6 ).
Se o Glifosato tem tripla ação então ele mata as plantas de três maneiras diferentes:
Pelo bloqueio em todos os metais co-fatores enzimáticos como Manganês, Ferro, Cobre, Zinco, Cobalto, etc… em doses de até 50 vezes o necessário ( Prof Huber – Comunicação Pessoal ), pelo bloqueio do sistema imunológico da planta e pela interferência negativa sobre a microbiota do solo e finalmente pelo bloqueio de uma rota bioquímica do metabolismo secundário.
Então, para aqueles que ainda estão indecisos sobre se devem continuar usando essa ferramenta eu sugiro que se atualizem com essas informações antes de se decidirem.
O estudo brasileiro feito na região Nordeste ( 1 ) apenas corroborou o que já se sabia, ou seja, que o glifosato interfere negativamente na liberação dos minerais nutrientes das lavouras de cobertura ( Crotalaria spectabilis ) exatamente porque é um poderoso quelatizante, o que pode não ser interessante quando você almeja justamente que essa liberação seja feita o mais rápido possível para que seja utilizada pela lavoura subsequente.
O glifosato interfere de forma negativa na microbiota do solo tornando-o mais propício ao desenvolvimentos de doenças de solo e, devido a isso , Kempf alerta para o fato de que, se você quiser desenvolver um solo que seja supressivo a doenças essa ferramenta ( glifosato ) não deveria jamais fazer parte da sua “caixa de ferramentas “ ( 7 ).
José Luiz M Garcia
Instituto de Agricultura Biológica
Referências
1. Costa, J.V.T. et all ( 2019) Decomposition and Nutrient Release from Crotalaria spectabilis with Glyphosate Application, Ciencias del Suelo ( Argentina ), 37 ( 2 ) : 238-246, 2019.
2. Garcia, J.L.M. ( 2017) GLIFOSATO, Blog do Instituto de Agricultura Biológica, https://institutodeagriculturabiologica.org/2017/01/19/glifosato/
3. Huber, Don (2016) Glyphosate – Failed Promises, Flawed Science , Acres USA Conference 2016, Omaha, Nebraska.
4. Kremer, Robert (2016) Glyphosate and Transgenic Crops, Acres USA Conference 2016, Omaha, Nebraska.
5. Allegrini, M. et all ( 2019 ). Suppression treatment differentially influences the microbial community and the occurrence of broad host range plasmids in the rhizosphere of the model cover crop Avena sativa L. Plos/One 14, https://doi.org/10.1371/journal.pone.0223600
6. Mesnage, R. et all ( 2014) Major Pesticides Are More Toxic to Human Cells Than Their Declared Active Principles, Biomed. Res. Int. 2014, 2014: doi: 10.1155/2014/179691
7. Kempf, John ( 2020 ) Terminating Cover Crops With Glyphosate, johnkempf.com,
Terminando Plantas de Cobertura com Glifosato