Essa semana, John Kempf nos trouxe, mais uma vez, uma pérola, que eu até já havia esquecido por que lá se vão exatos 20 anos ( 2 ). No seu ultimo post ele transcreve uma parte do epílogo do célebre livro do Dr. Arden Andersen, Science in Agriculture ( 1 ), tantas vezes citado por mim em meus artigos.
Foi após ter lido os livros do Dr Arden Andersen que me senti compelido, pela primeira vez, a escrever. Eu diria que foram os seus poderosos textos claros e precisos que me serviram de inspiração à época.
Escrevi artigos inspirados também no seu outro livro ( 3 ), que foram “Mais Ciência e menos Pseudo-Ciência na Agricultura “ ( 4 ) e “O Alto Custo de um Sistema Agrícola Falido “ ( 5 ).
O Dr Andersen foi realmente uma excelente fonte de inspiração para que essa Nova Agricultura do Futuro fosse criada e o fez por intermédio de seus textos inspiradores.
E por isso, eu gostaria de também revisitar esse epílogo intitulado “Peer Review and Politics” ( 1 ).
Como vocês sabem, a publicação de trabalhos de pesquisa ditos “científicos” são baseados no “padrão ouro” da academia que é a publicação de trabalhos de pesquisa em revista igualmente ditas “técnicas e científicas “ e que sejam revisados e aprovados por seus pares ( peers ), ou seja pesquisadores e cientistas iguais a eles.
São esses trabalhos ditos científicos que servem de base e pretexto para que decisões de toda sorte sejam tomadas inclusive até decisões políticas.
Andersen nos alerta para o irônico fato que esse tipo de cientista faz-de-conta agrícola espera encontrar verdades e novas descobertas nesses trabalhos revisados por seus pares quando eles não tem nenhum entendimento sobre o que eles estão perguntando.
De fato, Einstein já dizia que “você jamais irá obter as respostas certas se não souber fazer as perguntas de forma correta” e, na mesma linha de raciocínio, de que “não podemos resolver os problemas usando o mesmo pensamento que os criaram “.
E nos chama atenção para o fato de que os pioneiros não tem pares e muito menos alguma publicação revisada por seus pares ( peer review literature ) para publicar os seus trabalhos. Quando Giordano Bruno sugeriu que era a Terra que orbitava ao redor do Sol, ele foi assassinado pelos seus pares. Galileu Galilei quando lançou a sua teoria do Heliocentrismo foi condenado pelos seus pares astrônomos da época e depois julgado pela Igreja como “veementemente suspeito de heresia” e obrigado a se retratar. Posteriormente foi condenado a viver o resto da sua vida em prisão domiciliar.
No século 19, os pares do médico austríaco Ignaz Semmelweis (outros médicos iguais a ele) o julgaram louco por sugerir que os médicos lavassem as mãos e seus instrumentos cirúrgicos entre uma cirurgia e outra. Morreu 14 dias após ter sido internado em um manicômio em decorrência de gangrena em ferimentos infligidos pelos guardas daquela instituição.
O gênio Nikolas Tesla foi ridicularizado por sugerir, à época, que o tipo de eletricidade usado fosse a Corrente Alternada ( AC) por seus pares que incluíam Thomas Edson, sendo que Tesla patenteou mais de 1.000 invenções. Seu trabalho em energia livre, ressonância e biofísica ainda é ostracizado até os dias de hoje pela academia.
E como esses poderíamos citar inúmeros outros. A lista é interminável, como por exemplo Albert Abrams um médico como poucos e considerado um gênio até sugerir que podia diagnosticar e curar o cancer com os seus equipamentos denominados Oscilloclast e o Radioclast. A partir desse momento foi rotulado como louco pelos seus pares médicos. Wilhelm Reich foi preso pelo seu trabalho com energia orgônica e no tratamento do cancer.
A chamada Revisão por Pares ou Revisão Paritária é na verdade uma revisão política, destinada a determinar se um determinado trabalho aliena o monopólio ou não. Por acaso pessoas que nunca foram astronautas poderão ser pares de astronautas ? Será que os que não são pioneiros podem ser pares de pioneiros ? A resposta é um rotundo NÃO !
Pioneiros não tem outros pares exceto outros pioneiros iguais a ele.( 1 )
Em pesquisa agrícola o resultado no campo é o que conta. A ênfase na revisão por pares deve ser secundária aos resultados do campo. É no campo que os “doutores” agricultores, horticultores e pecuaristas são forjados ou então vão a falência.
A estatística é uma outra bandeira constantemente distorcida por vários professores universitários agrícolas. Existem dezenas de volumes de livros de estatística que supostamente validam as práticas agrícolas tóxicas modernas e, entretanto, o sistema está falhando. A estatística é uma ferramenta que tem um vício de origem inerente por representar sempre apenas aquilo que o pesquisador deseja que ela represente. Essa informação é frequentemente desconectada da realidade ( 1 ).
Por exemplo, se todos os campos de alfafa dos EUA forem inspecionados, nós provavelmente iríamos concluir que 99% das plantas de alfafa possuem caules ocos. Por essa pesquisa vamos concluir que caule oco é normal em alfafa, e que caules preenchidos seriam “anormais”. Na verdade caules ocos podem ser comuns mas são indesejáveis e anormais comparados aos talos de alfafa sólidos e preenchidos.
Não é comum encontrar alfafa com caules preenchidos e sólidos mas isso é o que é normal em uma planta saudável de alfafa que exibe elevados níveis de Brix, geralmente evidenciados por um nível mais elevado de Cálcio na planta primordialmente devido a níveis adequados de Boro e Cálcio no solo.
De acordo com a estatística, o mato, as doenças e os insetos, infestam as lavouras independentemente do seu equilíbrio e do seu status nutricional, de acordo com os métodos de analise usados pela pesquisa agrícola, no solo ou na lavoura e essa informação é usada para justificar a necessidade contínua do uso de pesticidas e a mentira de que a população mundial irá “morrer de fome” se essas substâncias tóxicas não forem usadas ( 1 ).
A verdade no campo é que as pragas estão diretamente relacionadas com o equilíbrio e o nível nutricional das lavouras abaixo do qual essas pragas se sentirão atraídas pelas lavouras e acima do qual essas mesmas pragas irão deixar a lavoura em paz.
Não é porque esses “cientistas” agrícolas ( coletores de dados ) são incapazes de atingir esse nível mínimo ( threshold ) que garantem a imunidade vegetal, que esse nível seja inválido. Se, por acaso, você for incapaz de correr uma milha em quatro minutos isso não invalida o fato de que isso seja possível de ser realizado por outra pessoa. Se você for incapaz de tocar piano, isso não invalida o fato de que o piano possa ser tocado por outras pessoas ( 1 ).
Andersen observa que as autoridades agrícolas querem que acreditemos que, porque eles são incapazes de atingir limites mínimos nutricionais nos solos e nas lavouras acima dos quais não mais ocorre pressão de pragas, aonde as colheitas atingem recordes e a qualidade é simplesmente incomparável, que isso não possa ser atingido.
O que nós realmente precisamos é de pesquisadores agrícolas que verifiquem o que vem sendo feito realmente no campo nos dias de hoje e no mundo real. Não para beneficiar o pesquisador ou os agricultores que já conseguiram romper as amarras do velho sistema e já sabem como fazer agricultura de forma correta usando o novo paradigma, mas sim, e sobretudo, para assistir aqueles que são incapazes de conduzir essas pesquisas por si próprios.
Agricultores de uma maneira geral ( grandes lavouras ou hortifruti ) estão comprando produtos biológicos e consultoria biológica porque eles funcionam no campo e não porque existem dezenas de volumes de pesquisas oficiais que os sancionem.
Existe sim muita literatura corroborando a agricultura biológica nos trabalhos de Callaham, Steiner, Albrecht, Senn, Krasilnikov, e vários outros , embora todos eles sejam sistematicamente ignorados pelos acadêmicos dos sistemas de ensino e pesquisas oficiais.
Nem a sociedade e nem a agricultura precisam dessas infrutíferas tentativas de impedir ou bloquear o progresso, representados por essas associações guarda-chuvas e suas gestões junto as autoridades do MAPA, para tentar tolher a liberdade dos agricultores de trabalharem com a Natureza por estarem fartos de décadas de descaso e ostracismo por parte da elite dita científica desse pais.
A menos que os pesquisadores dos sistemas oficiais de pesquisa se desfaçam da sua habitual arrogância, admitam que estão em um caminho errado e comecem a participar em pesquisas agrícolas reais e viáveis, correrão o sério risco de se tornarem rapidamente obsoletos (em um mundo cada vez mais conectado), inimigos do progresso e a um custo cada mais difícil para ser mantido pela nossa sociedade.
A questão fundamental que eles precisam responder é a seguinte : Vocês vão continuar a tentar ensinar essa mentira chamada de “agricultura convencional” ou vão querer participar da solução aos atuais problemas da agricultura ?
A Agricultura Convencional alega ser científica.
Então porque a agricultura convencional :
- Ignora os trabalhos de Callahan, Bob Becker, Fritz-Albert Popp e Kaznacheyev em Biofísica ?
- Ignora os princípios básicos de Química relacionados a inteiração dos compostos, o significado do pH, Eh, o uso e o valor dos ácidos humicos e a formulação e a fabricação dos fertilizantes ?
- Ignora a Biologia e se recusa a reconhecer que o manejo nutricional adequado soluciona os mesmos problemas que a agricultura convencional tenta contornar por meio da engenharia genética, por exemplo variedades com resistência a insetos ?
- Ignora a Geologia básica relativa a inteiração das partículas do solo, minerais e humus e a sua correlação com a estrutura do solo, compactação e a formação de camadas endurecidas ?
- Ignora e Ecologia básica nas suas frequentes aplicações de substâncias tóxicas, uso excessivo de fertilizantes lixiviáveis e na sua apatia sobre a erosão do solo e sobre a integridade ambiental ?
- Ignora todo o material de pesquisa microbiológica provando inúmeras vezes as características biológicas do solo e a necessidade da sua manutenção para a sustentabilidade do sistema agrícola como um todo ?
- Ignora os princípios básicos de administração de negócios para a manutenção da sustentabilidade, manutenção de registros de qualidade e maximização da auto-suficiência para uma agricultura saudável ?
- Ignora o preceito do senso comum fundamental que é seguir o caminho de menor resistência e o reconhecimento da Natureza como o modelo científico ?
- Ignora a pesquisa britânica que mostra que fosfatos de rocha não acidificados são bem superiores aos produtos fosfatados ácidos de alta concentração de P, em cultivos perenes de longa duração ?
- Ignora a pesquisa soviética que demonstra que os microrganismos benéficos de solo podem controlar completamente doenças de solo e organismos-praga se as plantas são submetidas a uma nutrição e condições adequadas.
- Ignoram as pesquisas de T.L. Senn da Climson University sobre o valor e o uso de algas marinhas como bioestimulantes e nas características de ácidos humicos em conjugação com fertilizantes químicos.
- Ignoram o uso extensivo dos ácidos humicos principalmente pelos agricultores europeus or pelo menos 15 anos ( hoje já seriam 35 anos após a publicação do livro ) para melhorar a eficiência e reduzir a lixiviabilidade dos fertilizantes químicos ?
- Sancionam e perpetuam o obscurantismo e o rebaixamento do valor do trabalho monumental do Prof. William Albrecht em ciências do solo bem como da sua forçada aposentadoria precoce em virtude de substanciais doações para a pesquisa feitas pelas industrias químicas de fertilizantes cujo resultados já previstos e antecipados contrariavam o trabalho de pesquisa de Albrecht ?
A Agricultura Convencional alega integridade cientifica.
Entretanto
- Desde a Segunda Guerra Mundial os produtores americanos aumentaram o uso de pesticidas agrícolas em 10 vezes – para cerca de 600.000 tons por ano, enquanto que as perdas por doenças e pragas por ano duplicaram (esses dados são de 20 anos atrás quando da publicação do livro)
- A erosão de solos está ocorrendo a taxas 20 vezes maiores do que a reposição natural e até mais rápida do que durante o Dust Bowl ( em 1930) que ocorreu antes da Revolução Verde.
- Mais de 50% dos nossos aquíferos e lençóis freáticos, lagos, córregos e rios foram contaminados, alguns além dos limites permitidos o que os tornam impróprios para o uso, com venenos agrícolas e fertilizantes como nitratos e fosfatos.
- Insetos, ervas daninhas e doenças resistentes aos pesticidas ( hoje carinhosamente chamados de “moléculas”) abundam e continuam a aumentar o seu numero a cada dia.
Andersen então pergunta : Seriam essas, as características e os atributos de uma boa ciência, de um bom e sólido gerenciamento econômico agrícola e do bom senso ?
Absolutamente que não !
Esses são atributos e características de um sistema agrícola mantido cativo, sequestrado e refém de grupos com interesses econômicos específicos e dos exploradores do petróleo e de outros recursos minerais.
É um sistema agrícola mantido a uma distância segura da verdadeira ciência, do gerenciamento agrícola saudável e do senso comum.
E dispara : “Eu ouso dizer que não existe um único departamento agrícola universitário nesse país ( EUA ) que seja capaz de cultivar nenhuma lavoura de forma consistente com um índice refratometrico acima de 12 e que tenha uma única pista de sobre as exigências nutricionais necessárias para atingir esse objetivo”.
“Ainda assim, existem agricultores em todas as partes do país, com pouca ou quase nenhuma educação universitária, que fazem isso o tempo todo de forma rotineira”.
O lema da agricultura convencional parece ser análogo ao que o contador da velha guarda da Máfia respondeu quando lhe perguntaram : Qual é o resultado de 1 + 1 ? Ao que ele respondeu : Quanto você quer que seja ?.
Graças a cientistas como Phill Callahan, L.T. Senn, William Albrecht e vários outros trabalhando e operando de forma praticamente incógnita dentro do sistema convencional, a resposta para a pergunta “Qual é o resultado de 1 + 1 ?” passaria, então, a ser : “Exatamente o que a Natureza quer que seja “.
Albert Einstein uma certa vez disse que “a crença cega na autoridade é a pior inimiga da verdade”.
É o caso.
José Luiz M Garcia
Instituto de Agricultura Biológica
Março de 2020
Referências
- Andersen, Arden (2000) Science in Agriculture – Advanced Methods for Sustainable Farming, 2nd Edition, Acres USA, Austin, Texas, 376 pgs.
- Kempf, John (2020) Politics of Peer Review and Published Literature in Regenerative Agriculture Systems,
- Ardensen, Arden (1989) The Anatomy of Life & Energy in Agriculture, Acres USA, Kansas City, Missouri, 115 pgs.
- Garcia, J.L.M. (2017) Mais Ciência e menos Pseudo-Ciência na Agricultura, Blog do Instituto de Agricultura Biológica,https://institutodeagriculturabiologica.org/2017/08/04/mais-ciencia-e-menos-pseudo-ciencia-na-agricultura/
- Garcia, J.L.M. (2015) O Alto Custo de um Sistema Agrícola Falido, Blog do Instituto de Agricultura Biológica,https:2017/institutodeagriculturabiologica.org/2015/05/05/o-alto-custo-de-um-sistema-agricola-falido/
Bom dia.
Karl Popper, ja defendia que uma boa teoria é aquela que poderia ser contestda….e o mesmo defendia que o “irrefutável”não é ciência. Popper propunha que uma teoria científica é sempre provisória, nuca definitiva, conjectural e pode ser refutada!
Grato pelo artigo.
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Bom Dia
Karl Popper foi um filósofo que realmente se preocupou com toda essa questão
de pensamento indutivo “científico” e mereçe ser estudado.
Boa lembrança.
Abs
Jose Luiz
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Professor,
Busquei seu email no blog mas não o encontrei.
Gostaria de ter acesso ao Manual de Agricultura Biológica.
Seria possível enviá-lo ao thiaagohs@hotmail.com ?
Abraços!!
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Será enviado
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Boa noite, poderia me enviar também o manual, por favor. Tentei localizar, mas não consegui.
allanflorestal@gmail.com
Obrigado
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Já foi enviado
Boa Leitura
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Boa tarde Professor, parabéns pelo trabalho!!
Gostaria de ter acesso ao Manual de Agricultura Biológica, o senhor pode enviar ao e-mail lucianopaixao@gmail.com?
Desde já ageradeço.
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Agradeço por está guiando pessoas como eu a um novo despertar de conciência lendo seus artigos .
sou um pequeno agricultor e , nao vejo outra saída para a agricultura se nao for observar a natureza se comportando.
Gostaria de receber sua apostila para aprofundar minhas leituras .
niel05barbosa@gmail.com
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Caro Antoniel,
O seu comentário é o meu principal pagamento. Foi por isso que eu criei esse blog.
Alguém precisava dizer o que eu tenho dito.
Conte sempre conosco.
Abs
Jose Luiz
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I’m a huge admirer of John Kempf. I’m learning new things from him. I would like to have access to the Manual of Organic Agriculture, can you send it to venug3016@gmail.com
Thanks for writing this
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I am very much honored for having a reader from India
Thank You and Regards
Jose Luiz
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