( Resposta ao artigo “Deixe de comprar alimentos orgânicos se quiserem salvar o planeta”)
Na semana passada presenciamos o que se poderia chamar de um “samba do criolo doido” jornalístico, protagonizado por Kristin Suleng (twitter @KSuleng), periodista dinamarquesa que escreve para o jornal espanhol El País.
Suleng, nascida em um país que está prestes a se transformar no primeiro país inteiramente orgânico no planeta Terra, decidiu que se quiséssemos salvar o planeta deveríamos (sic) deixar de comprar (grifo meu) alimentos orgânicos.
O El País é um jornal conhecido por suas posições notadamente esquerdistas, o que nos dias de hoje, por sí só, já é uma demonstração de falta de bom senso e até de falta de caráter.
Suleng, menciona estudo da New Scientist para tentar corroborar a sua tese de botequim e não teve nenhuma preocupação em esconder o plágio, já que o título do artigo inglês seria : “Stop buying organic food if you really want to save the planet”.
Para completar a “salada” e adapta-la ao paladar espanhol, azeitou o artigo com a opinião de um Engenheiro Agrônomo local professor adjunto (grifo meu) de uma Universidade (Alicante) que nem sequer dispõe de um curso de graduação em Agronomia. Isso, para Suleng, não tem a mínima importância. Como também não deve ter a mínima importância o fato de existir conflito de interesses entre a opinião desse senhor e o cargo que ocupa em empresa que fomenta a agricultura convencional suicida e falida (1).
Não faltou nem o tradicional terrorismo do desabastecimento com o argumento de que a A.O. não conseguirá alimentar o mundo com os futuros 7 bilhões de habitantes, etc e tal , porque até hoje só ocupa 1% do território agricultável no mundo todo. No Brasil ocupa até menos do que isso.
O mundo orgânico brasileiro entrou em polvorosa. Indignaram-se os orgânicos.
Tanto o New Scientist, que publica artigos elogiosos a Agricultura Orgânica e alguns claramente desabonadores, quanto o artigo do El País, nos chamam atenção para alguns fatos sobre a chamada Agricultura Orgânica (A.O.) que deveriam ser refletidos e avaliados se esse sistema agrícola quiser continuar tendo um lugar ao sol no futuro.
É bem verdade que os dados apresentados por essa periodista plagiadora, que por estar com preguiça não fez o dever de casa, estão totalmente equivocados e são no mínimo discutíveis. Enquanto o El País tenta mostrar que a A.O. é menos produtiva que a convencional mostrando experimentos de apenas uma safra (o que em Agronomia sabemos ser um total absurdo), o New Scientist reconhece dados de 20 anos do FIBL que dão conta da melhor sustentabilidade e outros parâmetros que realmente interessariam ao planeta, em outro artigo ( 2 ) e não só apenas a produtividade.
No Brasil, a Cana de Açúcar Orgânica produzida pela Usina São Francisco ( Açúcar Native) produz de 15 até 25% acima da média paulista oficial pelos dados divulgados pelo governo de São Paulo.( 3 ) Mas isso, nem o New Scientist e nem o El País sabem. Mas nem por isso, esse belíssimo exemplo, poderia ser generalizado para o resto da A.O.
Não é, portanto, sem motivo, que Balbo Jr. denomina seu sistema de Agricultura Revitalizadora de Ecosistemas para estabelecer uma necessária distancia da A.O. comumente praticada e de baixo nível tecnológico.
Paixões à parte, o periódico inglês tem razão quando, em um de seus artigos menciona o fato de que essa dicotomia (orgânico x convencional) não dá o direito a A.O. de se dizer “superior” a convencional, pelo simples fato de ser orgânica.
Outro dado verdadeiro, é que os alimentos orgânicos não são, de forma alguma, obrigatoriamente mais nutritivos pelo simples fato de serem orgânicos, queiramos ou não, gostem os orgânicos ou não. Isso se deve ao fato da maioria dos produtores orgânicos ainda não terem o exato conhecimento de como funciona o solo e nem a exata dimensão do papel dos microrganismos da chamada “Cadeia Alimentícia do Solo” e de praticarem essa agricultura sem o devido respeito ao teor de Humus e da adequada remineralização do solo.
A maioria dos agricultores orgânicos ainda praticam a chamada “agricultura orgânica de substituição” ou seja, produzem de forma orgânica de acordo com as normas orgânicas, mas ainda com conceitos agrícolas convencionais e, o que é pior, o fazem abusando de insumos notadamente deletérios ao meio ambiente como Calda bordaleza e calda sulfocálcica quando não usam receitas exotéricas, a maioria delas, sem nenhuma comprovação científica numa prática que já foi denominada de “Agricultura Orgânica por Negligência” (do inglês Organic by Default).
Esse fato, que não é novo, já foi sobejamente levantado por cientistas de renome mundial no meio orgânico, como a Dra Ana Primavesi, várias vezes ( 4 ). Isso não chega a ser nenhuma novidade para ninguém.
A autêntica e verdadeira A.O. requer um grau de conhecimento dos fenômenos da Natureza que a maioria dos agricultores orgânicos não dispõe, notadamente num país como o Brasil com um elevado índice de analfabetismo e baixa escolaridade, e o resultado disso são os produtos (na sua grande maioria, mas existem honrosas exceções) de qualidade inferior com relação ao aspecto e as vezes também com relação a densidade nutricional. Eles garantem, tão somente, quando não são fraudados, uma suposta isenção de contaminantes químicos sintéticos.
Para que os alimentos tenham uma maior densidade nutricional é preciso que o teor de Humus no solo aumente, independentemente se a agricultura é orgânica ou convencional. Isso infelizmente não é exigido nas normas orgânicas.
Práticas agrícolas que visem o aumento continuado do teor de Humus (não da matéria orgânica) no solo, como a remineralização e ativição microbiológica devem ser estimuladas e implementadas.
E, para que isso ocorra, é necessário uma especial atenção ao restabelecimento da fertilidade mineral do solo, porque é com o adequado suprimento de minerais que a micro vida do solo terá condições de estabelecer e de prosperar, coisa que eu não vejo ninguém mencionar nem na agricultura convencional e nem na A.O.
Até hoje tentam corrigir eventuais desequilíbrios do solo, nas duas agriculturas, baseados na correção da acidez, o que é de um primarismo que beira a imbecilidade, como já tive a oportunidade de apontar em meu artigo mais lido, no Blog do Instituto de Agricultura Biológica ( 5 ).
Entretanto, lendo tanto o artigo do New Scientist quanto a sua versão plagiada espanhola chega-se a conclusão que o real motivo de todo esse entrevero, na verdade, é a promoção dos alimentos transgênicos sob a falsa alegação de que não existe diferença entre os alimentos convencionais e os transgênicos, o que sabemos ser uma mentira deslavada vez que a soja transgênica acumula formaldeido um poderoso carcinogênico enquanto reduz o nível de glutationa, que é o composto que nos auxilia na desintoxicação desse mesmo composto ( 6 ). Foi essa mentira gritante que possibilitou o registro desses alimentos geneticamente modificados junto ao FDA. No Brasil, foi simplesmente uma questão de propina ao governo da época.
São esses senhores que querem que não compremos alimentos orgânicos e não a jornalista do El País. Ela e o cientista inglês são meros agentes, lacaios e porta vozes dessa poderosíssima industria que recentemente ficou ainda mais poderosa com a fusão da Bayer com a Monsanto.
Então, percebam, toda e qualquer discussão sobre assuntos da Biologia no final do dia prende-se a um duelo de “autoridades estabelecidas”. A autoridade “A “ do New Scientist diz que a A.O. não salva o planeta. A jornalista “B “ plagia o artigo e concorda. A autoridade “C “ , de universidade que não dispõe de curso de graduação em Agronomia, diz que A.O. produz menos e que não tem mais nutrientes. Depois, alguma outra autoridade diz que transgênicos são iguais aos alimentos convencionais, o que sabemos ser mentira.
Infelizmente, é sempre assim. Nas ciências exatas não temos esse problema. A Matemática reina soberana sobre todas as demais ciências. E, como foi demonstrado no monumental filme, “O Homem que viu o Infinito”, ela tem uma origem Divina. O conhecimento já existe. Sempre existiu.Tudo o que temos a fazer é ir buscar as respostas em algum lugar e isso é válido para qualquer outra verdade científica.
Tereza de Ávila, a religiosa espanhola que viveu no século XIV, e reconhecida como um dos “Doutores da Igreja”, definiu “humildade” como sendo a verdade. Ou seja, a palavra humildade, que deriva da palavra “humano”, seria a exata capacidade de reconhecermos a verdade ou a noção exata das coisas e, sendo assim, seria o oposto da arrogância.
As ciências biológicas estão contaminadas pela arrogância e pelo desconhecimento da exata noção das coisas. Nessa seara é comum usar-se “Doutores” para justificar procedimentos, técnicas e tecnologias. Existe todo um protocolo de persuasão da opinião publica com o uso indevido de “autoridades” estabelecidas. Porque vocês acham que a CNTBio só permite que pessoas com o título de Doutor participem das suas reuniões, no melhor estilo ditatorial ?
Na Engenharia, vocês jamais irão ver um engenheiro propor a construção de um edifício sem a necessária quantidade de aço, concreto e tijolos. Mas na Biologia é isso que vemos a todo instante. Propõe-se a construção dessa ou daquela forma de se praticar agricultura sem o devido valor aos principais componentes do solo, isto ao Humus, a fertilidade mineral e a riqueza microbiológica.
Nenhuma tecnologia transgênica irá substituir o Humus, a riqueza mineral e microbiológica do solo e por isso o que podemos esperar desse tipo de alimento, além das já conhecidas reações alérgicas,carcinogenia e associação com 28 tipos de doenças, é um constante decréscimo da densidade nutricional, afetando animais e seres humanos.
Todo esse engodo virá sempre endossado por algum Doutor de plantão e venal. Não se iludam. Portanto, deixem de acreditar nessas mesmas autoridades constituídas se quiserem salvar a vossa própria pele bem como o planeta.
José Luiz Moreira Garcia
Eng. Agr., M.Sc.
Instituto de Agricultura Biológica
Dezembro de 2016.
Referências
- Garcia, J.L.M. 2015. O Alto Custo de uma Sistema Agrícola Falido. Blog do I.A.B. www.institutodeagriculturabiologica.org
- Pfiffner, Lukas. 2016. Organic Agriculture promotes biodiversity, FIBL, Biodiversity, fibl.org
- Balbo Jr., Leontino. 2015. Seminário ERA, Agricultura Revitalizadora de Ecosistemas, 18 e 19 de Novembro de 2015, Centro de Convenções de Ribeirão Preto.
- Primavesi, Ana. 2003. Revisão do Conceito de Agricultura Orgânica: Conservação do Solo e seu efeito sobre a Água, Biológico, S.Paulo, v.65, n. 1/2, p. 69-73, dez. 2003.
- Garcia, J.L.M. 2015. Equilíbrio de Bases adequado e Fertilidade do Solo. Blog do I.A.B. www.institutodeagriculturabiologica.org
- Garcia, J.L.M. 2015. Alimentos Transgênicos não são iguais aos alimentos convencionais. Blog do IAB. institutodeagriculturabiologica.org
Quando eu escrevi esse artigo, a expressão FAKE NEWS ainda não tinha se popularizado.
Esse artigo da Norueguesa, é um caso típico e digno de um livro texto sobre Jornalismo. ( ou Fake Jornalismo? Fiquei na dúvida)
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