“Não conhecer a verdade ( realidade ) não o torna ignorante.
Não querer conhecer a verdade é o que o torna ignorante “
Recentemente eu fui instado a transmitir, em uma gravação de vídeo de 10 minutos, a história da Nova Revolução Verde, como eu a batizei, que está ocorrendo por todo o Brasil, em termos de agricultura e pecuária, e de forma mais evidente, nessa ultima década.
Hoje, o Brasil já utiliza métodos biológicos para fertilização dos solos, controles de pragas e de doenças em 40 milhões de hectares, segundo informação do Coordenador do Programa Nacional de Bioinsumos do MAPA ( 1 ).
Deve ser por isso que atualmente até pessoas totalmente alheias ao meio agrícola, estão se arvorando a dar opiniões não solicitadas e nem abalizadas, sobre o atual estágio em que se encontra a agricultura e a pecuária brasileira e, sendo assim, uma resposta à altura a esse pessoal desinformado, tornou-se necessária.
Para determinado tipo de pessoa, já com um discurso pronto de que o Brasil estaria se afogando nos chamados agrotóxicos, deve ser uma decepção saber que essa tendência foi revertida já há alguns anos atrás, com o advento dos inseticidas, fungicidas e nematicidas biológicos..
Eu pensava que já tinha escrito o suficiente sobre esse assunto, pois os meus artigos anteriores como Agricultura em Transição ( 2 ), Trocando seis por meia dúzia ( 3 ), Deixem que as rochas quebrem o seu silêncio ( 4 ) e When lambs becomes lions ( 5 ), já tinham abordado o que vem ocorrendo no panorama agrícola brasileiro na última década.
Mas, aparentemente, ainda tem gente que se recusa a enxergar a realidade e, portanto, foi por esse motivo que eu tive que romper a depressão, que está me consumindo por estar confinado há seis meses devido a razões obviamente eleitoreiras e, acreditem, não científicas, e dessa forma dar o troco, por assim dizer .
Sendo assim, vou ter que elaborar um pouco mais sobre esse assunto exatamente para colocar os chamados pingos nos ‘Is’.
A insatisfação com a agricultura convencional, amplamente sustentada, propagada, avalizada e “explicada” pela academia, não é nenhuma coisa nova. Essa insatisfação deu origem a diversas outras formas de se fazer agricultura. Todas elas , entretanto, com o mesmo enfoque, isto é admitindo o fato de que a academia estaria sempre certa, com a razão e ao lado da ciência, o que hoje sabemos não ser sempre o caso.
Algumas escolas, como por exemplo a agricultura orgânica, jamais conseguiram decolar em virtude mesmo de tentar fazer uma agricultura de substituição, ou seja, trocando insumos convencionais por insumos orgânicos , mas mantendo a mesma forma de raciocínio acadêmico e “científico”.
Eu comparo a agricultura orgânica a uma ave com obesidade mórbida que jamais conseguirá alçar voo, ou a um avião com excesso de carga ( representados pelos excessos de normas e exigências absurdas, incabíveis, disparatadas e desatualizadas, além do pensamento acadêmico convencional ) que se aproxima perigosamente do final da pista mas não consegue levantar voo. Não passam de gatinhos que imaginam serem leões.
Daqui há dez anos ninguém mais estará usando produtos químicos tóxicos e , portanto, não haverá mais necessidade de nenhum selo orgânico para valorizar qualquer produto agrícola.
E por mais que os praticantes desse tipo de agricultura torçam para que esse modelo dê certo, baseados única e exclusivamente em “Wishful Thinking “, as evidências nos dizem exatamente o contrário de acordo com as estatísticas do próprio FiBL (https://www.fibl.org/).
No Brasil a área plantada com agricultura orgânica não ultrapassaria os 1% da área agricultável brasileira. E no mundo, a ultima informação da própria IFOAM, falava em 1,7% da área agricultável mundial.
Na minha opinião, os primórdios dessa Nova Revolução Verde no Brasil se deu mesmo na década de 90 com o advento de preparações microbiológicas que vieram do Japão e, na época, foram introduzidas pela Fundação Mokiti Okada, chamadas de E.M.- 4 ( de Efficient Microorganisms ), um conceito desenvolvido pelo Dr Teruo Higa , então professor de Horticultura da Universidade Ryukius em Okinawa.
Nessa mesma época alguns outros novos conceitos como MicroGeo®, que contemplavam o crescimento de microrganismos, foram introduzidos no cenário nacional.
A ESALQ pesquisou e desenvolveu fungos entomopatogênicos bem como o versátil e hoje, o mais vendido no mundo, Trichoderma sp., e essa tecnologia foi repassada para a iniciativa privada ( Itaforte ). Estávamos na década de 90.
O surgimento de empresas como a Technes com produtos revolucionários como o Ribumin, fonte de substancias húmicas ( huminas, ácidos húmicos e ácidos fúlvicos ), o único produto do mercado no meu conhecimento, com a capacidade de aumentar tanto a C.T.C. quanto a C.T.A.( Capacidade de Troca de Anions ) e dessa forma “gerenciar” os anions do solo como Sulfatos, Fosfatos e Nitratos, bem como de outro produto, o Aminon, na época um hidrolisado de peixes, rico em amino ácidos importado do Japão, provando, pela primeira vez no Brasil e na prática, que as plantas são na realidade mixotróficas, e não autotróficas, conforme já tive a oportunidade de explicar anteriormente ( 6 ).
No Brasil, pensadores e pesquisadores independentes como Yoshio Tsuzuki, Ana Primavesi e Shiro Miyazaka, influenciavam as novas gerações e foram fundamentais para o estabelecimento do embrião do conhecimento que gerou toda essa revolução que somente décadas após iria surgir.
Entretanto, foi com o advento da Ferrugem Asiática da Soja (Phakopsora sp.), que o produtor brasileiro começou a empregar uma maior quantidade de fungicidas e, com isso, começou aumentar a dizimação de espécies benéficas de fungos de solo como Micorrizas Arbusculo Vesiculares (VAM), Ecto Micorrizas, Trichoderma sp, Pochonia, Paecilomyces sp. entre outros, bem como de outros fungos benéficos da filosfera.
Esse aspecto nefasto do aumento da aplicação de fungicidas fez com que aumentassem também outros problemas de solo com Fusarium sp.e nematóides fitófagos, pelo desequilíbrio causado. É bem verdade que nesse aspecto o herbicida mais usado no Brasil e no mundo. i.e. Glifosato ( Round-Up ® ) também teve a sua parcela de contribuição, já que tem atividade microbiocida (Patente US 7,771,736 B2) e mata não somente fungos mas também bacterias benéficas do solo ( 7 ) .
Muito se falou na época que, tanto a introdução da Ferrugem Asiática quanto a da famigerada lagarta do Cartucho ( Helicoverpa sp. ), teriam sido feitas por grupos estrangeiros interessados no fracasso da agricultura brasileira. A introdução da doença do cacaueiro, Vassoura-de-Bruxa, no Sul da Bahia, essa sim sabemos, foi obra de sindicalistas esquerdopatas ligados ao PT, conforme amplamente notificado na mídia e por confissões de pessoas envolvidas nesse covarde, irresponsável e inconsequente acontecimento.
Porém, se esse foi alguma vez o intento de algum grupo interessado no fracasso da nossa agricultura, o tiro saiu pela culatra, por que nem a Ferrugem Asiática e nem a Lagarta do Cartucho, conseguiram muita coisa a não ser fazer com que os agricultores acordassem para a verdadeira realidade da agricultura, isto é, quanto mais produtos químicos usados, pior para o meio ambiente, e para o custo de produção, reduzindo os seus lucros drasticamente.
A redução de custos essa sim foi a mola propulsora dessa Nova Revolução Agricola Brasileira.
Dá noite para o dia, dezenas de grupos de “ Agricultura Sustentável “ surgiram possibilitados por essas novas tecnologias de comunicação como Whatsapp, Youtube, Facebook e Telegram. Aliás foram essas tecnologias que expuseram ao ridículo a academia e seus tentáculos, representados pelos centros de pesquisa estaduais ou federais. Fizeram com que os produtores passassem a dar mais valor e a acreditar no que estavam enxergando no seu dia a dia , ao invés de ficarem escravos da Ditadura da “Evidência Científica”, assunto abordado em um dos meus artigos anteriores ( 8 ).
A eficiência agronômica tornou-se o padrão ouro nessa nova forma de se fazer agricultura.
Muita ênfase foi dado ao uso de Pós de Pedra, e nesse aspecto a pesquisa da Embrapa, por intermédio do Dr Éder Martins e seus colegas, que o precederam , ajudou e forneceu dados que possibilitaram os agricultores nesse longo caminho em direção a libertação definitiva do esquema “contábil” do NPK.
Outro gigante de todo esse processo foi o pesquisador do IAPAR, o Dr Ademir Callegari, grande promotor, incentivador e estudioso do chamado “coquetel” de plantas de cobertura que, até então, eram chamadas erroneamente de “adubos verdes”, que não só recuperam solos degradados, compactados e abusados pelo tremendo aporte de exudatos radiculares e de biomassa que possibilitam uma total e extensa reforma em toda a microbiota do solo, como também, se inteligentemente manejados, podem até dispensar ou, pelo menos, reduzir bastante o uso de herbicidas dessecantes por propiciarem uma cobertura de palhada tão grossa que impede a emergência do mato.
Após o aparecimento da lagarta do cartucho, resistente a maioria das moléculas químicas, a prática da multiplicação “On Farm “ de produtos biológicos, tornou-se uma atividade corriqueira e obrigatória nas principais fazendas produtoras de soja, milho e algodão, fazendo com que os produtores tivessem a sua atenção voltada para o fato de que existem outras maneiras de se contornar um problema de fungos e insetos, além do uso puro e simples de um resgate químico, tóxico e caro.
A empresa Agrobiológica, que contou com a minha participação nos seus primórdios, capitaneou todo esse processo de produção de agentes biológicos “On Farm “, baseada sempre em dados científicos corroborados por laboratórios de Microbiologia de universidades federais, e mesmo que depois tenha sido copiada, de um modo primário por alguns imitadores baratos, possibilitou ao produtor se libertar das amarras comerciais impostas pelo sistema de produção agrícola e com isso aumentar o seu lucro.
Essa tecnologia foi desenvolvida em estrita colaboração com agricultores de ponta, como Clodoveu Franciosi do Grupo Franciosi de Tangará da Serra, MT. e tantos outros aqui não mencionados, mas tão importantes para o estabelecimento dessa técnica.
Da noite para o dia, era possível produzir diretamente nas propriedades quaisquer tipos de agentes biológicos, desde que fossem obedecidos determinados parâmetros durante o seu processo de produção. E foi esse aspecto que nos diferenciou exatamente dos agricultores americanos, atemorizados por potenciais punições judiciais, por parte das multinacionais do veneno agrícola, que impuseram muitos agricultores americanos e canadenses a falência.
O Brasil hoje se destaca não só como o principal usuário de agentes biológicos no controle de fungos, insetos e nematóides pela via biológica como também pelo uso de solubilizadores biológicas de fósforo, potássio e na aplicação de bactérias fixadoras de nitrogênio, não só simbióticas como também as de vida livre. Nesse aspecto somos realmente um exemplo para o mundo de como fazer as coisas de forma sustentável, a baixo custo e de como produzir alimentos respeitando o meio ambiente e que, um dia, eu assim espero, tenham também maior densidade nutricional exibindo um elevado teor de Brix.
Mas isso já seria motivo para uma terceira Revolução Verde ou a Revolução Verde Nutricional, no dia que nós realmente entendermos que as plantas são, de fato, mixotróficas, dermos valor aos metabólitos microbianos, ao invés de simplesmente NPK, e finalmente verificarmos que plantas sadias são naturalmente imunes ao ataque de doenças e pragas.
José Luiz Moreira Garcia
Instituto de Agricultura Biológica
Setembro de 2020
Referências
1. Vian, Rogério ( 2020 ) Grupo GAAS, Comunicação Pessoal.
2. Garcia, J.L.M. (2020) Agricultura em Transição, Instituto de Agricultura Biológica, https://institutodeagriculturabiologica.org/2020/05/19/agricultura-em-transicao/
3. Garcia, J.L.M. (2020) Trocando Seis por Meia Dúzia, Instituto de Agricultura Biológica, https://institutodeagriculturabiologica.org/2020/03/08/trocando-seis-por-meia-duzia/
4. Garcia, J.L.M. (2020), Deixem que as Rochas Quebrem o seu Silêncio, Instituto de Agricultura Biológica, https://institutodeagriculturabiologica.org/2020/02/08/deixem-que-as-rochas-quebrem-o-seu-silencio/
5. Garcia, J.L.M. (2020) When lambs becomes Lions, Instituto de Agricultura Biológica, https://institutodeagriculturabiologica.org/2020/01/12/when-lambs-becomes-lions/
6. Garcia, J.L.M. (2020) Nem só de Minerais vivem as plantas, Instituto de Agricultura Biológica, https://institutodeagriculturabiologica.org/2020/03/02/nem-so-de-minerais-vivem-as-plantas/
7. Garcia, J.L.M. ( 2017 ) Glifosato, Instituto de Agricultura Biológica, https://institutodeagriculturabiologica.org/2017/01/19/glifosato/
8. Garcia, J.J.M. (2020) A Ditadura da “Evidência Científica”, Instituto de Agricultura Biológica, https://institutodeagriculturabiologica.org/2020/03/13/a-ditadura-da-evidencia-cientifica/
Parabéns, professor, pesquisador.
Pela visão, quebra de paradigmas. É fundamental, pra nós produtores, a pesquisa apontar as possibilidades. Entender de forma mais profunda, as plantas, o solo e a qualidade dos alimentos.
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Precisamos puxar a orelha da academia. Ela perdeu grande parte da sua importância após o advento da internet.
A Academia é uma instituição medieval que precisa ser reformada e totalmente revista.
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A academia, assim como a religião antigamente, foi cooptada pelo sistema para ser usada como ferramenta de controle. A Internet vai ser também. Temos nessas brechas de falta de regulamentação a oportunidade de avançar. Aproveitem, pois a janela vai ser fechar.
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Concordo plenamente.
A academia foi sempre usada para validar o ponto de vista das elites.
Aliás, a academia foi sempre financiada pelos monarcas.
O caso da Medicina foi emblemático. Os projetos de médicos da época convenceram a realeza
que os curandeiros (os barbeiros que faziam as sangrias, os mestres herbalistas, etc…) não tinham conhecimento
científico suficiente e portanto não poderiam mais praticar a sua arte.
Hoje a internet conseguiu tornar os acadêmicos, na maioria das vezes, ridículos, como no caso da “ciência” que recomenda
o uso de máscaras para evitar a contaminação por virus.
Se nada acontecer eles irão ” regulamentar ” a internet, mídia, etc… Aliás, já tem gente sendo presa e usando
tornozeleira eletrônica por conta disso.
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Excelente matéria, abrir os olhos de quem não quer ver, essa transição da microbiologia na agricultura em evolução
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OBRIGADO PROFESSOR POR MAIS UM POST.
FAZIA UM TEMPO QUE NAO ESCREVIA AQ NE SDDS KKK
ABRAÇO
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Estava meio deprimido com a pandemia e mais ainda por saber que tudo isso se trata de um grande esquema
para baratear empresas no Brasil para serem adquiridas pelos chineses. A aquisição já começou.
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muito bom artigo, parabens, a transição para uma agricultura natural por enquanto é uma mudança de paradigma, em minha opiniaõ, quase equivalente ao erradicar a corrupção no Brasil. Acredito que os interessess econômicos e os paradoxos da industria agroquimica e alimentícia sejam ainda enormes, mas cada um fazendo a sua parte, como diziam meus antenatos: “cuncta cat lapidem”, a tendência será melhorar
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Obrigado,
porém eu tenho informações de dentro do próprio sistema que me dizem que
dentro de 10 anos muito pouca gente estará usando insumos químicos.
O futuro da agricultura é realmente biológico.
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desculpe ficou cortada a frase em latim: cuncta cavat lapidem
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