Prof. A.F.W. Brix (1798-1890), um engenheiro alemão que viveu no século 19, foi o primeiro a medir a densidade de sucos vegetais flutuando um hidrômetro nos mesmos. A indústria de vinhos carecia de um parâmetro para saber a qualidade do vinho antes do engarrafamento e foi um grande passo poder medir os teores de sólidos da matéria-prima. Por essa razão o processo de medição de sólidos solúveis em sucos vegetais recebeu o seu nome.
Dessa forma, BRIX significa a medição da porcentagem de sólidos solúveis totais (SST) em sucos vegetais. Nada mais. Nada menos. Quando se tem um vegetal, como a cana de açúcar, onde à priori já se sabe que a maioria dos SST são compostos por sacarose pode-se relacionar o Brix a % de sacarose daquele suco.
Na verdade o Brix é composto de todos os sólidos solúveis como sacarose, frutose, dextrose, ácidos orgânicos, amino ácidos, nitratos, proteínas, vitaminas, minerais e até outros tipos de substancias como hormônios (PGR) medidos em % em um determinado suco vegetal.
Assim, o açúcar é apenas um dos diversos componentes da leitura do Brix.
O hidrômetro de Brix funcionava perfeitamente porem era um aparato meio desajeitado para uso à campo e por essa razão o método evoluiu para um dispositivo óptico que utiliza a faceta do raio de luz se defletir ou “dobrar” quando atravessa um liquido. A esse fenômeno chamamos de “refração”. Quando mais espesso é o liquido, maior a refração. Essa refração apresenta uma relação direta com a quantidade de sólidos dissolvidos e é bastante exata e precisa.
Os primeiros modelos apareceram no final do século 19 e, no início do século 20, algumas adegas já tinham modelos de mesa. Hoje os refratômetros de bolso ou de campo são modelos simples e bastante precisos e também indispensáveis em diversas atividades agrícolas como usinas de cana, vinhedos, adegas, plantações de melão, etc…
Entretanto, a introdução do uso do refratômetro de campo na agricultura para avaliação do estado nutricional das plantas pode ser atribuído a Carey Reams, que é por seus admiradores chamado de Dr. Reams ou simplesmente “Doc “.
Trabalhou como consultor na área agrícola nos idos da década de 30 até a sua morte em 1985. Sua biografia é toda envolta em mistério e menciona um curso de graduação em Química e outro de Medicina na Inglaterra nunca plenamente comprovados. Porém, o fato é que Reams se dedicou bastante ao trabalho de ajudar e curar as pessoas e chegou até a dirigir uma clínica onde consta ter curado centenas de pessoas usando a sua Teoria da Ionizacão Biológica, mas foi, por isso mesmo, bastante perseguido.
Seu trabalho na agricultura foi seguido de forma mais proeminente por Dr. Don Skow, D.M.V., Dr. A.F. Beddoe D.D.S., Dr Arden Andersen, um médico Osteopata, Dr. Phill Whealler, PhD e ultimamente por Graeme Sait da Nutri-Tech Solutions, empresa australiana e Jon Frank, do International Ag. Labs.
Mais recentemente, tivemos ainda a grande contribuição de Bruce Tainio da Tainio Technology & Technique Corp., infelizmente falecido precocemente, que também nos trouxe um novo enfoque sobre o uso do refratômetro na agricultura, embora com um esquema bem mais sofisticado que incluía também a leitura do pH da seiva da folha além das medições de Nitratos, Cálcio, Potássio e Magnésio diretamente da seiva das folhas.
A favor do método de Reams, pode-se dizer que tanto os seguidores de Bruce Tainio quanto Jon Frank, nos Estados Unidos e Grame Sait na Australia, são hoje alguns dos maiores consultores agrícolas com milhares de clientes satisfeitos em todas as partes do mundo. Os Drs. Arden Andersen e Phill Whealler são também dois consultores de renome com experiência internacional nesse método.
A maioria das tabelas de Brix até hoje existentes foram elaboradas por Reams. Ele era da opinião que as doenças tinham origem no solo que produziam alimentos de qualidade inferior ocasionando desequilíbrio no pH do sangue, pH da urina, bem como o acúmulo de amônia e carboidratos que eram medidos com métodos químicos específicos (La Motte), refratômetro e pHmetro. Segundo Reams todas as doenças seriam resultado de uma deficiência mineral.
A Teoria da Ionização Biológica é um tanto complexa e extensa para ser abordada aqui, mas Reams basicamente dizia que as plantas viviam da energia contida nos diversos minerais e nutrientes do solo e que todos os nutrientes poderiam ser divididos em duas categorias, ou seja, o que ele denominou de “Aniônicos” ou promotores de crescimento e “Catiônicos” ou promotores de reprodução. Essa nomenclatura escolhida por Reams não guarda nenhuma equivalência com a nomenclatura química e foi, por isso mesmo, motivo de muitas críticas à época.
Dessa forma, Reams classificava, por exemplo, Nitrogênio amoniacal como “Catiônico” (efeito reprodutivo) e Nitrogênio Nítrico como “Aniônico” (efeito vegetativo). De acordo com ele, quanto mais alto o Brix de uma determinada planta maior a sua qualidade com alimento e também maior a sua resistência a doenças e aos insetos.
O enfoque da “Teoria da Ionização Biológica“ é o de que os minerais, nada mas seriam do que “pacotes de energia “ além de simplesmente matéria. Na sua concepção plantas viveriam de diversas formas de energia como luz solar (fotossíntese), temperatura (calor ) e elétrons (energia elétrica), além de outras fontes menos conhecidas pelo atual conhecimento científico.
De acordo com o conhecimento atual, minerais e outros elementos se combinam para formar moléculas e assim por diante, como se fossem peças de uma grande quebra-cabeça ou “Lego” (www.lego.com) . Para, Carey Reams, os seres vivos viveriam da energia liberada quando da inteiração ou combinação desses mesmos elementos. Reams observou que os níveis de Cálcio se correlacionavam diretamente com os valores de Brix dos vegetais. Os níveis de Cálcio aumentam e diminuem de acordo com o aumento e a diminuição dos índices de Brix. Esse fato já foi observado por vários outros consultores que utilizam esse método em inúmeras outras oportunidades.
Além dos teores de Cálcio aumentarem com a elevação dos índices Brix, Reams também observou que os teores de vários outros micronutrientes também aumentavam como por exemplo os teores de Cobre, Ferro e Manganês.
O que esses fatos relatados acima representam ?
Primeiramente, esses micronutrientes são ativadores enzimáticos nos processos digestivos melhorando sensivelmente o metabolismo. São co-enzimas. Sem eles, os processos enzimáticos não se processam. Depois, tendo peso atômico mais elevado, contribuem sobremaneira para o aumento da densidade dos vegetais.
Dessa forma, o método Reams nos permite avaliar a produção não só de alimentos dotados de um maior valor nutricional (densidade nutricional) como também com maior densidade física e sobretudo com efeito de repelência a insetos e doenças, uma vez que hoje, até mesmo os representantes mais conservadores da academia, reconhecem o papel de uma boa nutrição na qualidade dos produtos agrícolas e na diminuição da incidência das doenças e das pragas ( 2 ). Uma tabela formulada por Reams pode ser visualizada nesse link:
http://transpaktrading.com/static/pdf/research/ag-chemistry/BrixCharthart.pdf
Reams, seguido por Tainio, foram os primeiros a explicar, com métodos objetivos e reproduzíveis, o tão propalado conceito de “Trofobiose” que é tão divulgado quanto é desconhecido, principalmente nos meios agroecológicos e orgânicos.
O que eu tenho observado, no caso da chamada “Teoria da Trofobiose”, objeto de artigos publicados por órgãos oficiais e até acadêmicos, é um encadeamento e uma repetição de um meme, segundo o qual uma planta estaria susceptível ao ataque de insetos devido a um suposto “acúmulo de amino ácidos e açucares redutores” e para tanto evocam uma suposta “proteólise” ou seja, uma hidrolise de proteínas. Não vi, até o momento, ninguém discutir essa teoria sob o ponto de vista bioquímico e/ou fisiológico. Simplesmente aceitaram esse meme como verdadeiro sem ao menos questioná-lo. A maioria dos artigos que divulgam essa teoria, com raríssimas exceções, estão sempre eivados de comentários desabonadores aos fertilizantes químicos, aos agrotóxicos e até mesmo ao sistema convencional de produção de alimentos, o que denota um encaminhamento politico partidário ao invés de técnico-científico desse assunto.
Para início de conversa, sabemos que açucares são tóxicos aos pulgões, o que por si só já joga por terra essa teoria. Segundo, se existem açucares sobrando, não deveriam existir amino ácidos “esperando” para serem convertidos em proteínas. O que se observa no acumulo de amino ácidos sem serem convertidos a proteínas é exatamente uma falta de energia para que essa conversão seja efetuada e os açucares são sabidamente a maior fonte dessa energia. Outra forma de dizer isso é: se as plantas são atacadas por insetos muito provavelmente elas tem Brix baixo (falta de açucares) e não Brix alto (excesso de açucares). Já com relação ao Nitrogênio, sim é verdade que NITRATOS (e não amino-ácidos ) tornam as plantas mais susceptíveis ao ataque de insetos e doenças. Repito: Nitratos, não amino-ácidos.
O que na verdade ocorre é o que já era sabido mesmo antes de Chaboussou entrar na cena agronômica, ou seja, de que “ insetos e doenças , são um sintoma de uma lavoura decadente e não a sua causa. Não é o poder do invasor que devemos temer, mas sim a condição enfraquecida da vitima” disse o Prof. William A. Albrecht, PhD bem antes de Chaboussou escrever seu único livro “Plantas doentes pelo uso de agrotóxicos”.
Na verdade insetos e doenças desempenham um papel de sanitaristas da Natureza como bem esclareceu Albrecht, Primavesi e tantos outros em diversas oportunidades. Insetos e doenças serão atraídos por plantas deficientes e carentes de determinados minerais (principalmente Cálcio) e pelo excesso de nitratos, e não pelo “excesso de amino ácidos e açucares”. Da mesma forma poderíamos dizer que os animais instintivamente preferem os alimentos com elevados teores de Brix e de elevada densidade nutricional. Esse tipo de comportamento é bastante visível entre os bovinos, mas pode ser observado em qualquer classe de animais.
No site do High Brix Gardens, é mencionado um experimento que qualquer pessoa poderá fazer com galinhas que não estiverem com muita fome. Joga-se a sua disposição milho comum e milho de pipoca e se observa que tipo as galinhas deverão comer primeiro. As galinhas preferem o milho de pipoca em função da sua maior densidade nutricional.
Esse mesmo comportamento pode ser observado com forragens cultivadas pelo sistema biológico e que tinham Brix elevado comparadas com forragens normais ou por exemplo com milho convencional versus milho transgênico. Os animais irão sempre preferir os produtos de maior densidade nutricional, quer dizer de maior teor energético, pois foram assim que os mesmos evoluíram através de milhões de anos.
Dessa forma, a medição do Brix da seiva de qualquer planta se constitui a maneira mais fácil e indireta de se medir a qualidade de um vegetal e seus status nutricional. É bem verdade que para uma avaliação melhor do status nutricional de uma planta serão necessários uma série de outras medições como pH da seiva, e teores de Nitratos, Cálcio, Potássio e Magnésio, além da Clorofila e é claro do Brix.
Entretanto, laboratórios como o International Ag Labs já efetuam uma analise que leva em consideração não só o Brix, mas também teor de Nitratos, % de Matéria Seca, Proteína, Cálcio, Fósforo, Potássio, Magnésio, Cobre, Ferro, Zinco e Manganês e atribuem um Índice de Densidade Nutricional. Dessa forma, hoje em dia, pode-se comparar dois tipos distintos de alimentos indo além dos já conhecidos rótulos de Convencional e Orgânico. Com ferramentas desse tipo podemos dizer, sem sombra de dúvidas, que o melhor produto a ser consumido é, de fato, o de Elevada Densidade Nutricional além, obviamente, da ausência de contaminantes químicos.
Comparem vocês mesmo:
- Vagem – Cultivo convencional
- http://highbrixgardens.com/pdf/Green-Beans-3.pdf?inf_contact_key=f1fb28a0b763493902169cddee8e649230ba56503b46e83542944dd5886d92da
- Vagem – Cultivo Biológico
- http://highbrixgardens.com/pdf/Green-Beans-1.pdf?inf_contact_key=e36717cfae38baba533d34ec294ce1aa9ead2c080724a5eb6ae58e49b30ce3a8
Em um futuro que eu espero não esteja muito distante, vamos ter alimentos orgânicos (isto é isentos de contaminantes químicos) aliados a uma densidade nutricional elevada, o que hoje nem sempre é observado nos produtos certificados. Esse seria o alimento ideal a ser consumido por todos aqueles que almejam ter uma alimentação que esteja a altura da nossa posição na escala evolutiva das espécies animais. Os alimentos já virão com uma analise da sua Densidade Nutricional.
A bem da verdade, é preciso que se diga que hoje, graças a contribuição das técnicas agrícolas emanadas do stablishment que dá suporte ao chamado agro-negócio, a maioria das pessoas está consumindo alimentos com um terço do valor nutricional de um alimento de verdade, vale dizer alimentos dignos de serem consumidos por insetos e pragas.
Referências
- Marschner, Horst. 2003. Mineral Nutrition of Higher Plants. Second Edition, Academic Press, 889 pgs.
- Sá, M.E. & Buzzeti, S. 1994. Importância da Adubação na Qualidade dos Produtos Agrícolas, Ícone Editora, 433 pgs.
- Acres USA. 2000. A Voice for Eco-Agriculture, vol. 30, No.7.
- Andersen, Arden A.,Ph.D. 2000. Science in Agriculture, Acres USA, 376 pgs.
- Andersen, Arden A.,Ph.D. 1989.The Anatomy of Life & Energy in Agriculture, Acres USA, 115pgs.
- Walter, Charles & C.J. Fenzau. 1996. Eco-Farm, Acres USA, 447 pgs
- Wheller, Philip A. & Ronald B. Ward.1998. The Non-Toxic Farm Handbook, Acres USA, 238 pgs.
- Zimmer, Gary.2000. The Biological Farmer, Acres USA, 352 pgs.
- Skow, D. & Walters, C. 1995. Mainline Farming for the Century 21, Acres USA, 206 pgs.
- Sait, Graeme. 2003. Nutrition Rules, Soil Therapy Pty Ltd. Eumundi, Australia, 308 pgs.
- Beddoe, A.F. 1992. Nourishment Home Grown, S & J Unlimited, Orowille, WA, 299 pgs.
- Beddoe, A.F. 2000. Biological Ionization as applied to Farm and Soi Management – Production and Health, S & J Unlimited, Orowille, WA, 205 pgs.
Parece-me que esse futuro tem algo de passado com conhecimentos cientifico comprovados.
Vislumbro um futuro onde os conhecimentos se fundem e dessa forma contribuam para uma qualidade de vida melhor, poderia dizer um Brix vegetal e animal em equilíbrio.
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Qual o refratômetro mais indicado para a análise de seiva?
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Seria o que vai de Zero a 32 graus Brix com Ajuste Automático de Temperatura. ATC se não estou enganado.
Procure evitar os de fabricação chinesa que custam muito barato. Na faixa de 200 a 300 reais vc já teria uma melhor qualidade mesmo sendo chinês.
Aqui no Brasil existem empresas que importam, vendem e dão garantia contra defeitos de fabricação.
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